Caso César Gama
Acaba de ser autorizada pelas entidades que a subscrevem, a Nota de Repúdio e Solidariedade ao jornalista César Gama, vítima de arbitrariedade da Polícia Militar de Sergipe (veja foto abaixo; clique no arquivo para ampliar).


Caso César Gama
Representantes da imprensa sergipana pedem apoio a OAB/SE
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Na tarde desta segunda-feira, 21, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe, Carlos Augusto Monteiro Nascimento, recebeu representantes dos sindicatos dos Jornalistas e Radialistas e da Associação Sergipana de Imprensa, para discutir sobre assunto referente ao constrangimento sofrido no sábado, 19, pelo jornalista César Gama, fato amplamente divulgado no final de semana, sobretudo através das redes sociais.
No Plenário da Casa foi formada a mesa, composta pela presidente do Sindicato dos Jornalistas, Caroline Santos, pelo presidente do Sindicato dos Radialistas, Fernando Cabral, e por Cleiber Vieira, presidente da Associação Sergipana de Imprensa, além do presidente da OAB/SE e do jornalista César Gama. Inicialmente foi ouvido César Gama, que expôs a sua versão sobre o episódio no sábado.
Logo depois, o jornalista David Leite, também presente a reunião, disse ser imperativa a tomada de posição da categoria ante dois fatos, que segundo ele são de enorme implicação para o exercício legal da profissão. O primeiro seria o não reconhecimento pelo policial que abordou César Gama quanto a validade do documento de identificação profissional emitido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O segundo, o fato de, nas palavras do policial, ser o jornalista César Gama “inimigo da PM” por ter denunciado maus policiais em oportunidade passada.
Para David Leite, a afirmação abre um precedente perigoso, o de que qualquer profissional de imprensa que venha a expor atos de arbitrariedade de membros da Polícia Militar possa vir a ser considerado por alguns deles como inimigo da corporação. “Temos de agir rápido, para evitar que isso se repita. Não podemos nos calar diante de tal ameaça. Denunciar abusos de qualquer que seja a autoridade é dever do profissional da comunicação. Se não o faz, corrobora, coaduna... Isso tem de ficar bem claro”.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Caroline Santos, também condenou o fato do policial negar-se a reconhecer a validade da carteira da Fenaj. “Trata-se de um documento que identifica o jornalista, de acordo com lei específica, aprovada pelo Congresso Nacional. Ficou evidente a humilhação a César Gama quando esse apresentou seu documento de jornalista e não foi aceito pelos policiais”, disse.
Já Fernando Cabral afirmou não ser admissível que um profissional de imprensa seja tolhido no direito de informar a comunidade, sob pena de ser considerado inimigo da categoria da qual faz parte o denunciado. Por sua vez, o presidente da Associação Sergipana de Imprensa, Cleiber Vieira, relembrou a atuação de César Gama como jornalista investigativo e o “relevante serviço prestado à sociedade ao denunciar o grupo de extermínio conhecido como 'A Missão'”.

OAB apoia
Após ouvir os relatos e considerações, o presidente Carlos Augusto reafirmou que está mantendo contato com a assessoria do comando da Policia Militar de Sergipe e da Segurança Pública com vistas a travarem encontro objetivando discutir o incidente ocorrido na semana passada com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE, Cláudio Miguel. Para ele, os fatos se assemelham pelas circunstâncias que demonstram despreparo dos policiais na hora da abordagem. “É preciso rever o modo como essas abordagens são feitas, pois estão confundindo pessoas de bem com marginais, sendo esse um fato que hoje transmite insegurança à sociedade”, disse.
Carlos Augusto convidou os representantes da imprensa para participarem do encontro a ser agendado com o comando da PM e da SSP para tratar do caso de Cláudio Miguel. “Faremos questão de também levar a essas autoridades o caso do jornalista César Gama, porque os cidadãos sergipanos não podem ficar à mercê de policiais mal preparados”, ressaltou.
Caroline Santos afirmou ainda ser preciso refletir as práticas dos agentes públicos e por isso, “nada melhor do que contar com o apoio da OAB, para discutirmos e desenvolvermos um diálogo, uma reflexão junto à sociedade desse momento em que estamos vivendo, com homens de bem sendo aviltados nos seus direitos, fazendo com que se tenha medo da polícia”.
Ao final do encontro, que também contou com a participação de diversos jornalistas, radialistas e da advogada do jornalista César Gama, Ana Cecília Cacho, ficou definido que o grupo representado pelos sindicatos e pela associação irá emitir uma nota de repúdio, para que o fato seja de conhecimento de toda sociedade sergipana. Também será organizado, com o apoio da OAB/SE, um seminário envolvendo imprensa, sociedade civil organizada e agentes públicos, a fim de discutir a segurança pública e o seu papel no Estado.


