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A CPI da Lava Toga é puro oportunismo e questão de poder
David Leite*

Quase choro ao tirar o docinho da boca de uns e outros, confesso! No entanto, para que a verdade não morra, é preciso dizer com todas as letras: a CPI da Lava Toga nada tem a ver com passar a limpo o Judiciário, o que seria uma ação salutar em si. Trata-se apenas de peça de propaganda eleitoral para o pleito de 2022, a fim de garantir palanque a candidaturas futuras de lavajatistas e fortalecer um novo núcleo de poder.
Inicialmente, a ideia por trás da Lava Toga tinha o objetivo supostamente meritório de eviscerar o Judiciário, em especial o STF - Supremo Tribunal Federal. Impedimentos regimentais são alegados para evitar a CPI e garantir que não haja, ao menos por ora, um desnecessário confronto entre poderes da República. Ou seja, não adianta forçar a barra, pois ela não sairá do papel.
Os problemas no Brasil não estão no Judiciário e menos ainda em ministros do STF, mas no uso político dos instrumentos do Estado para fins eleitorais e pessoais, como fizeram o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato, e como faz o atual presidente da República no desmonte das instituições republicanas.
Não parece incomodar certos próceres do Brasil sem corrupção que o hoje ministro da Justiça e Segurança Pública tenha cometido atos corruptos em nome de proteger o Brasil de políticos ladrões. Por que não propor a CPI da Lava Jato? Ora bolas, por ser equivalente a um suicídio político! Como diria o falecido amigo Rosalvo Alexandre, seria “matar a galinha dos ovos do ouro”.
Há corruptos no Judiciário? O leitor tem dúvida? A própria ex-ministra Eliana Calmon, primeira mulher a compor o STJ - Superior Tribunal de Justiça -, quando esteve corregedora nacional de Justiça, em 2011, afirmou que “bandidos de toga” estavam infiltrados no Judiciário e que a Lava Jato precisava chegar àquele poder. Ela naturalmente desconhecia os porões da operação.
Para infortúnio da turba de Sérgio Moro, que inclui parlamentares, foram trazidos a público pelo The Intercept Brasil os desmandos da Lava Jato, um submundo no qual o conluio entre o então juiz, promotores, policiais e auditores da Receita Federal perseguia objetivos escusos, para fins políticos e pessoais. Estamos diante de falsos heróis, que lucraram com a operação cujo alegado combate à corrupção escondia o abuso do sistema jurídico.
E o que uma coisa, a Lava Jato, tem a ver com a outra, a Lava Toga? Já no começo da Lava Jato, políticos poderosos atingidos pelas investigações tentaram sufocá-la. Agora, o próprio Jair Bolsonaro maneja contra a operação. O discurso de combate à corrupção e de confronto com o STF começou a perder o sentido para o presidente da República logo depois da vitória eleitoral.
A falta de explicações convincentes sobre movimentações financeiras atípicas de Flávio Bolsonaro denunciadas em vazamentos de dados do Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras -, hoje extinto por seu pai, e o sumiço de Fabrício Queiroz, ex-policial militar que trabalhava no gabinete dele quando era deputado no Rio de Janeiro, o tornaram personagem vulnerável. Agora, o senador Zero Um trabalha para barrar a CPI.
Uma coisa puxa a outra: a Lava Toga afeta a família Bolsonaro diretamente. Ora bolas… não se dá carne a gato! A CPI contraria interesses estratégicos compartilhados pelo presidente da República, que passou a enxergar nos lavajatistas, em especial Sérgio Moro, prováveis adversários, afinal 2022 é logo ali.
Na esteira de Sérgio Moro surgem figuras como o senador Alessandro Vieira, nascido em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, mas eleito por Sergipe em 2018. O delegado crê piamente que está no Senado não por um aborto da natureza, mas por seus elevados méritos pessoais e políticos. E assim, sua vitória ao governo sergipano em 2022 seria algo “natural” e a CPI o seu cartão de visitas.
Será que um plano tão rocambolesco dará certo? Isso agora não vem ao caso, posto que o mais importante no momento é galgar espaço na mídia nacional, sempre muito disposta aos “heroísmos” e oportunismo, não necessariamente nesta ordem. De fato, como nada tem a perder, 2022 é uma escala tranquila para Alessandro Vieira e tantos outros lavajatistas na mesma condição.
[*] É consultor em Marketing Político e Eleitoral.
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Publicado originalmente em http://bit.ly/2NkS3Xw-jlp17set.