E.Zine 04/05 N56

DUAS CARAS Pela enésima vez Sua Majestade viajou além das divisas sergipanas - ao todo, em quatro meses de governo, ficou apenas uns 20 dias no estado. Agora esteve visitando organismos financeiros internacionais nos Estados Unidos. Sondou convênios de projetos em andamento, discutiu as possibilidades de empréstimos para realizá-los e aproveitou também para apresentar algumas idéias para novos projetos. Foi muito bem recebido, como manda a praxe americana. Na cantilena da "herança maldita", usada como desculpa para justificar os cem dias sem nada, Sua Majestade em pessoa, ou através de porta-vozes e dos membros do Adulatório Real infiltrados na imprensa, cantou miséria: o estado estava quebrado; não havia dinheiro nos cofres públicos nem para um cafezinho; a Deso devia até os olhos da cara; a Orla de Atalaia custava uma fortuna para ser mantida; o helicóptero da SSP e do Samu valia seu peso em ouro... Assim, diante do caos, a população acabara de se livrar de um governo que não governava, um governo perdulário e sem visão, para entrar numa nova era: o Sergipe Novo vermelho. Já nos Esteites... Lá Sergipe virou o estado com a melhor capacidade de endividamento do Brasil. Os indicadores sociais saltaram de tal maneira que agora o estado tem a melhor qualidade de vida do Nordeste. Lá nos Esteites, Sergipe repentinamente passou a ser o estado com a melhor renda per capita nordestina... Também, miraculosamente, apareceram dezenas de projetos de grande alcance social, como o de substituição de casas de taipa por alvenaria, o que leva água a todos os lares, o que financia pequenos empreendimentos comunitários e até um que cria no alto sertão uma área destinada ao cultivo irrigado de frutas. Enfim, Sergipe, com os vermelhos, passou a ser um estado plenamente viável. Assim dito, parece que estamos diante de um impasse. Em qual das faces de Sua Majestade deve o respeitável público depositar confiança: a daqui ou a da lá? Qual dos príncipes fala a verdade: o que acusa o ex-governo de ter-lhe deixado um herança maldita ou aquele que diante de sorridentes americanos decantou em prosa e verso a viabilidade do estado que garbosamente dirige? Ao povo o veredicto... PS: Os projetos apresentados em Washington por Sua Majestade foram elaborados pelo ex-governo. Alguns tiveram solução de continuidade, por conta do pacote de perseguições do compadre-salvador da Pátria contra o estado, que impediu a assinatura de financiamentos e barrou a entrada de verba da ONU (R$ 1 bilhão a fundo perdido). Outros tiveram sua atuação diminuída, pois passaram a ser custeados exclusivamente com recursos do governo estadual.

