Sexta-feira, 25.04.08 - Ano II - Edição Número 254

ATRIBULADO
Peço desculpas pelo espaçamento na publicação de novas edições deste ABRA-O-OLHO. Tarefas que me tomam todo o tempo têm me impedido de manter este prazeroso diálogo com o distinto público. Prometo uma maior dedicação daqui para frente.
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PROCESSO
São 15h19 desta quinta-feira, 24. Acabo de ser informado de uma queixa-crime impetrada contra mim na 1ª Vara pelo deputado-secretário estadual de Saúde, Rogério Carvalho. O processo está a cargo do juiz João Hora Neto. Tão logo meu advogado tome ciência da ação, informarei ao público leitor o teor das acusações feitas pelo probo gestor público a este escriba.
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CINISMOS E PATETICES
A dengue é o assunto da vez. Por agora, contudo, atenho-me ao escrito domingueiro do jornalista editor-chefe do Jornal da Cidade, Marcos Cardoso, na edição de 20/04. O tema, mesmo com atraso, interessa pela manipulação da realidade em favor de um partido. O jornalismo paraestatal de Sergipe é mestre na produção de pérolas raras. Mas levará um tempo enorme para outro áulico superar a voluntariosa parcialidade de “As Contradições do Sintese”. Na crônica, Marcos Cardoso exibe sem pudores como o esquerdismo barato pode se transfigurar em esquerdismo ignorante, apenas para desviar a atenção do distinto público do caos reinante em várias secretarias do governo das prometidas mudanças. Marcos Cardoso acha engraçado não ter havido uma greve sequer nos dois anos de gestão de Lindberg Lucena, último secretário de Educação do ex-governo. Enquanto que no governo do PT, os braços sindicais do partido – no caso, o Sintese – exacerbam “no modo como confrontam o governador”. Marcos Cardoso acha que o “sindicato tem todo direito, e o dever até, de buscar melhorar a situação salarial dos filiados, apesar do reajuste solicitado ser discutível”. Mas se arrepia da cabeça aos pés – e pensa até em correr léguas – quando recorda de um texto “desconexo”, publicado pelo Sintese, no qual o sindicato exorta o governador a “não calar a boca dos sindicalistas”. Na “opinião” de Marcos Cardoso, “Nem Venâncio Fonseca, nem Augusto Bezerra, os mais destacados deputados da oposição, acreditariam nisso”. Que o governador estaria – imaginem! – “tentando cercear o sagrado direito dos professores à livre expressão do pensamento”. O jornalista-editor certamente prefere esquecer, mas quando discursava na Assembléia Legislativa, durante a posse de Márcio Macedo (22/02), reeleito presidente do PT, o governador deu um puxão de orelhas nos sindicalistas presentes ao evento. No trecho mais feérico da eloqüente falação, Marcelo Déda, “olhando nos olhos” dos companheiros, queixou-se das traíras “que levam à imprensa” fatos que desabonam o governo: “É preciso conversar antes, senão sangra. E cada gota do nosso sangue fortalece os vampiros que querem nos derrotar. Não podemos dar munição aos inimigos que buscam retomar o poder. Ninguém venceu na História desconhecendo a que bloco pertence, tratando companheiro como se fosse inimigo”. O pito do “chefe”, o “número 01”, era dirigido especificamente aos falastrões paredistas dos sindicatos da Saúde, SSP e os “que têm como estrela-guia a deputada licenciada e secretária (do Combate à Pobreza) Ana Lúcia Menezes”. Aqueles “que exageram na reivindicação”, conforme são definidos por Marcos Cardoso os integrantes do Sintese. O objetivo do jornalismo paraestatal é desinformar, numa ação deliberada de militância político-jornalística, para prover o público leitor da visão que interessa à propaganda ideológica do “projeto de mudança” – na verdade, um projeto de poder – ungido pelo governo petista. Neste tocante, Marcos Cardoso tem se mostrado um escudeiro imbatível!

Um Pouco de História

  • Sergipe foi pioneiro no Brasil na implantação da avaliação do desempenho dos professores da rede pública estadual. Quem tinha os melhores resultados recebia como prêmio um 14º e até um 15º salário anual. Ao final da ex-gestão, mais de 60% dos docentes tinham sido premiados. O governador Marcelo Déda suspendeu o sistema de avaliação e, por conseguinte, a premiação.
  • O rendimento salarial médio dos professores do Ensino Fundamental, com jornada de 40 horas, ficou em 3º lugar no Brasil, conforme estudo do Ministério da Educação (2006). Sergipe estava atrás apenas do Distrito Federal e Rio de Janeiro, sendo que neste último os salários eram praticamente iguais aos que eram pagos pelo governo sergipano.
  • Mais de 70% dos professores receberam computadores pessoais gratuitamente, custeados pelo ex-governo. A previsão era que em 2007 100% deles tivessem um PC em casa com acesso à Internet. Mas o governador Marcelo Déda suspendeu o programa.
Talvez esses “pequenos mimos” justifiquem a relação nada hilária, mas pelo contrário, respeitosa, do ex-governo com os professores. O que evitou as greves que agora atormentam a vida da estudantada e deixa os pais tensos com o futuro dos filhos. Falta ao governo da mudança cumprir as promessas que fez durante a campanha e depois de haver assumido o poder. Talvez assim, os sindicalistas façam o que Marcos Cardoso sugere nas entrelinhas do brejeiro artigo: adiram incondicionalmente ao patrão... PS – Alguém do Jornal da Cidade precisa urgentemente apresentar ao colega editor-chefe a matéria de página inteira publicada na B-2 da edição de domingo (20/04), sob o título: “Os professores bóias-frias da rede estadual. Com uma marmita na sacola, educadores que lecionam no interior sergipano pagam para trabalhar”. Lá são apresentados vários bons argumentos para o nobre jornalista estancar os frouxos risos quando recordar que entre 2005 e 2006 não houve greves de docentes da rede estadual.