:::Sexta-feira, 07.12.2007 - Edição Número 204:::

SERGIPANOS SE SOLIDARIZAM COM DOM CAPPIO
Acompanhados do ex-governador João Alves Filho, deputados democratas sergipanos estão nesta sexta-feira em Sobradinho (BA), onde participam das manifestações em defesa do rio São Francisco. Para se solidarizar com o bispo dom Luiz Flávio Cappio, em greve de fome desde 29.11, já pela segunda vez, contra o projeto do governo federal em transpor as águas do Velho Chico, os parlamentares apresentaram uma “Moção de Solidariedade” reafirmando o compromisso do povo sergipano com a preservação do rio. Como na primeira greve de fome em 2005, dom Cappio está na capela de Sobradinho e recebeu o ex-mandatário e os deputados pela manhã. Familiares do bispo estiveram no encontro, cercado de muita emoção, pois dom Cappio tem no ex-governador sergipano uma das mais expressivas lideranças no País contra a transposição. Agora a pouco, por telefone, João Alves Filho disse a este blog que dom Cappio tem uma fibra extraordinária. “Continua de pé, rezando missa. Não é o fundamentalista que o governo federal tenta ignorar, mas um homem santo cuja trajetória de vida está intimamente ligada ao São Francisco. Diante da insensibilidade do governo do PT, resta-nos continuar lutando pela via judicial para impedir a continuidade da obra. Se depender de nossa disposição, a transposição será barrada”. Na edição de hoje, o jornal FOLHA DE S. PAULO publica artigo do ex-governador João Alves Filho em “Tendências e Debates”. Leia o texto:
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D. CAPPIO E O MITO DA FALTA D'ÁGUA JOÃO ALVES FILHO
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Com a retomada da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula e seus áulicos tentam passar a imagem de que ele é um fanático religioso. O ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, ousa desrespeitosamente associar a imagem do bispo a uma espécie de fundamentalista islâmico.
Na realidade, dom Cappio é um líder religioso profundamente comprometido com sua principal missão, que é divulgar a fé aos sertanejos e levar a eles os eternos ensinamentos de Deus, mas sem desconectá-los do mundo injusto em que habitam.
Daí por que, convencido de que quem convive com a miséria não tem serenidade para cultivar dignamente a religião, se empenha em extirpar a miséria, defendendo os sertanejos daqueles que tentam legitimá-la com demagogia e promessas enganosas.
Trata-se de um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição. Um estudioso das técnicas de convivência com as secas e equacionamento dos recursos hídricos locais -tão simples e baratas que os chineses e os indianos as praticam com sucesso há milênios em regiões de climas bem mais hostis do que o nosso.
Dom Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento. Primeiro, a transposição não é destinada a salvar os nordestinos da seca, pois apenas uma minoria irrelevante do semi-árido receberá água na porta, mas se destina ao agronegócio, que utilizará uma água caríssima, levada a 700 km, que terá que ser subsidiada a vida inteira. Porém, temos milhões de hectares de terras à beira do rio cuja irrigação, sem subsídio, proporcionaria alimentos baratos e geraria 1 milhão de empregos.
Segundo, o governo, maquiavelicamente, esconde uma realidade que surpreenderia a nação: não há falta de água no Nordeste setentrional, mas, isto sim, ela existe em abundância tal que, teoricamente, daria para abastecer 100% dos nordestinos.
Terceiro, o rio São Francisco está na UTI e a transposição ameaça provocar sua morte, gerando o maior desastre ecológico e socioeconômico da história brasileira. Quarto, Lula mentiu para conseguir a interrupção da primeira greve de fome de dom Cappio, certamente com receio das conseqüências para a reeleição, com promessas enganosas de que iria parar a obra da transposição para discutir com ele, com membros da sociedade civil e ecologistas que têm propostas alternativas, demonstrando tecnicamente projetos racionais para levar água na porta pela metade dos custos para a totalidade dos dez Estados do semi-árido nordestino e mineiro. Por dois anos, o bispo esperou pacientemente a abertura do prometido diálogo, mas a resposta de Lula foi ameaçadoramente mandar o Exército iniciar a obra.
Por falta de espaço, não posso aqui detalhar o gigantesco manancial de água disponível nos Estados do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba, explicando a simplicidade do supracitado projeto alternativo. Faço, contudo, um convite ao ministro Geddel, que executa a obra que tanto combateu, para um debate aberto, para que a nação saiba de toda a verdade sobre essa obra freneticamente aplaudida pelos empreiteiros, seus felizes apaniguados, pelo agronegócio retrógrado, que pleiteia água subsidiada, e pela indústria da seca, que, após sua conclusão, continuaria abastecendo os famigerados carros-pipas e as latas d'água na cabeça da pobre gente dos próprios quatro Estados "beneficiários" da obra da transposição, que, tardiamente, compreenderia que foi a principal enganada pelo governo Lula, que fomenta a cizânia entre irmãos nordestinos.
Finalmente, uma ponderação final para que o presidente Lula, que, do alto de sua autolouvação costuma ser infenso a conselhos. Avalie melhor o artigo de frei Leonardo Boff, que, com a autoridade de ex-professor do então seminarista dom Cappio, com quem ele já se destacava por "uma aura de simplicidade e santidade", advertiu: "Entre o povo que não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do povo. Irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha pelo futuro afora?".
. JOÃO ALVES FILHO, 66, é engenheiro civil. Foi governador de Sergipe por três mandatos (1983-87, 1990-94 e 2003-06) e ministro do Interior (gestão Sarney). É autor de, entre outros livros, "Transposição de Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica". jaf.sergipe@gmail.com

