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Quarta-feira, 18 de Janeiro de 2012 | 10h05 | Livros
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Desigualdades regionais: o Nordeste não é o “patinho feio”
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As origens e causas das desigualdades regionais no Brasil sempre fascinaram teóricos nordestinos por ter sido a região Nordeste, em tempos idos, a mais rica entre as demais, para em seguida, atualmente, acumular o maior número de pobres – houve evolução positiva dos indicadores sociais na última década, é verdade, especialmente no aumento da expectativa de vida, queda da mortalidade infantil, acesso ao saneamento básico e coleta de lixo, e na diminuição da taxa de analfabetismo; contudo, ainda há gritantes diferenças regionais, sobretudo em relação ao nível de renda.
Dados do IBGE e estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentados no ano passado apontam para a existência de 16,2 milhões de brasileiros (8,6% do total, metade deles com até 19 anos de idade) vivendo na miséria extrema ou com ganho mensal de até R$ 70,00. Na distribuição da miséria, o Nordeste lidera o levantamento (18,1%), ao passo que o Sul tem menos gente extremamente pobre (2,6%) – dados do Censo 2010 revelam ainda que a renda dos mais ricos (média de R$ 16.560,92 mensais) é maior que a de 40 brasileiros mais pobres (R$ 393,43).
Outro estudo do IBGE divulgado em 2011, com dados de 2005 a 2009, detectou que aproximadamente 25% de toda a geração da renda brasileira esteve concentrada em cinco municípios, que detêm 12,6% da população nacional: São Paulo (12,0%), Rio de Janeiro (5,4%), Brasília (4,1%), Curitiba (1,4%) e Belo Horizonte (1,4%). O IDH de 2011, quando ajustado à desigualdade de renda, mostra o Brasil na 97ª posição na grade do desenvolvimento, formada por 187 países, embora ocupe agora a posição de sexta economia do mundo.
Equilibrar o ganho real dos brasileiros, para elevar o nível da qualidade de vida e bem-estar social próximo ao dos países com IDH avançado, deve ser prioritário. Neste tocante, as considerações do professor-adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos Regionais, Alexandre Rands Barros, servem de importante baliza para políticos, planejadores públicos e empreendedores interessados em colaborar para reduzir as enormes desigualdades regionais do Brasil, motivo do atraso da nação ante rivais com características econômicas e grau de riqueza natural semelhantes ou até inferiores.
No estudo Desigualdades Regionais no Brasil – Natureza, causas, origens e soluções (336 páginas / Editora Campus), o professor Alexandre Barros apresenta, de modo objetivo, realístico e imparcial, os desvios ocorridos na formação econômica nacional, sobretudo os de ordem institucional, desde a colonização, passando pela chegada da Corte Portuguesa e, por fim, o recente período de industrialização, fatores cruciais no processo de ampliação e perpetuamento na diferença de oportunidades, cuja implicação maior foi a concentração do desenvolvimento brasileiro limitado basicamente às regiões Sudeste, Sul e, no final do século passado, ao Centro-Oeste.
A grande contribuição do livro do professor Alexandre Barros, contudo, é apontar os equívocos e o desperdício do dinheiro dos impostos em políticas públicas, muitas delas desprovidas de lastro na realidade factual das desigualdades, sobretudo no século passado, sem qualquer resultado prático relevante no combate às disparidades de renda regionais. Pensadores como Celso Furtado, acalantado como “eminência parda” por cientistas sociais e formuladores econômicos à esquerda e à direita, não são poupados e antigos mitos, como o da industrialização do Sul/Sudeste como elemento crucial na formação das desigualdades, são derrubados como se feitos de areia...
Para Alexandre Barros, as desigualdades regionais brasileiros decorrem, sobretudo, da incorreta aplicação de vultosas verbas dos governos federal e estaduais em políticas inadequadas, em detrimento do investimento no “capital humano” – traduzindo, na formação do cidadão–, cientificamente provado como de prioritária relevância para extirpar a falta de oportunidade: “Pessoas que vivem numa comunidade com mais capital humano tendem a ser mais produtivas e, portanto, tenham renda superior às que não vivem em tais ambientes”. Assim, “a disparidade de renda entre indivíduos educados e não-educados tonou-se muito elevada, devido à distribuição (desigual) de renda no país”.
A formação econômica regional brasileira, com investimentos distintos e de qualidade diversa na mão-de-obra, acabou por beneficiar o Sul/Sudeste, por haver nestas regiões maior disponibilidade de “capital humano” – aliás, diga-se, até hoje a educação pública nas citadas regiões tem qualidade superior à verificada no Nordeste, sendo este o fator fundamental para ampliação e perpetuamento das desigualdades nacionais.
A proposta básica do professor Alexandre Barros é melhorar a qualidade da educação onde hoje mostra-se ineficaz, como fizeram países com problemas similares aos encontrados no Brasil atualmente. Noutras palavras: a invés do governo federal tentar ensinar ao mundo como vencer a acachapante crise econômica a ameaçar a sobrevivência do Euro, por exemplo, deve buscar (com humildade) aprender com quem está vencendo, tendo como ferramenta básica a educação.
O livro do professor Alexandre Barros é, por esta via, leitura obrigatória para todos os interessados num Brasil melhor, mais justo e com renda democraticamente distribuída. É ainda importantíssimo para quem quer compreender as causas e buscar soluções para a chaga da desigualdade, que faz do Nordeste o “patinho feio” da Nação, quando, de fato, representa a maior fronteira para elevá-la ao posto de potência econômica e política mundial, competindo em pé de igualdade com as nações mais avançadas e com melhor distribuição de renda do mundo. Basta querer...

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