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OPINIÃO: DELEGADOS EM BUSCA DE PODER POLÍTICO – E DE UMA PENCA DE CARGOS
[*] David Leite
Vem do colega Diógenes Brayner o alerta [nesta terça-feira, 17, no FaxAju]: as eleições municipais de Aracaju terão pelo menos três delegados disputando a prefeitura. Nada foi confirmado, mas as pretensões de Daniela Garcia, Cidadania, Georlize Teles, DEM e de Paulo Márcio (ainda sem partido) estão bem expostas. Não existe vácuo na política! O interesse desses novos atores faz sentido.
O quadro de falência das instituições democráticas após as denúncias de corrupção carcomeu os partidos de centro-esquerda e centro-direita, diferentes entre si apenas por uma ou outra questão cosmética e muitas vezes só no discurso. Na esteira dessa derrocada, gente ligada às forças de segurança derrotou nomes tradicionais da política e invadiu as casas parlamentares de Brasília.
De olho em 2020, crentes de que o sistema falido que impulsionou delegados, militares e juízes aos cargos de senador e deputado em 2018 fará o mesmo serviço na eleição de outubro, Daniela Garcia, Georlize Teles e Paulo Márcio sonham em derrotar Edvaldo Nogueira, atropelando nomes tradicionais como Valadares Filho, PSB, Márcio Macedo, PT, e Emília Correia, Patriota, e também os “alternativos”, como Gilmar Carvalho e Henri Clay Andrade, ambos sem partido.
Essa turma trabalha com a possibilidade de usar sola de sapato e estratégia nas redes sociais como chaves para uma campanha barata, emulando o mesmo tipo de suposta “virtude” da eleição do hoje senador, delegado Alessandro Vieira. Aliás, na Folha de S. Paulo desta mesma terça-feira, 17, o parlamentar gaúcho confirma que enxerga a todos como otários.
A reportagem trata de como fazer campanhas baratas, com gastos racionais, a fim de reduzir o efeito do poder econômico no resultado do pleito e melhorar o processo de representação, tudo em razão do projeto da Câmara dos Deputados de destinar R$ 3,8 bilhões para o fundão eleitoral, mas que, após pressão, deve ser reduzido para R$ 2 bilhões – em 2018, foram cerca de R$ 1,7 bilhão.
Para conter uma possível expansão exacerbada do fundão, que para os novos atores da política nacional desequilibraria a disputa e desincentivaria os candidatos a arrecadarem em suas bases, figuras como Alessandro Vieira, quadro formado pelo curso privado RenovaBR, que capacita potenciais candidatos de diferentes partidos, apostam na saída de começar o trabalho cedo através da mobilização de voluntários.
À Folha de S. Paulo, o senador-delegado informou ter gasto na campanha míseros R$ 102,5 mil, quantia considerada baixa, mesmo em um estado pequeno, com 1,5 milhão de eleitores - para efeito de comparação, o gasto médio de um deputado federal eleito em 2018 foi R$ 1,1 milhão. Ele diz ter feito um trabalho baseado em divulgação de conteúdo via redes sociais, sobretudo WhatsApp, campanha de rua e aparições na mídia tradicional [rádio].
Ora bolas, santa cara de pau! Quem acompanhou a campanha de 2018 sabe que esse discurso é plenamente falacioso. Alessandro Vieira esconde que recebeu apoio da rede subterrânea que trabalhou para Jair Bolsonaro que, como sabemos, tinha estrutura financeira e tecnológica de alto nível. Quem duvida disso, deveria acompanhar os debates da CPMI das Fakes News e as tais “milícias virtuais”.
Que chances esses contendores terão na disputa contra a poderosa máquina de guerra montada estrategicamente por Edvaldo Nogueira, que inclui um cabedal de obras em vários pontos da cidade, propaganda cirúrgica nas redes socais e veículos tradicionais, e ações políticas de bastidores? É cedo para dizer, mas não creio que a confluência astral que facilitou o ingresso de Alessandro Vieira no Senado se repetirá em 2020. Essa turma terá que gastar muita sola de sapato e latim!

[*] É consultor em Marketing Político e Eleitoral.

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Originalmente publicado em http://bit.do/jlp-dmilk17dez.