Quinta-feira, 06.12.2007 - Edição Número 203

::: NOTA
Na terça-feira, recebi a notícia do assassinato do irmão do meu pai, tio Unaldo Bispo, vítima de um assalto ocorrido no interior do Ceará. Como em casos assim, a família esteve mobilizada para tomar as providências legais. Motivo pelo qual não pude postar o material de ontem. Pelos transtornos, nossas desculpas.
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::: SE FALTA MORAL
Quem ouviu a entrevista do presidente reeleito do PT (JOVEM PAN FM, 03.12), secretário de Meio Ambiente Márcio Macedo, deve ter se espantado com a humildade do rapaz, flagrantemente contrastando com a forma beligerante da sua campanha eleitoral. Dos palanques, para impressionar a patuleia e aparentar destemor, Márcio destilava ódio pelo adversário da vez. Referia-se ao ex-mandatário como malfeitor, cuja "navalha" política, tão carregada de simbolismos quanto às usadas pelos mafiosos italianos até hoje para ostentar poder e glória, deve ser combatida sem trégua.
Desprezíveis são os homens que não comungam nem se devotam à seita petista. Bastou a reação de quem não leva desaforo para casa, especialmente quando sente a honra ferida, para a banda podre da nossa imprensa achincalhar a "alma errante" mencionada por Márcio Macedo nos "comícios" como o retrato do atraso e embalar com mimos o "garoto inocente", preposto do verdadeiro dono do PT. Mesmo não disputando o cargo de presidente do Partido dos Trabalhadores, o ex-governador João Alves Filho era o prato fixo para servir às massas.
Tempos estranhos estes, quando para angariar votos dos próprios correligionários um postulante a presidente de partido precise reinventar o Diabo e o inferno, embutindo todos os apetrechos descritos por Dante e Virgílio nas viagens com o barqueiro Caronte, agora na cor vermelho-carmim. Talvez Márcio ignore o final da Comédia, onde o inferno surge frio, muito frio. E lá rumina a alma de quem trai a decência, a ética, a moral...
Na entrevista ao apequenado jornalista André Barros, o reeleito presidente estadual do PT agradeceu a votação e previu que a esquerda vai continuar no comando de Aracaju. Motivação? Apesar de forte, JAF não é imbatível. Aliás, já levou rasteira no ano passado! Márcio Macedo prestaria extraordinário serviço ao governo da mudança, a que serve sem inibição, se aposentasse o lado Mãe Dinah e catasse os cacos da ética pública, a cada dia assassinada por ele com o acúmulo imoral de jetons (são R$ 15 mil mês/mês + R$ 12 mil de salário, fora os extras) e pela condição dúbia de presidente de partido e secretário estadual.
Como bem lembrou algum insatisfeito lisonjeador do governador Marcelo Déda infiltrado no JORNAL DA CIDADE (05.12), caso existisse comissão de ética no probo governo das prometidas mudanças, a situação de Márcio Macedo estaria complicada. Para melhor ilustrar o recado, o "Periscópio" rememorou a conclusão da Comissão de Ética Pública Federal quanto à incompatibilidade do exercício do cargo de ministro com o de presidente de partido. Ou seja, por "jurisprudência" o mesmo deveria valer por aqui. Mas em Sergipe, a moralidade e a ética andam cada vez mais escassas! E quando falta...
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Nos Peitos da Mãe-Estado - Como se não fossem suficientes os colaboracionistas da terrinha, o governo do PT tratou de inchar a máquina com amorais importados. Afeito a tricotar com fofoqueiras, o misto de jornalista "faz-tudo e deixa limpo" Zoroastro Penha Sant'Anna criticou o pessoal do governo da mudança encantado com o canto da sereia dos jetons dos conselhos (portal INFONET (13.11). Maldisse quem recebe de um e os mais exagerados, com até cinco conselhos. Difamou ainda gente que preside órgão do Estado e recebe para aconselhar a própria repartição. Quis saber se seria justo, moral, ético!
O "faz-tudo" comentou terem lhe confidenciado sobre certo "levantamento" de todos os cargos comissionados do governo da mudança: quem é quem, quanto ganha. A lista, garante ele, contém ex-mulher de político, parente, aliado, inimigo político e até empregada doméstica. Amorais? Com certeza.
O DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO de 19.11.2007 publicou o decreto de nomeação do vestuto e zaratustro Zoroastro Penha Sant'Anna para o cargo de consultor técnico-operacional (CCE-07: R$ 2.279,49/mês - Atenção, credores!) na Secretaria de Saúde, a partir de 01.12.2007. Agora, "oficialmente", o jornalista baiano-carioco-paulistano, radicado por aqui desde que foi exilado pelos conterrâneos, poderá dedilhar sobre mais esta tosca corruptela do governo do PT. Será? Como diz prima Bernadete, quem não chora, ô meu filho, pode ficar sem mamar...

