Quarta-feira, 06 de dezembro de 2010 – 14h55

Leia nesta edição:

>>> Huse, um Caso de Polícia

>>> Marcelo Déda, um Cristão Nada Ecumênico

>>> A “Navalha” Agora é de Todos

Antes dos escritos inaugurais de 2010, cumprimento a paciente audiência desta trincheira com votos de muita saúde, prosperidade e paz para o ano nascente. Buscarei ser breve nos comentários, com o fito de trazer o maior número possível de observações do cenário político nestes quinze últimos dias. Uma semana produtiva para todos...

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Huse, um Caso de Polícia

Verdade incontestável: 2009 foi o pior ano para a saúde pública de Sergipe. Como ignorar a desintegração administrativa do Hospital João Alves –ou Huse (Mas não Abuse, porque não Aguenta)? Até a SSP teve de ser acionada para evitar as faltas ao trabalho.

Doutor Rogério Carvalho perdeu o controle da situação –em três anos, somam cinco suas indicações para comandar o HJA. O diálogo já não mais funciona para evitar a algazarra. Apenas médicos foram denunciados à polícia. No entanto, são comuns –e não é fato apenas neste governo– as faltas de todo tipo de servidor (enfermeiros, técnicos e auxiliares...) nos plantões do Huse, especialmente nos feriados prolongados.

A situação tende a complicar-se ainda mais. Vejamos: profissionais da Neurocirurgia, especialidade existente em Sergipe apenas no HJA, estão com salários em atraso desde outubro; alguns médicos pediram demissão; das nove salas de cirurgia, apenas quatro operam, enquanto as demais servem como áreas de estabilização de pacientes pós-operatório ou para almoxarifado.

Na chamada Área Amarela, pacientes no respirador artificial passam várias horas sem a presença de um único médico plantonista, designados para atender casos mais graves ou simplesmente porque faltaram. Ontem, equipes do Conselho Regional de Medicina, da Sociedade Médica de Sergipe e do Sindicato dos Médicos realizaram nova vistoria técnica no HJA. Conceito geral: o caos aumentou consideravelmente.

Uma inovação imposta pelo secretário Rogério Carvalho inaugurou no Governo da Mudança para Pior a eugenia seletiva: médicos contratados sem concurso foram encarregados de dar alta a pacientes ou transferi-los para outras unidades de saúde. Muitos doentes graves morrem em casa ou em algum posto de atendimento, desafogando as tristes estatísticas do HJA, em benefício da imagem do governo Marcelo Déda.

A questão inquietante é constatar um sem número de visitas, de queixas públicas e entrevistas bombásticas, mas absolutamente nada ser feito por essa turma das entidades de classe (e dos Ministérios Públicos Federal e Estadual) diante de tantos falecimentos. O HJA virou um matadouro. Por que não decretar intervenção ética? Parece existir algo insondável, intransponível, além do corporativismo, a permear tamanha letargia...

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Marcelo Déda, um Cristão Nada Ecumênico

No sábado 12/12, Marcelo Déda subiu num palanque evangélico armado na Orla da Atalaia para agradecer as orações dos fiéis, e obviamente garimpar votos. O governador quase licenciado discursou à comunidade liderada pelos pastores-deputados Mardoqueu Bodano e Antônio dos Santos e pastor-vereador Jony Marcos relembrando sua época de prefeito, quando sancionou lei incorporando um evento gospel às comemorações oficiais do aniversário de Aracaju –patrocinado com dinheiro público, frise-se.

O culto-comício citado acima, que fechou o ano cristão evangélico, contou com apoio decisivo do governo estadual e da administração comunista de Aracaju –além de verbas para a produção (palco, som, luz), teve o suporte da SSP (Polícias Civil e Militar) e Samu. Cristãos católicos, cuja tradicional procissão de Bom Jesus dos Navegantes é realizada anualmente abrindo o calendário de festividades da Igreja, e neste ano coincidiu com o aniversário de 103 anos da Paróquia de Santo Antônio, não tiveram a mesma sorte.

Marcelo Déda pode certamente escolher quem deve ou não receber dinheiro público como subvenção aos eventos comunitários, inclusive os de cunho religioso. A questão aqui é outra, porquanto Sergipe inteiro ouviu a grita do arcebispo metropolitano, Dom José Palmeira Lessa. Indignação motivada pela falta de apoio do governo Marcelo Déda e do prefeito Edvaldo Nogueira ao evento católico.

No caso, a diferença básica entre um e outro está na deferência aos discursos. No evangélico, Marcelo Déda desfiou sua ladainha e veladamente pediu votos. No católico jamais poderia fazer comício no meio da missa. Por que então colaboraria, apenas para ter o nome citado pelo padre de plantão, recomendando um agradecimento em nome da comunidade? O coração de Marcelo Déda é somente pragmático...

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A “Navalha” Agora é de Todos

O petismo nacional tratou de macular a imagem do ex-governador João Alves Filho, através da prisão do seu filho pela Polícia Federal, numa operação cujo fito era sepultá-lo política e economicamente. Não deu certo! Pesquisas apontam o Negão muito bem na opinião pública, disputando com Marcelo Déda a preferência do eleitor –no quesito finanças, as empresas da família continuam “monitoradas” por todos os órgãos de fiscalização do governo federal diuturnamente.

A informação da IstoÉ Dinheiro sobre a inclusão de Marcelo Déda num inquérito complementar à Operação Navalha –sem levar em conta o fato de no início do governo ele ter pago mais de R$ 600 mil à Construtora Gautama, a pedido de Flávio Conceição– compromete o discurso do governador da mudança para pior. Como poderá ele falar na “Navalha”, se acabou imiscuído no imbróglio?

Porém, o maior dos problemas foi criado para o conselheiro-avatar do Tribunal de Contas do Estado, Clovis Barbosa, cujo cargo foi “criado” por ato administrativo sem efeito legal, com o objetivo de enterrar Flávio Conceição e apagar da memória coletiva um homem-bomba, com ligações políticas de A a PT. Ficam assim mais claras as reais motivações de Marcelo Déda ao modelar um avatar a fim de apressadamente substituir Flávio Conceição, eleito, alias, com apoio da bancada dedista.

Pobre Clovis Barbosa. Com a inclusão do nome do padrinho na Operação Navalha, perde o suporte do discurso moralista, sem o qual passa a ser apenas o que de fato é: um arremedo, uma figura irreal. O conselheiro-avatar do TCE...

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Por hoje é só. Grato pela atenção. Um bom dia a todos!