A DICOTOMIA QUE ABALA ANA LÚCIA MENEZES:
ELA É SITUAÇÃO OU OPOSIÇÃO – OU NADA DISSO?
A vida parlamentar não tem sido fácil para a professora Ana Lúcia Menezes. A fundadora do PT nunca imaginou quão difícil seria ser vidraça... Hoje na Alese pude acompanhar mais um debate entre a deputada petista e o líder da oposição Venâncio Fonseca. Não entro no mérito da discussão – tratavam sobre o reajuste dos professores! Prefiro ir direto ao ponto: o maior dilema de Ana Lúcia Menezes reside na dicotomia entre a deputada representante do sindicalismo trabalhista e a deputada governista, petista de carteirinha.
A ambiguidade abala o bem-estar político da “sindicalista”, cujo partido é governo e criou a maior esculhambação ao desmontar a carreira do magistério. Não pagar o piso nacional do professor é pinto perto das perdas oriundas da falta de critérios para avançar na profissão de professor da rede pública estadual. Minha dúvida é: Ana Lúcia Menezes teria coragem de criticar o próprio partido no horário eleitoral gratuito, para atender as queixas do Sintese? O PT a deixaria proclamar-se “independente” e promover a autocrítica?
Fundado para ser um sindicato dedicado à defesa do magistério e da causa da educação, o Sintese é hoje uma sucursal dos interesses cartoriais corporativistas e espécie de comitê eleitoral de petistas enfronhados na categoria. Nunca teve papel relevante na condução do processo educacional sergipano. Almejou mudar esse quadro com a ascensão do PT ao governo. Tomou ferro! Ana Lúcia Menezes é a estrela “sindicalista” mais vistosa. Espécie de “presidenta” de honra do clube, ela determina, manda e desmanda. Nada contra, se parte dos associados concorda com a política do morde-e-sopra que a deputada pratica com desenvoltura ímpar...
A questão é: como Ana Lúcia Menezes consegue diluir conceitos tão difusos e distintos – situação e oposição? Talvez a deputada professora seja uma atriz ainda aguardando para ter seus dotes interpretativos descobertos. Talvez – e não vejo outra explicação mais plausível – utilize a categoria como massa de manobra para ajeitar seu caminho e punir desafetos. Vejamos: no ano passado, Ana Lúcia Menezes convenceu os colegas de parlamento a arquivar o reajuste de 6,7% proposto pelo governo. Alegava que era uma piada de mau gosto com os professores. Agora, com a cara mais serena do mundo, pede que a Alese aprove o reajuste de 7,8%. Como bem inquiriu mais cedo Venâncio Fonseca, “qual é o ganho”? Ana Lúcia Menezes até que tentou ser didática na explicação. Não convenceu a ninguém!
Está na cara que a Alese entrou numa esparrela cujo objetivo era ferrar a imagem pública de Marcelo Déda, autor da primeira proposta. A oposição fez seu papel... O Sintese era um “detalhe”... E agora? Ana Lúcia Menezes teria mancomunado-se com Jackson Barreto só para dar um troco ao PT? Pode até ser que não, mas ao que tudo indica, encontrou “a” oportunidade de bandear-se para o lado de quem hoje governa e não encontra muito afeto entre os aliados do governador licenciado. Esperteza? Aposto mais no “instinto de sobrevivência”, comum a todos os animais da Terra. Neste caso, uma acurada sobrevivência política...
Ana Lúcia Menezes nunca mereceu dos caciques petistas qualquer prestígio. Deputada estadual mais votada da história do PT de Sergipe em 2002, com 20.274 votos, bateu 30.021 votos em 2006. Com o PT no poder, sequer palpitou sobre educação. O eleitor ficou na dúvida sobre o protagonismo da pedagoga, e em 2010 lhe conferiu exatos 20.000 votos! Reeleger-se uma vez mais parece tarefa hercúlea, sobretudo porque o governo do PT já naufragou. A bola da vez é o PMDB de Jackson Barreto e corriola. Quem duvidar que o aguarde...
A tal dualidade de Ana Lúcia Menezes pode até causar angústia na professora deputada, petista de carteirinha. A “sindicalista” pode até sofrer e remoer-se em náuseas com tanto desprezo vindo do governo que ajudou a eleger e reeleger... Mas por enquanto, o choro da descolada política dupla-face parece apenas coisa de novela televisiva, destinada a entreter uma plateia nem sempre muito atenta ao mundo real!
Por David Leite | 10/09/2013 | 20h38