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Segunda-feira, 05/09/2011 | 16h10
O PT e a “gestão da opinião”
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Terminado o 4º Congresso Nacional do PT, tem-se uma certeza: o tal intento pelo “marco regulatório midiático” ainda está bem vivo nas entranhas do partido hoje sob controle quase absoluto do “chefe da quadrinha” do Mensalão José Dirceu –controle, aliás, que sempre existiu, mesmo a reboque de Lula da Silva. Ninguém disse textualmente, mas o incômodo maior do PT tem muitos nomes, sendo os principais Veja, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.
O partido alude ao clima de “imposição de uma versão única no país”, concentração que “tolhe a democracia”, “silencia” e “marginaliza” outras vozes. Um Brasil que já viveu (recentemente, e em tempos idos, como na “Era [Getúlio] Vargas”) a censura, deve se questionar: qual seria esta “segunda voz” proposta pelo PT? Seria a própria ou a plural, com espaço para opiniões diversas?
Figurões do partido, como o secretário-geral da Presidência Gilberto Carvalho e a ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti, defenderam no sábado a “regulamentação da mídia”. Dilma Rousseff, ao assumir, repudiou qualquer forma de controle. Ministros exercem cargos de confiança e falam pelo governo –estariam, então, a confessar um estelionato da presidente?
O ímpeto do PT em por freios à imprensa tem raízes claras: o mensalão. À época, a “mídia” foi acusada de conspirar contra Lula da Silva, com o fito de apeá-lo do poder, tendo (ou usando) a oposição como aliada. O apoio a “faxina” de agora seria, na opinião da cúpula petista, um novo método de enfraquecer o governo. Ao que parece, a exposição das mazelas da base aliada e do próprio PT, no comando de ministérios infestados de corrupção, enfureceu a turma...
A esquerda nunca foi afeita a divergentes nem a liberdade de pensamento, fato arraigado até hoje na idílica Cuba, na troncha Venezuela e no colosso China. A matriz básica, contraditoriamente, seria o próprio Karl Marx –não por caso, por viver num regime democrático, o pensador foi prolífico em textos para jornais, revistas e enciclopédias defendendo livremente o Socialismo.
No opúsculo “Liberdade de Imprensa”, compilação de escritos de 1850 a 1860, quando as necessidades de sobrevivência ou de ação política o encaminharam à produção jornalística, Karl Max explicitou sua preocupação com as pressões à imprensa. Disse ele, com ironia mordaz: “Se a imaturidade da espécie humana é o argumento místico contra a liberdade de imprensa, sem nenhuma dúvida a censura é uma medida altamente eficaz contra a imaturidade da espécie humana.”
O pulo do gato é que, sem se aperceber do jogo irônico, desde Vladimir Lênin, passando por Iosef Stalin e chegando a Fidel Castro, a esquerda limitou-se a “matar o homem para salvá-lo do seu estado de imperfeição”, porquanto o “homem é imperfeito por natureza, como indivíduo e como massa” –sendo válido, então, o “intuito de matar a liberdade de imprensa” como forma de “salvá-lo do seu estado de imperfeição”. Palavras de Karl Max...
O Brasil vive um momento democrático no qual qualquer ingerência contra a liberdade de imprensa, por mínima que seja, pode desaguar no autoritarismo tão caro aos próceres da esquerda. É preciso abrir o olho e usar de todos os meios possíveis para pressionar o Congresso a não aceitar qualquer forma de controle ao livre arbítrio. Esta é a grande oportunidade de Dilma Rousseff provar à nação que não flerta com as ambições do PT no campo da “gestão da opinião”...
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“chefe da quadrinha” do Mensalão José Dirceu entre Lula da Silva e Dilma Rousseff na abertura do 4º Congresso do PT (foto publicada no sítio da revista Veja no sábado): não, ele não é papagaio de pirata...