“Incêndio” na TV Sergipe / Rede Globo
DIRETOR DE JORNALISMO É AFASTADO,
APÓS EXPOSIÇÃO DE DENÚNCIAS GRAVES
Os ânimos no complexo de comunicação do ex-governador Albano Franco estavam deteriorados desde a saída no começo de 2011 da ex-diretora de Jornalismo da TV Sergipe Lígia Tricot, por aposentadoria. Havia mais de uma década, a jornalista comandava a Redação da emissora em substituição ao também jornalista André Barros, afastado do cargo após intervenção da Rede Globo*. Foi indicado para substituir Lígia Tricot o paulistano Roberto Gonçalves, que servia numa emissora do grupo no interior de São Paulo.
Pessoa amplamente querida pelos funcionários, graças ao empenho por melhores salários e condições de trabalho, Lígia Tricot deixou saudades, especialmente porque, tão logo chegou à casa, o novo diretor fez mudanças na gestão administrativa e na tabela de horário, em cumprimento a determinações da cúpula da TV Sergipe, cuja decisão era de enxugar custos. Roberto Gonçalves caiu em desgraça juntos aos colaborares justamente após algumas medidas tomadas em meio à paralisação do corpo técnico da emissora, ocorrida em 4/04/2011, em protesto às constantes demissões de colegas e cortes salariais, ocasião em que foram exibidos os noticiosos produzidos pela Globo Nordeste, sediada em Recife.
Entre trancos e barrancos, de lá para cá a vida seguia o rumo até a semana passada, quando um “incêndio de proporções novelescas passou a consumir a vetusta TV Sergipe. Na imprensa e nas redes sociais da internet pipocaram postagens tratando sobre “assédio” e “acúmulo de funções”. Posteriormente, houve a confirmação de que dois jornalistas da emissora teriam ajuizado ações na Justiça contra Roberto Gonçalves, acusado de abusar do cargo para sitiar e constranger os subordinados. O Ministério do Trabalho esteve na emissora para apurar as supostas denúncias. Ouviu testemunhas e diretores da casa. Na segunda-feira (5), o jornalista foi intimado a depor na polícia sobre o caso e à noite teve demorada reunião com os diretores, quando foi-lhe dito que “o clima estava adensado” e que “deveria se afastar”.
O caso mais ruidoso envolve Sayonara Hygia, ex-âncora do Bom Dia Sergipe, há três meses afastada da função por Roberto Gonçalves. A cúpula diretiva da TV Sergipe ficou atônita com a reação pública da repórter, cujo trato com o chefe seria normal (até então) e somente degringolou após o afastamento. Para alguns desses diretores – e também para colegas de redação –, a jornalista estaria a agir contra Roberto Gonçalves por vingança. A direção da empresa cogitou até demiti-la. Foi poupada pela ponderação de um dos proprietários. “Em consideração ao bom trabalho que Sayonara Hygia sempre exerceu”, comenta um diretor da empresa. Ela o acusa de assedio sexual...
Ainda ontem, o Sindicato dos Jornalistas e o Sindicato dos Radialistas publicaram nota oficial na qual apresentavam “extrema preocupação com as denúncias veiculadas nesta terça-feira (06) de assédio por parte do diretor de Jornalismo da TV Sergipe (clique na foto para ampliar)”. No mesmo documento, comentavam que as “denúncias são gravíssimas, principalmente a de assédio sexual”. Por meio de sua página pessoal no Facebook, o presidente da representação dos radialistas, Fernando Cabral, chegou a pedir para “compartilhar esta (citada) nota, até chegar na Rede Globo. FORA Roberto Gonçalves, o REI do SOFÁ.”
Preocupada com a repercussão bastante negativa provocada pela divulgação da notícia e ainda pela pressão dos sindicatos – estaria programada para a manhã desta quinta-feira uma manifestação contra Roberto Gonçalves em frente a TV Sergipe, que por fim não ocorreu –, a direção da emissora decidiu ontem à noite pelo afastamento do diretor, “até que sejam concluídas as investigações”. Assume interinamente a função a jornalista Rosa Vasconcelos. Albano Franco ligou para Fernando Cabral e para a presidente da representação dos Jornalistas, Caroline Souza, com o fito de “acalmar os ânimos e deixar que a Justiça atue. A partir daí, outras providências serão tomadas”. Foi elogiado pela iniciativa.