E.Zine 03/05 N55

INCOMPETÊNCIA ADMITIDA O líder do novo governo na Assembléia Legislativa, deputado Francisco Gualberto, meteu ontem os pés pelas mãos ao tentar dar alguma explicação razoável para os eventos recentes no âmbito da Segurança Pública. E não poderia ter sido mais desastrado: admitiu com todas as letras ser "um problema cujo grau de complexidade é muito grande... São problemas estruturais". Quando era oposição, Gualberto cobrava do ex-governo resultados rápidos quanto a casos pontuais envolvendo a SSP, especialmente nos crimes de grande repercussão. Agora, encurralado pela inépcia e falta de traquejo gerencial do governo que defende, e acima de tudo pelo agravo significativo dos delitos de todos os tipos noticiados diariamente, o deputado barbudo entregou os pontos: a tarefa de lidar com a segurança pública é algo tão complexo que está deixando os companheiros vermelhos em polvorosas. Pela atual crise Gualberto culpa os governos passados, "que criaram essa situação de penúria no setor". E por isso, Sua Majestade "vem enfrentando grandes dificuldades para colocar as coisas em ordem". Interessante! O príncipe enfrentando dificuldades para administrar? Isto é novidade... No seu rosário de lamentações, Gualberto também encontrou outros culpados para a inapetência administrativa dos vermelhos: "... todo mundo está vendo, as emissoras de rádio e televisão nunca tinham divulgado tanta notícia de violência como agora. Até parece que tem alguém querendo desestabilizar o governo Déda". Será, deputado? A imprensa estaria inventando as ocorrências, algumas fartamente documentadas, só para perturbar o ócio laborioso de Sua Majestade? A acusação é grave. Teria Gualberto esquecido que usou essa mesma imprensa para cobrar do ex-governo, tanto quanto tem sido cobrado agora? Ou para uns é válido o papel fiscalizador dos meios de comunicação e para outros, iluminados pelo Divino, não? Mas, convenhamos, diante do caos instalado nos últimos 120 dias, e também em função da triste derrota do novo governo na luta contra a criminalidade, só restava mesmo ao deputado vermelho solicitar o urinol e sair de fininho. E o fez com categoria: "Nós não podemos mentir para a sociedade, dizendo que vamos resolver o problema em dois ou três meses. O governo terá que ter tempo e criar as condições, pelo menos para que a tranqüilidade possa ser a maior possível...". Ah bom, o príncipe quer um tempo para ajeitar as coisas? Sim, Ele merece... Senhoras e senhores, o deputado Gualberto até tentou. Contudo, ao buscar no alheio os culpados pela própria incompetência, choramingando lamúrias de neófito marinheiro, abusou da paciência e da boa vontade do respeitável público. Conseguiu somente referendar a ânsia desmedida, e já pública, dos desnutridos de projetos de governo que ele representa. Melhor teria sido ficar num canto calado, ouvindo as queixas, anotando tudo, para depois, se fosse o caso, encaminhar as providências. Assim, Gualberto daria uma contribuição verdadeiramente pró-ativa ao principado de Sua Majestade, porquanto ao contrário do que este apregoava nos palanques, "não está sendo fácil, não está sendo fácil" gerir a "complexa" máquina administrativa estadual. Normal... É o típico aperreio dos despreparados diante de tarefas homéricas. Chá de camomila com cidreira sem açúcar para o nobre deputado vermelho, por favor!

E.Zine 02/05 N54

ANJOS E DEMÔNIOS O crime de Monte Alegre elevou Sergipe a destaque nacional. Matérias no Fantástico, Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Record, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil... Foram tantas, ilustrando não propriamente o assassinato de duas meninas no alto-sertão, mas a indignação de uma população atormentada pela violência extrema, fora do eixo Rio-Sampa. O Brasil real existe fora do Sudeste, afinal! O autor dos disparos fatais, um garoto de 17 anos, já havia sido preso pela polícia por porte ilegal de arma, por furto e também por envolvimento com brigas. Em todas as situações foi liberado, sem nunca, no entanto, passar pelo crivo dos especialistas em menores conflitados com a lei. Para ele não existiu tentativa de socialização ou punição. Seguiu livre seu próprio arbítrio. Os sergipanos estão indignados não apenas pela violência do ato em si, ainda mais quando praticado por um menor infrator com largo prontuário. Menos ainda pela ineficiência e descaso da polícia, do mediador ou do serviço médico de emergência. Nada disso! Os sergipanos estão muito tristes e indignados, pois agora o País inteiro acha que aqui salva-se primeiro o demônio, depois os anjos. Ao exigir uma ambulância para si, após ter atirado para matar em três pessoas, ferindo mortalmente duas, o menor-demônio ratifica o quanto a vida (alheia) vale para quem nada tem a perder. Ele seguiu na ambulância do Samu escoltado pelos policiais. As vítimas contaram com o beneplácito do povão. E o debate sobre a maioridade penal se acirra: a humanidade historicamente sempre se mostrou mais inclinada a punir com a morte, cadeia ou a simples exclusão do que a educar. Agora, recebe o troco! Somos culpados pelos eventos de Monte Alegre. O novo governo porque ainda não se tocou que é governo e se debate para equacionar a matemática de lidar com a máquina pública no dia a dia. A Justiça porque não promove o resgate social esperado e não pune com o rigor devido quem se contrapõe à lei. A sociedade porque se indigna quando fatos assim ocorrem, mas daqui a pouco esquece tudo, deixando de cobrar e de trazer para si a responsabilidade pelo seu destino (futuro). A lembrança pela dor da tragédia perdura para sempre apenas nas entranhas das famílias vitimadas. As verdadeiras e únicas punidas. É o sinal dos tempos...