:::Terça-feira, 04.12.2007 - Edição Número 202:::

::: BALELAS DO PT E A GREVE DO BISPO
Os petistas sempre foram arrogantes. Depois que chegaram ao poder, comprovou-se também serem mentirosos contumazes. Quando da primeira greve de fome (outubro/2006) do bispo dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula da Silva prometeu discutir o projeto de transposição das águas do S. Francisco. Era balela! Além de dar uma banana ao acordo feito para dom Cappio interromper o jejum, o governo do PT agiu em várias frentes e viabilizou o início da obra. Semana passada, cansado de tanta embromação, dom Cappio retomou a greve de fome. Só irá cessar o ato se o Exército for retirado da região e o projeto arquivado definitivamente. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, disse que não se submete à chantagem de ninguém (A TARDE, 01.12). A prova de que fala sério é o pedido ao governador Jaques Wagner para colocar médicos à disposição do bispo. Diante da arrogância do representante do Grande Molusco, a morte do Velho Chico será precedida da de dom Cappio, pois quem o conhece diz que ele irá até o fim. No sétimo dia sem se alimentar, orando na capela São Francisco, em Sobradinho (BA), dom Cappio tem recebido apoio de pessoas do mundo todo. A greve de fome do bispo ganhou adesões na Bélgica e na França. São jejuns solidários, com duração de um a dois dias, cujo objetivo é fazer as autoridades brasileiras considerarem o ato extremo de dom Cappio. Hoje haverá ato pelas ruas de Sobradinho. Movimentos contrários ao projeto de transposição devem reforçar a manifestação. A concentração será em frente à capela, seguida de caminhada e paradas estratégicas até as margens do rio, onde uma missa será celebrada. . Terra em transe – Em março deste ano, num artigo no site CARTA MAIOR sob o título “Transposição da Maldição?”, frei Leonardo Boff alertava: “Se o governo quiser efetivamente levar água aos sedentos do Nordeste, deve reabrir a discussão pública ou então encampar o projeto da Agência Nacional de Águas. Caso contrário, a transposição será feita à custa da vida de um bispo”. Veja o texto completo em:

:::Segunda-feira, 03.12.2007 - Edição Número 201:::

