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Sábado, 24 de Abril de 2010 – 22h00

> Haja choro / Ibope manipulou pesquisa em benefício de Marcelo Déda

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Haja choro

Ibope manipulou pesquisa em benefício de Marcelo Déda

Pesquisas de opinião baseiam-se na Matemática, uma ciência exata. Quando fundadas em números absolutamente reais –ou seja, que reflitam a realidade do universo (comunidade) a ser pesquisado, tornam-se instrumentos bastante úteis ao eleitor para compreensão do cenário político.

Aferição do Ibope divulgada semana passada apontou Marcelo Déda com 49% da preferência do eleitorado de Aracaju, enquanto João Alves Filho teria 31%. Diferença de 18 pontos porcentuais, portanto. Já no primeiro instante, os democratas discordaram dos números –curiosamente, o ex-governador manteve-se calado. A imprensa paraestatal tratou a queixa com cínica ironia: faltaria ao DEM “naturalidade democrática” para acatar o resultado desfavorável.

Não satisfeito, o Democratas resolveu analisar o relatório do Ibope. Concluiu ter sido a amostra da pesquisa “tendenciosamente favorável ao governador Marcelo Déda, com as cotas por grau de instrução contraditoriamente definindo um universo populacional de altíssimo nível de escolaridade, típico da Dinamarca ou Escandinávia, em oposição à realidade observada em uma capital nordestina do Brasil”, conforme disse um advogado da agremiação.

Uma perguntinha disparada nos questionários teria denunciado a gritante farsa. O Ibope indagou em quem o eleitor havia votado para governador de Sergipe em 2006. Marcelo Déda obteve 56% das respostas, contra 20% de João Alves Filho. Na verdade, de acordo o TRE, a diferença de votos entre os dois candidatos naquela eleição foi de menos de 10%.

Como explicar então os 26% a mais para o governador nas respostas ao Ibope? Simples! A metodologia empregada teria sido descaradamente manipulada para formar uma amostra composta por mais eleitores do candidato petista, a fim de favorecer Marcelo Déda, não obstante a clara dissonância com o resultado oficial da eleição de 2006 em Aracaju.

Fontes do Democratas acreditam ter o Ibope ignorado propositalmente os dados primários do IBGE (e TSE/TRE) com o fito de espertamente criar o “erro” sistemático, através do qual surgiram os fabulosos resultados. O deputado federal José Carlos Machado, em entrevista a Gilmar Carvalho na segunda-feira, disse duvidar que outro grande instituto confirme a pesquisa do Ibope...

Segundo o TRE, considerando o grau de instrução dos eleitores, Aracaju teria hoje 2,47% de analfabetos; 8,58% sabendo apenas ler e escrever; 32,62% com 1º grau incompleto; 6,15% com 1º Grau completo; 20,42% com 2º grau incompleto; 17,92% com 2º grau completo; 5,27% com nível superior incompleto; e somente 6,58% com nível superior completo –dados de dezembro de 2009.

Certamente, o Ibope –e muito menos o governo– contava com uma investigação minuciosa do relatório, onde a fraude foi facilmente constatada, sendo o fato mais gritante o porcentual de 33% de eleitores com nível de instrução até o ensino fundamental completo (analfabetos + quem apenas lê e escreve + quem está entre a 1ª e 8ª série do ensino fundamental), quando pelo TRE este universo seria de 49,82%. Redução de 16,82% do total de eleitores nesta faixa.

Vale lembrar, no momento de realização da pesquisa, Aracaju ainda não sofria com os terríveis efeitos da chuva, que deixou quase 1.800 desabrigados. Outros eram os tormentos a salopar danosamente a imagem de Marcelo Déda justamente na população menos letrada (ou entre os mais pobres, se preferir): o caos na Saúde, a crescente violência na Zona Norte, a Educação capengando...

Em contrapartida, o Ibope ouviu um universo de 22% de eleitores com nível de instrução superior (completo e incompleto), contra os 11,85% efetivamente registrados nesta faixa nos cartórios do TSE/TRE –elevação de exatos 100%. Tamanha distorção, com Aracaju registrando um elevado número dos seus eleitores com curso superior, leva a crer que o Ibope talvez tenha se inspirado em dados do TRE de Estocolmo na Suécia para fazer a dita pesquisa.