Estive algumas vezes com Roberto Gonçalves, uma delas num bar da Orla da Atalaia frequentado por apreciadores de Jazz. Não me pareceu ter perfil de um psicopata, apesar de aparentar certa timidez. Mas se usa do poder de um cargo para explorar boas oportunidades sexuais, certamente pode ser classificado como tal. Neste caso, além das punições previstas no Código Penal (Lei n° 10.224, de 2001), o jornalista precisa de auxílio médico. Por outro lado, não conheço Sayonara Hygia. Pessoas próximas a apontam como sendo uma personalidade muito acessível, com amizades interessantes no meio político e graciosa com os colegas.
Contra o agora quase ex-diretor de Jornalismo da TV Sergipe pesam os testemunhos de várias pessoas dentro e fora da empresa. Para piorar, duas estudantes – estagiárias de jornalismo da emissora – teriam hoje confirmado em depoimento à polícia também serem vítimas de assédio sexual quando estiveram sozinhas com o jornalista, que deve afastar-se do estado por ora. Independente disso, não devemos esquecer, ele é persona non grata justamente para todos que o acusam...
O “incêndio” na TV Sergipe parece contido. Ocorre que a peste anda solta... Depois do agito no Morro da Piçarra, há um fogo de monturo noutro Departamento de Jornalismo, onde o diretor também se destaca há anos por ser pretensiosamente galanteador... E para bom entendedor... “Sayonara”!
Ah, na minha inocência, quase esquecia! Toda essa danação, me fez lembrar um vídeo cujo título é “WTF Is This Little Girl Watching?”, que traduzo livremente como “Que cabrunco é essa porra desse teste do sofá que essa menina está assistindo?” (vídeo abaixo). Peço que o vejam com o áudio em volume considerável. A surpresa é inevitável...
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Por David Leite | 08/08 às 17h20
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(*) No afã de ajudar o patrão a reeleger-se ao cargo de governador em 1998, o jornalista André Barros cometeu uma série de barbeiragens legais, em atentado flagrante à Lei Eleitoral. A TV Sergipe foi multada pelo TRE e ainda ficou 24 horas fora do ar, como parte da punição. O incidente quase fez a emissora perder a concessão da Rede Globo. Em 1999, após um acordo entre as partes, o comando do Jornalismo do Canal 4 passou a ser indicado pela direção geral de Jornalismo da rede. Como “prêmio de consolação”, André Barros foi empossado por Albano Franco no cargo de secretário de Comunicação do governo estadual, ficando nele até meados de 2002.
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O MORDE-E-SOPRA DE CARLOS BATALHA
Através da sua coluna publicada dominicalmente pelo Correio de Sergipe, o secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju Carlos Batalha mandou um recado à turma que torce pelo imediato rompimento da aliança política entre os grupos comandados pelo prefeito João Alves Filho e o senador Eduardo Amorim – gente da situação e membros do próprio grupo da oposição, caso escancarado do deputado federal Mendonça Prado.
Diz o jornalista: “O desejo da grande maioria dos dois grupos” é manter a aliança, pois “o relacionamento entre eles (os líderes) é excelente, mas o próprio João Alves Filho gosta de citar uma frase de Ulisses Guimarães que dizia 'Política é como nuvem, uma hora está de um lado, outra hora está do outro' – na verdade, a frase é do espirituosíssimo governador mineiro e senador por Minas Gerais José de Magalhães Pinto, já falecido.
Ou seja, apesar do momento de “amor”, na impede que amanhã o prefeito decida sair candidato a governador e... O próprio Carlos Batalha arremata: “Ninguém poderá garantir uma candidatura de João Alves Filho, como não poderá garantir uma composição para a formação de chapa com Eduardo Amorim (provável candidato do PSC à sucessão de Marcelo Déda).” Na verdade, o Negão sonho todos os dias com tal possibilidade – voltar ao governo! – e só não será candidato, caso as pesquisas não lhe apontem alguma chance de vitória.
Ao mesmo tempo que aplica uma dentada nos aliados mais afoitos pelo fim de aliança entre Democratas e PSC, o esperto secretário faz o jogo do “joão sem braço”, apontando justamente para a frente governista: “Jackson Barreto é velha raposa, mas tem contra si a má vontade da ala mais conservadora do PT, que não engole bem o seu nome... parece ter consciência disso, mas parece não dar importância”. Seria por que tem a máquina estatal às mãos e assim pode fazer o jogo político de angariar apoios, inclusive o do prefeito João Alves Filho?
Se o imbróglio político em Sergipe correr como as nuvens citadas por Magalhães Pinto, o despiste de Carlos Batalha pode se confirmar acertado: “Nada está definido”...
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Por David Leite | 05/08 às 10h25