SUCESSÃO EM MARCHA Os institutos de pesquisa de Sergipe e de outros estados vêm realizando aferições, sugerindo o posicionamento de algumas candidaturas e do quadro geral dos partidos para 2008. Claro, o primeiro ponto de especulação é quanto aos prováveis candidatos. Além do prefeito comunista Edvaldo Nogueira, outros nomes dos vermelhos surgem. O da estrela sem emprego José Eduardo Dutra e de Rogério Carvalho - este seria a "cara do chefe" e, portanto, o preferido de Sua Majestade. Fala-se ainda na professora-secretária Ana Lúcia Menezes, mas a mulher está meio queimada. Os verdes falam de Maria do Carmo Alves, de José Carlos Machado e até do ex-mandatário João Alves Filho - pessoas próximas dele ouvem sempre um "Deus me livre!" quando o assunto é a Prefeitura de Aracaju. Os furta-cores trabalham com João Fontes e Almeida Lima. Os sem-cor com Fabiano Oliveira, e por aí vai... No caso de Nogueira, a campanha já começou firme. Desde o início do ano, sua Secretaria de Comunicação imprime um ritmo avassalador de anúncios na mídia, "vendendo" a administração do comunista como operosa, dinâmica e atuante. Pode até ter usado empresas ligadas à PMA - construtoras e concessionárias de serviços públicos como lixo e transporte - para enaltecer o primeiro aniversário de Nogueira na prefeitura em uma grande campanha com outdoors. A empreitada foi tão ostensiva que está sendo analisada pelo Ministério Público estadual.Por outro lado, Nogueira prepara botes longe de olhos curiosos e com alvos mais certeiros. A lista dos isentos do IPTU, por exemplo, cresceu imensamente desde o imbróglio de Sua Majestade quando foi prefeito com sofás e eletrodomésticos confiscados dos pobres que não pagavam o imposto. Como ocorreu em anos anteriores, este ano também receberam da PMA correspondências confirmando a isenção. O curioso é que uma nova correspondência foi postada dias depois, desta vez informando sobre a isenção já para 2008. Ou seja, com um ano de antecedência, o zeloso prefeito comunista quer deixar fria a cabeça de quem tem o dinheirinho contado para as despesas. Uma jogada inteligente... O prefeito comunista também investe na juventude. Basta ver o sem-número de eventos ligados aos teens e aos pós-teens patrocinados com recursos do Erário municipal. Nogueira sabe o potencial dessa gente na hora de uma campanha acirrada, como a que se avizinha - é mão de obra amigável, disposta a trabalhar apenas pelo básico: lanche, folia, a galera... O PT trabalha por eliminação. Como possui vários nomes para apostar e muita, muita fome de poder, buscará o momento certo para dar um chega para lá em Nogueira e indicar um candidato "com chances de vitória". A cantilena do príncipe quanto a ser o prefeito comunista o preferido dele, serve apenas para acalmar momentaneamente certos "esfomeados" por quem ele nutre simpatia. Não obstante todos saberem ser Nogueira apenas uma sombra: quem manda mesmo é Sua Majestade. Os verdes têm clara noção sobre o potencial eleitoral de nomes como Maria e João - não podem dizer o mesmo de Mendonça Prado, de José Carlos Machado, de Max Andrade. As pesquisas apontam o nome do ex-mandatário nas primeiras posições, mas será que JAF tem esse cabedal em Aracaju ou seria apenas reflexo de um desconforto temporário da população com os vermelhos? Íntimos do ex-mandatário lembram que nas últimas eleições a classe média manteve estreita ligação com seus pleitos políticos e por isso acreditam poder destronar os vermelhos da PMA, após quase 30 anos de sucessivas administrações. A ponderação não é de todo estapafúrdia, porém é, por enquanto, apenas um desejo. João Fontes, Almeida Lima e Fabiano Oliveira trafegam por vias tortuosas. JF não obteve o êxito que esperava na campanha passada, quando ficou bem aquém do opositor ferrenho, como ele se apresentava. Busca o quinhão que amealhou para tentar curar a ressaca. Almeidinha tem estirpe e estofo, pois já foi prefeito e não fez feio. Mas, suas últimas patadas políticas indicam um sujeito sem rumo. Talvez, reencontrando suas origens, seja acometido de um pouco de bom senso e possa apresentar-se como candidato sério. A tarefa é hercúlea. Cabeção é um nome "novo". Foi deputado, esteve candidato a vice-governador na eleição passada, tem boas idéias, é dinâmico, mas carece de envergadura partidária. Seu PSDB é uma colcha de retalhos "comandada" por um político antigo e taciturno, Albano Franco. Fica difícil pegar carreira, quanto mais decolar com um partido assim. É por essas e outras que a campanha começou. Aos poucos passa a adornar as rodas, onde se conversa sobre tudo. Por enquanto, porém, somente Edvaldo Nogueira mostrou que segue a risca o ditado do piadista José Simão: "Pra frente, nego, porque quem fica parado é poste"!

