>> Imprensa Censurada <<
ÓDIO ENTRANHADO E INTERESSES POLÍTICOS
DERRUBAM O JORNALISTA CARLOS FERREIRA
A história é longa. Tentarei resumir ao máximo. O jornalista Carlos Ferreira estreou na segunda-feira 19 o programa “Espaço Livre” na Rádio Atalaia AM, atendendo ao convite do arrendatário da emissora ex-deputado pastor Daniel Fortes. Substituía o radialista Flávio Vieira, afastado após comprovadas denúncias de graves desvios éticos (leia abaixo OS TARADOS JÁ ESTÃO CAINDO! ENQUANTO ISSO, A SERPENTE FICHA SUJA ESPERNEIA...).
O experiente jornalista e radialista Carlos Ferreira, com mais de 35 anos ao microfone, durou apenas uma semana e um dia no novo posto. Na terça-feira, ele recebeu o aviso de que estaria fora da programação já nesta quarta-feira (ontem). Pelo Twitter, comentou: “Hoje a censura calou a democracia do rádio. Francamente!” O destino dele foi selado ainda na manhã do primeiro dia de trabalho. O alto comando do Sistema Atalaia de Comunicação, concessionário da Rádio Atalaia AM, recebeu pressões e de imediato acionou o pastor Daniel Fortes.
A conversa com o arrendatário foi sem rodeios: “Esse rapaz (Carlos Ferreira) não vai dar certo! É a cara do (empresário) Edivan Amorim. Foi colocado nessa rádio para bater no governo estadual.” De pronto, Daniel Fortes ponderou que não aceitaria a demissão do apresentador e, caso ela fosse efetivada, estaria caracterizada a quebra de contrato entre as partes. Assim, a responsabilidade direta seria do Sistema Atalaia de Comunicação: além da multa rescisória de 66 mil reais, a emissora daria mais trinta dias (sem ônus) ao pastor a fim de encerrar o contrato e dispensar sua equipe.
Na quarta-feira 21, uma nova reunião foi convocada pelo concessionário. Para surpresa dos diretores presentes, Daniel Fortes chegou acompanhado de Carlos Ferreira – o jornalista acabou permanecendo no recinto. O clima ficou quente quando Walter Franco reclamou da falta de aviso prévio sobre quem seria o apresentador do programa e ouviu como resposta que seu filho Augusto Franco Neto havia sido comunicado antecipadamente. “O senhor está mentindo!”, insinuou o empresário. “Sou um pastor, o senhor me respeite. Sou um homem honrado, não costumo mentir. Falei, sim, e tenho provas”, retrucou o pastor.
Como qualquer raposa velha, Walter Franco tinha um trunfo. Ele vinha sendo pressionado por agentes ligados ao governador em exercício Jackson Barreto. Também havia recebido ligações do irmão do senador Antônio Carlos Valadares, Zé Valadares, ex-prefeito de Simão Dias. O primeiro ameaçou com o corte de verbas governamentais ao Sistema Atalaia de Comunicação. O segundo, com o cancelamento do apoio político na sua região – o empresário pretende disputar uma cadeira na Alese em 2014. Num encontro particular após a reunião citada acima, Walter Franco reiterou sua decisão a Daniel Fortes, alegando que o contrato de arrendamento cobria apenas 21 horas do dia. Nas três horas restantes, mandava o concessionário.
O temor de Jackson Barreto estava fundado na veemência e na seriedade de Carlos Ferreira. Como jornalista acreditado e pautado pela verdade, tem sido um crítico incansável da inação do governo, sobretudo no setor da segurança – ele foi assessor da SSP por um período. Por seu turno, Zé Valadares contraiu ódio mortal pelo jornalista quando este optou por deixar a sua Tropical FM em Simão Dias para apresentar um programa diário na Rádio Ilha AM em Tobias Barreto, ligada a Edivan Amorim. A derrota na tentativa de reeleger-se prefeito de Simão Dias no ano passado para o candidato apoiado pelo empresário agravou a ira.
Sem forças para contrapor a letra fria do contrato e incapaz de demover o concessionário, Daniel Fortes se viu entre a cruz e a espada – por deferência pessoal de Walter Franco, desde o início do arrendamento coube a ele indicar o apresentador do horário jornalístico, que vai das 06h00 às 09h00. A decisão estava posta: se insistisse em manter Carlos Ferreira apresentando o programa “Espaço Livre”, o pastor iria enfrentar a guarnição jurídica do Sistema Atalaia de Comunicação, com prejuízo previsível para o trabalho evangelizador realizado por ele ao longo do  dia na emissora. Não deu outra! Carlos Ferreira subiu ao cadafalso ontem, como a mais nova vítima da ingerência política nos meios de comunicação sergipanos.
Através do Twitter, Carlos Ferreira comentou: “Os amigos do poder pediram minha saída à direção da empresa. O pedido foi aceito. Querem um pistoleiro intelectual. Não sou. Os poderes não suportaram um programa independente, sem subserviência”. O presidente do Sindicato dos Radialistas de Sergipe Fernando Cabral disse que vai convidar a emissora a esclarecer o motivo para afastar Carlos Ferreira, a fim de evitar especulações. “Somos contrários a qualquer censura. Queremos ouvir a direção da Rádio Atalaia AM”, completou.
Conversei com Carlos Ferreira ontem de manhã. Estava tranquilo e cheio de planos. Perguntei se teria algo a declarar sobre o episódio: “Gostaria de pedir desculpas ao povo de Sergipe por certa feita ter declarado durante uma coletiva à imprensa no Palácio do Governo que o empresário Walter Franco era um democrata, que prezava a liberdade de imprensa. Agradeço a Deus a oportunidade de descobrir que eu estava errado e poder agora me desculpar com a opinião pública por ter feito um comentário completamente fora da realidade”.
Nesse ambiente onde o jornalismo sério tem perdido espaço para os conchavos politiqueiros e mantenedores entre governos, “profissionais” da comunicação social e concessionários, fica impossível expor a verdade nua e crua, essência do exercício da imprensa livre! Além de intelectualmente desestimulante, a cultura da “opinião bovina” imposta pelo PT – e agora referendada por Jackson Barreto – acelera a morte do radiojornalismo em Sergipe. Nada é mais sem vergonha do que a opinião comprada travestida de opinião isenta. Nada pode ser mais imundo (e deletério à democracia) do que o esforço para sufocar o contraditório!
Lamentável... A Carlos Ferreira minha solidariedade!
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Por David Leite | 29/08 às 15h16