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Domingo,
02/10/2011 | 19h05 | Por David Leite
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Série
| Meia década jogada no lixo
Parque
Tecnológico de Sergipe
Orador cuja verve já foi
adornada de predicados por ninguém menos que o ex-presidente
do TSE, ministro-poeta Carlos Brito (STF) – seria, naquela
atualidade, “nosso” Demóstenes (político e o maior
dos oradores gregos - 384/322 a.C.) –, o governador Marcelo Déda
finalizará o primeiro ano do segundo mandato (2010/2014) num
péssimo contexto: palavras, no caso dele, são apenas
isso: palavras...
O duro crítico doutros governantes
elevou Sergipe ao deboche nacional, com aparições
rotineiras em programas de TV de grande repercussão. Não
lhe será perdoado o desmonte de setores estratégicos,
como a saúde (sucateamento do Samu) e a educação
(com a inconcebível posição humilhante obtida no
IDEB, sistema de avaliação de qualidade do MEC).
Douto na
jactância, Marcelo Déda eivou-se em infindáveis e
apopléticos discursos – vocábulos jogados ao vento,
contata-se hoje, após meia década perdida, atirada ao
lixo...
Vejamos o ocaso do Parque Tecnológico
de Sergipe. Deveria ser referência no Nordeste, inclusive à
frente do Porto Digital do Recife/PE, que produz tecnologia da
informação e comunicação, com foco no
desenvolvimento de software. Mas, apagou-se!
Fundado em julho de 2000, o Porto Digital
é hoje um gigante. Tem 173 empresas dividindo cem hectares
num complexo de prédios históricos restaurados do
Recife Antigo, dentre as quais multinacionais como Motorola, Borland,
Oracle, Sun, Nokia, Ogilvy, IBM e Microsoft. Fechou 2010 com 6,5 mil
empregos diretos e responde por 3,9% do PIB de Pernambuco – tem
ainda biblioteca pública, duas incubadoras de empresas e 8 km
de fibra óptica.
O Parque Tecnológico de Sergipe
nasceu em 2004, por iniciativa de João Alves Filho, após
comprovar a eficácia de empreendimentos semelhantes na Europa,
Estados Unidos e Canadá. Inicialmente implantado no Centro
Administrativo Augusto Franco em Aracaju, o parque sergipano
encontra-se basicamente como há cinco anos. Hoje, possui 20 e
poucas empresas, tem três incubadoras e seis instituições
de pesquisa. Gera algo como 200 empregos diretos.
Alvo da demência administrativa do
governador Marcelo Déda, o parque sergipano empacou por falta
de espaço físico e de visão empreendedora.
Desafortunadamente, João Alves Filho foi impedido de contrair
financiamento de R$ 35 milhões para construir dois dos
inúmeros prédio previstos para compor, no antigo
Aeroclube de Aracaju, o que poderia ser hoje um dos maiores polos de
tecnologia do Brasil.
O projeto, conforme pode ser visto na
foto da maquete ao lado, visava abrigar mais de 50 empresas e quatro
incubadoras, num ambiente ecologicamente aprazível, similar ao
encontrado nos parques tecnológicos do Primeiro Mundo. Marcelo
Déda preferiu, no entanto, descontinuar tudo o que já
sido elaborado – até a área já negociada com o
aeroclube foi devolvida – e “recomeçar” do zero, fato
que atrasou Sergipe sobremodo na guerra tecnológica.
Apenas com os dois prédios
inicialmente previstos para serem implantados até meados de
2008 na nova área, poderiam ser gerados 1.600 empregos
diretos. Ademais, atrair multinacionais de ponta, como ocorreu com o
Porto Digital do Recife, causaria incomensurável efeito
sinergético no mercado tecnológico local, com reflexos
positivos (em Sergipe) nas universidades e empresas – fossem micro,
pequenas, médias ou grandes – e no florescente parque
industrial nordestino.
Assunto tão instigante carecia que
bons exemplos espalhados pelo mundo aqui pudessem ser apresentados.
Mas basta ao leitor interessado em aprofundar-se pesquisar sobre
impactos diretos dos parques tecnológicos na economia de
inúmeras cidades de países avançados e
emergentes (Índia, China, Israel...) para concluir o quanto
estamos engatinhando, quando a situação poderia ser
outra – muito, muito melhor! –, não fosse a visão
caolha do atual gestor.