Como a mentira tem pernas anãs, a festa dos bajuladores oficiais aboletados na imprensa, comemorando a delirante pesquisa do Ibope, deve morrer hoje e aqui. Legislando em causa própria, com receio de perder a boquinha dos gordos cargos comissionados, jornalistas e radialistas de aluguel –e a corriola adesista encravada na máquina estadual– devem agora baixar a bola. Haja choro...

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Quinta-feira, 22 de Abril de 2010 – 17h00

> Incapaz de gerenciar a Saúde, governo Marcelo Déda definha

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Incapaz de gerenciar a Saúde,

governo Marcelo Déda definha

Mais uma derrota para o “novo modelo gerencial” (vide escrito anterior) implantado pelo governador Marcelo Déda na Saúde. Como o setor funciona hoje somente através de decisões judiciais, acatando solicitação do Ministério Público Estadual, a Justiça determinou o retorno dentro de 45 dias do serviço de UTI Materna da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes.

Na verdade, esta é a segunda intervenção da Justiça na nova maternidade, via ação patrocinada pelo MPE. Anteriormente, a Justiça obrigou o governo Marcelo Déda a colocar em operação a própria casa de partos especiais, após quase onze meses de ansiosa espera pela abertura, apesar de totalmente pronta.

Aliás, nas primeiras semanas de funcionamento da nova maternidade, como se para provocar o MPE, o governador deu ordem para fechar a Maternidade Hildete Falcão. Resultado: superlotação da Nossa Senhora de Lourdes, cuja missão precípua seria atender partos de alto risco e não toda a demanda de partos normais nem o atendimento hospitalar pediátrico.

Não demorou muito, novamente por intervenção do MPE, o governo foi obrigado a reabrir a Hildete Falcão. A maternidade foi então transformada pelo secretário doutor Rogério Carvalho em apêndice pediátrico do Hospital João Alves, cujo anexo (Hospital Infantil José Machado de Souza) teve a estrutura modificada para funcionar como pronto-socorro provisório.

Foi quando, mais uma vez por decisão da Justiça, o governo se viu obrigado a restabelecer a estrutura anterior do hospital infantil, construído no governo João Alves Filho para atender exclusivamente crianças e adolescentes.

Agora, após semanas de negociações, a escala de trabalho do Hospital João Alves foi finalmente completada pelo MPE, depois da rebelião dos médicos diante da calamitosa insensatez da direção, que chegou a denunciá-los à polícia.

A questão a ser colocada é a seguinte: se o governo Marcelo Déda provou ser incapaz de gerenciar a Saúde, sobretudo o Hospital João Alves –praticamente sob intervenção do MPE, como poderá fazê-lo nas demais unidades e mesmo no Hospital Cirurgia, recentemente anexado ao portfólio do governo?

Antes que mais mortes ocorram por falta de competência (básica), talvez fosse o caso de a Justiça assumir formalmente a gestão da Saúde pública de Sergipe.

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O lado bomObservando pela ótica do eterno otimista, acho até que uma intervenção da Justiça na Saúde estadual seria benéfica para a candidatura de Marcelo Déda à reeleição. Livre de um problemão, o governador ficaria isento das desgastantes cobranças da população –e sobretudo as da oposição!

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Segunda-feira, 19 de Abril de 2010 – 14h00

> Seria Doutor Rogério Carvalho um autista?

> O cortejador Carlos Brito

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Seria Doutor Rogério Carvalho um autista?

Bastante esclarecedora a entrevista concedida pelo deputado Rogério Carvalho à edição domingueira do Jornal da Cidade. Ao tentar contrapor as críticas da população à bagunça promovida pela turminha do PT na Saúde, o ex-secretário não deixa dúvidas: a vaidade o persegue!

Perguntado sobre a motivação para tantas denúncias contra a Saúde, Rogério Carvalho contou mais uma piada debochada: seria por conta do “desconforto em relação à situação de décadas, seja com a quebra de privilégios ou com a implantação de um novo modelo gerencial”.

Rogério Carvalho devia mudar de profissão. O doutor tem grandes pendores ao humorismo –ou seria ele um astuto autista?

1) Desconforto em relação à situação de décadas

O deputado deve tomar cuidado com tal ilação. Ao mencionar a palavra “décadas”, Rogério Carvalho também inclui na atual bagunça as administrações de Antônio Carlos Valadares (aliado de Marcelo Déda) e Albano Franco (admirador do governador).

