A POESIA CHOROSA DE CARLOS CAUÊ
Abram o coração e deixem entrar a poesia. Como disse Paulo Leminski: “Ameixas / ame-as ou deixe-as.” Os poetas são assim mesmo, um tanto quanto confusos para a maioria dos mortais. Ou como propôs Walt Whitman, todos devemos ter “Uma hora para a loucura e a alegria!”, pois estamos vivos, não é? A poesia não tem compromisso com qualquer sentido...
O jornalista e publicitário Carlos Cauê também se assume um “poeta”. Deve haver um poeta em cada um de nós, imagino! O meu, por exemplo, com certeza mora nos cafundós da China, em alguma montanha. Estas linhas pretendem traçar as minhas impressões sobre o livro “amorável”, que li nesta madrugada de domingo.
Os poetas sempre foram os mais inventivos dos humanos. Fingem sentimentos que jamais lhe afloraram, senão na mente fértil. Poesia por vezes nem carece de palavras ditas. O silêncio também pode expressar. Vejam a capa de “amorável” (reprodução nesta postagem): num vidro molhado de um box de banheiro com temperatura elevada, alguém (parece uma mão masculina) desenha um coração sobre o qual impõe a mão direita, que também lhe sustenta o corpo, como se recebesse algo por trás – uma massagem? A cena erótica diz sem dizer...
A começar pelo título, “amorável” é uma danação. É mera conjectura, pois de Carlos Cauê (pessoalmente) nada ouvi sobre. Mas julgo que amorável venha a ser um adjetivo que designa algo digno de ser adoravelmente amado, por suas qualidades superiores. Nem mesmo o “prefaciador” do livro, o também poeta e membro da Academia Sergipense de Letras jornalista Amaral Cavalcante, ousou definir o que venha a ser “amorável”. Mas convenhamos, isso pouco importa, caso a poesia de Carlos Cauê seja algo sublime.
Eis pois: tudo começa e termina no campo do sublime, quando o assunto é poesia – nem mais nem menos! Jozailto Lima, poeta e jornalista, “posfaciador” de “amorável”, ficou encantado com a declaração de Carlos Cauê de que Faço versos como quem sangra. Mulheres sangram todos os meses, mas há poesia nisso? Ainda prefiro Manoel Bandeira em “Desencanto”: “Eu faço versos como quem chora” – “volúpia ardente... tristeza esparsa... remorso vão... amargo e quente.” Carlos Cauê sangra e chora, pude confirmar.
“amorável” seria um esforço meso verborrágico de obliteração de alguma paixão mal resolvida? As “confissões” afetadas (em alguns raros momentos), beirando a quase confidência, revelariam um coração atormentado pela decepção amorosa, que aguarda a “Recompensa das esperas”? Nada disso importa, se a alma é grande. Neste sentido, “amorável” revela um novo poeta: “... E o teu olho cego / Acendendo em mim a destruição / Da minha recusa”.
Podem dizer o que quiser, para mim Carlos Cauê faz poesia, sim! Ao seu jeito e maneira, como fazem os poetas. Todos somos um pouco poetas, afinal... Não arrisco escrever mais nada, hoje... hoje!
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Por David Leite ©2014 | Reprodução permitida, se citada a fonte.
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