EDUCAR PARA NÃO PRECISAR PUNIR --É SIMPLES!
O Brasil é um país cruel com os mais pobres. Se a pessoa é negra, tanto pior. Os números são claros neste tocante: segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) sobre racismo no Brasil divulgado dia 17 deste mês, a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que um branco; como resultado, a expectativa de vida de um homem brasileiro negro é menos que a metade de um branco. Na raiz do problema, a questão da educação. O país busca pelas políticas afirmativas --as famigeradas cotas raciais!-- resolver a situação. Não vai dar certo...
Sou um otimista inveterado. Acredito na educação como elemento de transformação social e moral, especialmente a pública (estudei em escolas públicas e apenas a minha especialização fiz em uma universidade norte-americana, com bolsa custeada). Mas inclusão social só funciona se for completada pela capacitação que prepare para a vida profissional e garanta emprego bem remunerado. Sem oportunidade de ascender socialmente, o moral do jovem pobre (e negro) se esvai. A baixa autoestima acaba compensada pela revolta contra a sociedade, um dos mais relevantes motivos para o assustador aumento da violência, especialmente entre os adolescentes. A discussão da revisão, a menor, da maioridade penal ressurge forte (93% da população a favor) justamente por causa disso.
O baixo nível da educação no Brasil não ocorre pela falta de dinheiro, mas de boa gestão e oportunidades. Num comparativo com outras nações, o patamar atual de investimento (5,8% do PIB) é proporcionalmente próximo do observado nos EUA e na Alemanha, e supera os do Japão, China e até da Coreia do Sul. O país carece é de ousadia e de planejamento visando a atender demandas estratégicas --se faltam médicos, formemos milhares deles; o mesmo para engenheiros! Revolucionar a educação corresponde a remunerar os professores por desempenho e deixar de designar diretores e supervisores escolares por interesses políticos; equipar as escolas com laboratório, biblioteca, gabinete médico e odontológico, serviços de aconselhamento psicológico e constante investimento em artes: música, teatro, pintura, dança, folclore, artesanato etc.
Além dessas medidas, a escola precisa ser um farol para as comunidades onde estão inseridas. Abri-las para receber grupos de pais para a prática de atividades esportivas e recreativas, cursos de alfabetização e profissionalizantes (corte e costura, crochê, renda etc). Cada unidade deve ser instada a promover concursos (poesia, olimpíadas, artes etc), não apenas para o alunato, mas para envolver amigos e parentes dos alunos. O propósito da educação é preparar o indivíduo para as responsabilidades da cidadania. Escola e comunidades juntas equivalem por altíssimos investimentos em políticas de efeitos duvidosos e que, ao fim e ao cabo, provaram-se inúteis para evitar que tantos brasileiros ainda estejam na pobreza.
Muito do que aqui foi dito é de simples aplicação e retorno relativamente rápido. A Coreia do Sul apostou nisso e hoje é um sucesso de meritocracia social e desenvolvimento econômico --o país concorre com os mais ricos do mundo e tem sido competente na guerra comercial e de talentos intelectuais. O Brasil pode dar melhores exemplos para o mundo do que apenas o futebol, as mulheres bonitas e as paisagens de tirar o fôlego dos turistas. Precisamos crescer como nação. É preciso acabar com a matança dos nossos jovens. Educar é o princípio básico que vai evitar punir no futuro. Uma lição tão antiga, mas ainda não muito bem assimilada por nossos líderes políticos e, lamentavelmente, pela própria sociedade, que segue enganada por políticas públicas embromadoras...
Por David Leite | 20/10 às 19h55 (Horário de Brasília)