REINO UNIDO:
VENCEU O “SIM”! ADEUS UNIÃO EUROPEIA
Por ser um
movimento que envolve, de modo inédito, partidos à direita e à
esquerda do Reino Unido (RU), o plebiscito vencedor do Sim pela saída
da União Europeia requer uma análise mais aprofundada, o que não
se fará aqui. Porém, pode-se colocar alguns pontos para nossa
reflexão sobre a questão.
Primeiro: mais uma
vez, os institutos de pesquisas se embolaram – ou foram ludibriados
pela opinião pública. Nenhum deles chegou sequer perto do resultado
final, bastante apertado. Todos apontavam uma vitória do Não.
Venceu o Sim.
Segundo: o
movimento à direita, composto por gente da classe média média e da
classe média alta, com boa escolaridade, criticou, majoritariamente,
a abertura de fronteiras à imigração sem barreiras de pessoas cuja
adaptação cultural nem sempre ocorre, sobretudo pela falta de
integração com a língua inglesa e pelo culto a religiões com veio
radical e de crítica ao individualismo, numa sociedade amplamente
liberal e em cujo cerne o individualismo é levado muito a sério.
Terceiro: à
esquerda ocorre algo similar na crítica à abertura de fronteiras,
mas por outro viés – os sindicatos [que representam a classe média
baixa trabalhadora e com pouca escolaridade] estão em polvorosas com
a chegada de trabalhadores estrangeiros, sobretudo do leste europeu,
que aceitam salários inferiores e não exigem as mesmas regras do
bem-estar social impostas pelos trabalhadores locais. Essa gente
chega com boa qualificação técnica e mais anos de estudo, em sua
maioria fala inglês e tem muito foco em se estabelecer no RU. Quem
se destaca negativamente são os poloneses, que costumam formar
guetos nos quais a língua é a deles e a cultura local, também.
Quarto: o sistema
de pesquisa do Google entrou em pane nos dois dias anteriores e no
dia do plebiscito em razão da pergunta “O que é União
Europeia?”. Vê-se, pois, uma demonstração clara de que a maioria
do povo estava alheia ao que era discutido amplamente na imprensa,
mas que passou ao largo tanto da campanha do Sim, quanto do Não. Os
contedores estavam mais ocupados em atacar os “inimigos” do que
em explicar o que estava em jogo e os riscos para a economia do RU
nos próximos anos. Típico da política de polarização no Brasil,
mas estranho ao habitual ambiente de discussão racional do RU.
Resultado prático:
por terem votado majoritariamente no Não, Escócia e Irlanda do
Norte devem se desgarrar de vez de Inglaterra e País de Gales,
mandando para o buraco uma aliança política e de gestão financeira
que tem quase 350 anos. O mundo não acabou, nem a União Europeia
também, ao menos por enquanto. Uma coisa é certa, no entanto: a
disputa nacionalismo x globalismo entrou de vez na discussão do
mundo, por atingir – de modo negativo – justamente a classe
trabalhadora local. Os empregos inundam os parques da Ásia, mas
sumiram para a classe média baixa da Europa e dos EUA. Os países
ricos aumentam a concentração de renda num momento economicamente
péssimo para as nações mais desenvolvidas.
Eis as questões a
se pensar…
Tudo isso foi
observado pelo economista francês Thomas Piketty em dois livros
muito polêmicos: “O Capital”, e antes em “A Economia da
Desigualdade”. Recomendo a leitura de ambos, para que se entenda o
cenário atual.
Por fim, um
adendo: o nacionalismo exacerbado confundiu o trabalhador mais velho
do RU, que viverá mais 20, 30 anos em detrimento do trabalhador mais
novo, que tem mais 50, 60 anos de expectativa de vida. Isso está
claro no resultado altamente polarizado. Sem dúvida, o populismo
venceu a razão e isso está virando praga no mundo todo,
especialmente diante da alta concentração de renda. Ricos ficando
mais ricos, pobres ficando mais pobres. Veja que a crítica do Sim
era contra as multinacionais, os grandes bancos, a abertura de
fronteiras, os especuladores... A discussão deve continuar. É isso!