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Sexta-feira, 12/08/2011 | 16h54
Procuram-se procuradores atuantes
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Uma data marca o sumiço dos holofotes do Ministério Público Federal: 31/12/2002. Era o último dia do governo de Fernando Henrique Cardoso. Também, depois daquela data, escafedeu-se a sanha investigatória de procuradores da República, protagonistas de operações monumentais e de trapalhadas memoráveis.
O momento-chave da apatia do MPF, antes um órgão temido por políticos e gestores mal-intencionados, coincide com a chegada de Lula da Silva ao poder. Um procurador confidenciou que a aparente “inação” derivaria de uma espécie de mordaça branca implantada pelo comando do MPF em 2003 –diretiva interna que teria tirado dos procuradores a autonomia para abrir e presidir investigações; desde então, eles podem apenas sugerir a abertura de apurações, mas não há garantia de que seja aceita.
Fiquei a matutar com o meus botões: por que servidores públicos, por prerrogativa constitucional livres de pressões políticas, teriam engolido amarra tão escrota calados? Um outro procurador indica uma das razões: hoje, parte intrigante dos procuradores do MPF estariam envolvidos em seminários promovidos pelo governo, forma de “prestígio” que se transformou em cooptação, pois inibe alguns de atuar em casos contra o governo.
Dito isso, dá para entender porque o MPF parou no tempo e quando resolve agir se fia em informações e investigações de um órgão criado pelo presidente Lula da Silva, a Controladoria-Geral da União, que se transformou num apêndice do Partido dos Trabalhadores dentro do governo, a decidir quem precisa de controle. Pendurada na estrutura da Presidência da República, a CGU mantém fora do raio de ação figurões do PT e do governo federal.
O aparelhamento da CGU já foi motivo de atrito com a Polícia Federal. Durante as investigações da Operação Navalha, em 2007, a PF tinha receio de que informações sigilosas pudessem chegar ao conhecimento de algumas autoridades envolvidas e de que a CGU estivesse contribuindo, deliberadamente, para atrasar o desfecho do trabalho. O dado curioso é que de todas as grandes operações da PF, a CGU esteve, digamos, bastante interessada somente na... Operação Navalha.
Os procuradores do MPF sabem desses fatos. Sabem também que a CGU ignorou sumariamente escândalos ocorridos dentro do governo, na gestão do presidente Lula da Silva, a saber: caso Erenice Guerra, mafia dos Sanguessugas, Mensalão, máfia dos Vampiros, farra com cartões corporativos, desvios nos Ministérios do Turismo e da Cultura, caso Waldomiro Diniz, dossiê ilegal dos gastos de FHC e esposa, mordomias de ministros... (Para maiores detalhes, leia a edição 2201, de 26 de janeiro de 2011, da Veja: “O mau comportamento da CGU”, que começa à página 54 e está disponível gratuitamente na Edição Digital da revista).
Já não se faz mais procurador do MPF como antigamente. É uma pena, pois ao submergir, essa turma deixou de prestar um relevante serviço ao Brasil e à consolidação da democracia e das instituições brasileiras. Quantos corruptos já poderiam estar atrás das grades, não fosse o comportamento escuso e arredio desses servidores públicos a quem a Constituição Federal legou autoridade para zelar pelo bem público e pela justiça? Lamentável...