E.Zine 30/04 N53

BOM ASSIM... A semana começou profícua. Talvez, ensejados pelo feriadão, os lisonjeadores de sua majestade preferiram o ócio risonho. O adulatório Real está comemorando o Dia do Trabalho. E ei-lo lá a falar de tudo, menos das ratadas do novo governo. Assunto chato, sem motivação, sem interesse... Falou-se do rio, do mar, da chuva, da ditadura, dos homens-partido, do querer-sem-fim e até dos nossos poetas! Ninguém comentou uma única linha sobre os valores resguardados nos cofres estaduais no quadrimestre: cerca de R$ 200 milhões. Ninguém questionou se a grana está guardada para este ou aquele ofício. Também não se viu ou ouviu reclame pela aplicação de volume tão portentoso em qualquer projeto imaginado - se há! - pelos vermelhos. Silêncio, Sua Majestade precisa de concentração! Em Nova Iorque. Fazendo umas continhas rápidas, o soberano príncipe ficou no estado apenas 20 dos quase 120 dias de governo. As escapadas tiveram motivos variados. Umas serviram para o descanso, outras para encontrar o compadre-salvador da Pátria, outras foram usadas para tentar encaixar lá em Brasília amigos desempregados, outra para comemorar o aniversário do partido criador do mensalão, outra para receber uma medalha, outra para... Mas isso não importa. Importa o caixa rechonchudo. Os servidores públicos tiveram 2,9% de aumento. "Era o possível", segundo o secretário (Fazenda) Nilson Lima - o Dieese diz que o estado pode arcar com até 15%. O Funaserp se arrasta desde o tempo de Albano Franco. O ex-governo pagou integralmente 50%. Sua majestade prometeu pagar o restante. Segundo ele mesmo diz, não assegurou nem como nem quando... Mas já anunciou: os servidores vão receber o valor parcelado até 2009. E o cofre continua cheio, gordo! Os vermelhos mandaram comprar 50 toneladas de camarão (em pleno defeso), 12 toneladas de amendoim cozido, 4,8 milhões de saquinhos de chá, perfazendo a despesinha um total de R$ 1,5 milhão. Esbanjam de um lado, falta o básico no outro. Os alunos das escolas públicas reclamam da queda na qualidade da comida servida. Policiais reclamam da qualidade do almoço, do jantar, da meranda... E pasmem, até os presidiários estão reclamando da comida. Como explicar a fartura? Bom seria Sua Majestade, ao retornar do roteiro estafante aos Esteites (que o fez perder alguns gramas), possa sentar com esse povo escolhido por ele a dedo para tocar a máquina estadual e dizer bem claramente, ao microfone se preferir: "Gente, o governo do Negão acabou! Vamos - eu disse - vamos trabalhar!". Talvez, com a graça dos Céus, alguém (!) finalmente escute e começe...