:::HUGO CHÁVEZ, LULA DA SILVA
E O TERCEIRO MANDATO
Representado pela ascensão ao poder de aprendizes de ditadores, o viés autoritário da esquerda latino americana é cada vez mais nítido na forma como lida com o poder e especialmente na questão da alternância do mando político. Portanto, soa bastante eloqüente o enorme e suspeitíssimo interesse do presidente Lula da Silva pela metodologia usada na Venezuela para dar revestimento constitucional à ditadura. As constantes defesas do líder brasileiro e correligionários ao regime de Hugo Chávez agridem sobremaneira o receituário democrático em voga nas nações social e economicamente mais avançadas. Também neste quesito, e graças ao voluntarioso governo do PT, o Brasil ainda é um país do milênio passado. No indigente entender de Lula da Silva, os referendos usados na Venezuela para reformar a Constituição e dar sabor “democrático” ao regime oportunista de Hugo Chávez refletiriam “a vontade do povo” daquele país. É lamentável a cegueira política e a dislexia mental do Grande Molusco leva-lo a “confundir” democracia com realização de eleições e plebiscitos, excluindo do conceito valores superiores sem os quais ele não existe, como respeito às leis em vigor, independência dos poderes, liberdade de expressão, tolerância com as vozes discordantes, convivência respeitosa com autoridades e países. O Brasil merecia uma melhor representação... Ainda sob a ótica dos tais referendos, o criador do PT peca ao “esquecer” uma das características das últimas consultas na Venezuela. A alta abstenção. Na que aprovou a atual Carta Magna (15.12.1999), deixaram de comparecer 55,62% dos eleitores, índice inferior aos 62,35% registrados quanto à convocação de uma Assembléia Constituinte, em abril do mesmo ano. A maior abstenção (76,50%) ocorreu no referendo sobre a renovação da direção da central operária CTV (Confederação de Trabalhadores da Venezuela), em dezembro de 2000. Aparentemente, o povo venezuelano não parece estar assim tamanhamente inclinado a opinar sobre os destinos do País, como poderia imaginar Lula da Silva. Por que será? A oposição tem rejeitado as reformas de Hugo Chávez por considerá-las inconstitucional e ilegal. Grupos de empresários e comerciantes, jornalistas, advogados e o episcopado também rejeitam as mudanças porque elas outorgam poderes imperiais ao ditador e possibilitam eterniza-lo no poder. Talvez sejam estas boas razões para o povo da Venezuela desconfiar da boa fé do querido amigo e companheiro do presidente Lula da Silva e ignorar eleições e referendos.
. Terceiro mandato – Para (momentânea) tranqüilidade de parcela significativa da Nação brasileira, ontem a FOLHA DE S. PAULO publicou pesquisa do Datafolha onde ampla maioria rejeita mudar a lei para Lula da Silva concorrer em 2010. Somente em Pernambuco, Estado natal do Grande Molusco, 51% concordariam em dar a ele o direito de permanecer por mais quatro anos. Realizada entre os dias 26 e 29 de novembro, a pesquisa mostra 65% dos brasileiros dizendo “não” a um terceiro mandato consecutivo. Foram entrevistadas 11.741 pessoas, em 390 municípios de 25 Estados. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Como se quisesse dizer “calma” aos políticos, a maioria do povo também não acolhe a proposta de um terceiro mandato nem quando o questionamento é genérico (sem citar Lula). Para 63%, presidentes não devem ter direito a re-releição! O porcentual sobe para 66% quando se trata de governadores e vai a 67% no caso dos prefeitos. Ocorre que o Partido dos Trabalhadores se aperreia todo quando imagina um retorno ao macacão das fábricas. Ou seja, ao batente! Sem candidato para concorrer com os tucanos Aécio Neves e José Serra, urde silenciosamente com unhas e dentes para manter Lula da Silva onde está. O Grande Molusco nega querer disputar. Ontem mesmo, depois de saber da pesquisa da FSP, disse ser ele o primeiro a criticar a possibilidade de criar um terceiro mandato: “O número de contrários seria maior se eu tivesse sido ouvido!”. A direção do PT também nega a intenção de mudar a Constituição com esse fim. Como é praxe dos petistas dizer uma coisa e fazer exatamente o contrário, evitar um terceiro mandato passou a ser a prioridade de uma parcela dos congressistas e governadores e de seguimentos representativos da sociedade civil. Agora, tendo o respaldo de pelo menos 65% dos brasileiros (conforme o Datafolha), que não querem ver o País transformado numa Venezuela.
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