2) Quebra de privilégios

Nunca antes em Sergipe aparelhou-se a máquina administrativa estadual –para empregar cabos eleitorais, filhos e amigos de cabos eleitorais – como na gestão Marcelo Déda. Rogério Carvalho chegou ao cúmulo de trocar terceirizados da Oncologia do Hospital João Alves por gente que segurava bandeiras dele na campanha. Como o serviço simplesmente não andava, o deputado foi de fato obrigado a “quebrar privilégios”, dispensando a turma dele...

3) Implantação de um novo modelo gerencial

A Saúde estadual funciona hoje através de decisões judiciais: a Maternidade N. S. de Lourdes passou a operar após intervenção da Justiça; decisão da Justiça obrigou o governo a restabelecer a estrutura anterior (quebrada com marretas) do Hospital Infantil José Machado de Souza, construído para atender exclusivamente crianças e adolescentes; a escala de trabalho do HUSE está sendo feita pelo Ministério Público Estadual, depois da rebelião dos médicos diante da calamitosa insensatez da direção. Ponto para Rogério Carvalho, porquanto assume ser ele próprio o responsável pela “implantação de um novo modelo gerencial” cujo maior mérito foi virar de cabeça para baixo o sistema público de saúde, causando um verdadeiro genocídio, segundo alguns médicos.

Na entrevista ao JC, Rogério Carvalho contou ainda a maior piada dos últimos tempos: “O HUSE é um hospital bom”. Tão bom que na sexta-feira 20/03/2009, quando o carro dele capotou perto de Aquidabã, o então secretário passou pela frente do Hospital João Alves, mas preferiu ser atendido no Hospital Primavera –da rede particular!

A vaidade do doutor Rogério Carvalho supera até a do chefe Marcelo Déda. No lero-lero ao JC, o deputado disse: “Penso que a sociedade compreende meu esforço e do governo para mudar a Saúde (...) Minha passagem como secretário foi muito breve, comparada ao tempo que esse projeto tem para se consolidar. Seus frutos serão minha redenção”.

Transpondo para a realidade factual: todo mundo está errado ao criticar os desmandos provocados pelo Governo da Mudança para Pior na Saúde! O único certo é o brilhante e honesto futurólogo doutor Rogério Carvalho, para quem a vida pode esperar que um dia seu esforço dê algum fruto como redenção.

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O cortejador Carlos Brito

Entre os homenageados especiais nos 40 anos do Tribunal de Contas de Sergipe estava o presidente do TSE, ministro Carlos Brito. Ao discursar, o jurista arrancou aplausos da plateia quando confessou ser antigo tiete do governador Marcelo Déda: “É o maior tribuno do Brasil”.

Carlos Brito é petista histórico –com Marcelo Déda, fundou em Sergipe o Partido dos Trabalhadores nos anos 1980. Foi professor de Direito Constitucional do governador na UFS. Em 2008, o ex-aluno o indicou ao compadre Lula da Silva para compor o STF.

Compreensível, portanto, a fervorosa gratidão de Carlos Brito, cuja alma aparentemente inunda-se de regozijo quando aporta em suas vistas a figura magnânima do padrinho daquela bem sucedida indicação.

Para evitar possíveis futricas por conta da bajulação pública –afinal ele comanda o processo eleitoral, o ministro Carlos Brito providenciou a prévia autodefesa: não se tratava de declaração de voto, pois “aí seria campanha eleitoral antecipada, insuportável crime eleitoral”.

Apesar dos frouxos risos provocados no seleto auditório, pode-se concluir, o cortejar de Carlos Brito, lamentavelmente, teve sim o intuito de elevar o moral do candidato Marcelo Déda e constitui grave incompatibilidade. O ministro, mesmo portador de incontinente paixão pela verve mágica do governador, a fim de não chafurdar a liturgia do cargo que ocupa, deveria ainda eximir-se de formular comentários sobre réus de processos em tramitação no TSE.

Ao falar demais, o ministro Carlos Brito desacreditou sua isenção para continuar a presidir inquéritos onde estejam envolvidos “o maior tribuno do Brasil” ou políticos em situação de conflito com o governador. Num país sério, homens sérios se diriam indisposto para seguir julgando...