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Domingo, 20 de Maio de 2012 | 17h00 | Polícia
Quem são os terroristas da Polícia Militar – a banda podre da corporação?

Trecho de “No caminho com Maiakóvski”, do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, recita o velho adágio. Apesar da truculenta arbitrariedade, o caso a envolver o conselheiro e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/Sergipe, o cantor e compositor Cláudio Miguel Menezes de Oliveira, sugeriu-me excesso descabido dos policiais militares, alto despreparo profissional e, talvez, até uma ponta de ressentimento – pensava eu, contudo, tratar-se de fato isolado, passível de severa punição, certamente; mas apenas isso: “um fato isolado!”
Na sequência, o episódio coator contra o jornalista César Gama... Apesar de também eivado de descabida prepotência e ressentimentos confessos – ainda no bojo das denúncias feitas por ele há quase 20 anos, expondo a comprovada existência na Polícia Militar do esquadrão da morte denominado “A Missão”, responsável por inúmeras mortes de bandidos e inocentes –, de forma idêntica, achei que seria mais “um fato isolado”, sem maiores consequências para a categoria profissional.
Ocorre que hoje, ao acompanhar a repercussão desses terríveis fatos nas redes sociais e sítios noticiosos – aliás, de forma geral, a vilania dos policiais em ambos os casos foi veementemente condenada pela maioria da sociedade em vários comentários –, deparo-me com a mais intrigante “informação”, publicada em meio ao comentário de alguém supostamente denominado “Soldado Oliveira”, em alusão ao ocorrido com César Gama.
Antes de tomar o texto (http://www.infonet.com.br/cidade/ler.asp?id=128412&pagina=1reprodução abaixo; clique na imagem para ampliar) como verdade verdadeira, convém relembrar as palavras no início deste escrito...
À parte o virulento ataque do tal “Soldado Oliveira” à língua portuguesa, a solidariedade com os “companheiros, em especial cabo Correia, por ter prendido o marginal da imprensa”, merece considerações, por conter inverdade caluniosa. César Gama tem, todos sabemos, uma corajosa história de combate ao autoritarismo, ao banditismo e ao maucaratismo, motivo pelo qual angariou inimigos nefandos, sobretudo no âmbito das Polícias Civil e Militar, razão pela qual foi autorizado a portar arma, a fim de defender-se – direito assegurado pela Constituição.

O jornalista possui ainda um currículo invejável, com sólida formação em biologia e filosofia, além de militar como psicanalista terapeuta e ser um pesquisador respeitado. Não é, portanto, um “marginal da imprensa”. Ao contrário, é caçador de marginais, inclusive – e talvez daí a má querência – de bandidos fardados. César Gama, contudo, foi definido pelo cabo Correia, em tom acusatório e sem o mínimo constrangimento, de ser “inimigo da Polícia Militar”.
Somos todos, então, aqueles que se ressentem das evidentes e abusivas arbitrariedades, inimigos da Polícia Militar. Mas de qual Polícia Militar? Da que não se respeita e não respeita, da que espanca e mata, da que sugere “prender autoridades todo dia, para forçar o governo da tranca do Marcelo HITLER Chagas a nos dar tíquete alimentação, carga horária de 30 horas, terço aos 25 anos, adicional noturno, adicional de qualificação, isonomia com a Polícia Civil.”
Quem será na verdade o tal “Soldado Oliveira”, esse terrorista? Será mesmo um policial ou apenas mais um outro marginal disfarçado de policial, pronto a radicalizar? Alguém que diz “Temos que atingir a jugular do ditador (Marcelo Déda) com essas prisões de VIPs” precisa ser seriamente investigado. Os bons policiais militares de Sergipe, certamente, não concordam com os “companheiros das associações unidas por mais essa brilhante ideia”. Que ideia...
Sendo verdade o que disse esse fundamentalista nominado “Soldado Oliveira”, a coisa toda muda de figura. Haveria de fato uma ação terrorista orquestrada para desestabilizar a cadeia de comando e forçar o governo a atender a agenda de reivindicações das “associações unidas” da Polícia Militar? Quem comandaria esse núcleo? De onde realiza suas operações e sob que circunstâncias? O comandante da PM, coronel Maurício Iunes, pretende se pronunciar? O governador Marcelo Déda vai reagir?
Por tantas demandas, decidi que ficar calado seria cooptar – algo que não é do meu feitio. Até porque, pelo que sugere o “Soldado Oliveira”, podemos nós, também, ser desafetos passíveis de detenção arbitrária (ou coisa pior), bastando ter à frente um policial militar aloprado.