Quarta-feira, 11/05/2011 | 20h25

Um estranho caso de polícia

No início do mês, a operação “Arremate” da Polícia Federal prendeu uma turma grande de empresários e leiloeiros em Sergipe, envolvida com fraudes milionárias em leilões públicos. A camarilha é acusada de “formação de quadrilha, constrangimento ilegal e corrupção”.
A malandragem era estranhamente simples, mas lograva prejuízos porque, no mais das vezes, empresas envolvidas com litígios judiciais não conseguiam pagar débitos, visto que bens arrecadados em garantia eram “leiloados” por valores irrisórios. Dos 16 presos em 04/05, talvez nem todos tenham relação direta com a quadrilha. No entanto, de acordo com o Ministério Público Federal, havia “algum tipo de envolvimento na utilização dos serviços”.
Entre os custodiados, encontra-se o filho de um respeitado jornalista, o advogado Carlos Gustavo Fiel, colega desde a faculdade de Valério César Déda, primo do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Sergipe Artur Oscar Carvalho Déda, irmão do governador Marcelo Déda. Num golpe de muita sorte – até o momento, sem justificação conhecida, a não ser as bençãos celestiais! –, Valério César Déda não foi importunado pela Polícia Federal.
Sócio de Carlos Gustavo Fiel na Sergipe Leilões, o advogado Valério César Déda foi poupado dos constrangimentos aos quais seu parceiro de leilões judiciais e extrajudiciais tem sido submetido. Na manhã de ontem, por exemplo, Carlos Gustavo Fiel, acompanhado dos colegas de estripulias Geraldo Soares Dias e Ângelo Ernestro Ehl Barbosa, foi conduzido do presídio onde está ao Instituto Médico Legal para realizar exames de corpo de delito. O tempo todo, esteve de cabeça baixa.
Não se sabe ao certo o que motivou o MPF a solicitar apenas a prisão de Carlos Gustavo Fiel (e manter livre, leve e solto Valério César Déda). Certamente, alguns desajustados podem aventar algo além da mera e boa sorte. Mas num país sério como o Brasil, jamais o poder de um sobrenome ou a ligação com algum partido político poderia interferir numa ação policial, creio eu!
A Sergipe Leilões decolou como meteoro no concorrido mercado de leilões, abocanhando órgãos cobiçados da administração estadual, dentre os quais o Banco do Estado de Sergipe e a Secretaria Estadual de Educação – detalhe frugal: sempre contratada sem licitação pública! Também havia recentemente fechado um contrato com os Correios. Coisa boba...
No mundo dos leilões judiciais, o prestígio dos dois jovens leiloeiros era bastante conhecido e decantado com muita prosa. Após a chegada da Sergipe Leilões, empresas tradicionais perderam importantes contas públicas, justamente na gestão do (primo) governador Marcelo Déda.
Sobra, então, uma terrível dúvida: somente o filho do jornalista conduzia – sem conhecimento do sócio, obviamente – as safadezas que o levaram ao xilindró; ou, além de praticar os crimes dos quais é acusado, também enganou o inocente colega e amigo, que mantinha-se alheio às atividades realizadas pela própria empresa, apesar de remunerado com generoso pró-labore?
Nem sempre é possível obter respostas plausíveis para questões que assombram pela, digamos, imponderabilidade. Mas, nunca será afrontoso questionar. Assim sendo...
Valério César Déda, em foto do site da Sergipe Leilões:
convenhamos, um cabra de muita sorte!



Terça-feira, 10/05/2011 | 16h12

Um imbróglio sem fundamento

Na briga midiática entre as facções no poder, salta aos olhos a disputa pública de “egos” entre o atual mandatário de Aracaju, o prefeito comunista Edvaldo Nogueira, e aquele a quem deveria, por obrigação – ou pelo menos, por gratidão! –, chamar de “padrinho”, por tê-lo levado aonde está, o governador Marcelo Déda. Se prevalece o desamor, algo está errado...
No mês de aniversário dos 159 anos de Aracaju, a propaganda da prefeitura a comemorar a data tinha enfoque, no mínimo, pouco amigável com o “padrinho”. Dizia que “jamais se fez por Aracaju, como nos últimos cinco anos”. Pretensiosa na essência, tinha ainda o demérito de equiparar Marcelo Déda ao atual prefeito, com prejuízo claro à imagem do governador.
Nos bastidores, Edvaldo Nogueira teria sido instado a abandonar aquele “discurso de confronto” por ninguém menos que Carlos Cauê, ex-secretário de Comunicação da PMA, hoje exercendo função igual no governo. Mantidos os “ouvidos de mercador”, o material foi veiculado na mídia, sendo a posteriori complementado pelas inserções do PCdoB, na mesma linha programática.
Agora, como se em resposta ao prefeito comunista de boutique, o PT usa suas inserções de RTV para contestar acerca do verdadeiro autor das tais “transformações e realizações”, que teriam tornado Aracaju na “capital da qualidade de vida” – aliás, como bem atentou o jornalista Habacuque Villacorte em escrito recente, “hoje, então, não mais seria?”.

O começo de tudo – Tão logo se disse que Marcelo Déda estava reeleito governador, a festa da vitória – inclusive, organizada ainda na madrugada do domingo eleitoral – serviu para que petistas, alguns de alto coturno, fizessem queixa pública pela triste derrota do partido na capital. Para não haver dúvida sobre a quem se atribuía o feito, Edvaldo Nogueira foi impedido de discursar por uma enxurrada de vaias. Teria havido na comemoração dos 159 anos de Aracaju o troco?
A briga de “egos” entre o PT e o PCdoB pode até não desaguar em algo mais sério, como a perda do comando da PMA pelo grupo supostamente liderado pelo governador Marcelo Déda. Mas denota, sem dúvida, que o poder político do governador anda alquebrado, desnutrido, acanhado.
Seria o início do fim de um reinado basificado somente no discurso? Sim, porque convenhamos, juntando as “obras” realizadas por esta turma na última década, somente uma – feia, por sinal – vem à luz: o viaduto! Ou seja, a briga de “egos” é, na verdade, uma briga por nada. Nada importante...