::: Sexta-feira, 14.12.2007 - Edição Número 209 :::

ESTADO DOS PERDIDOS
Lembra daquela satírica série da TV americana reproduzida no Brasil no finalzinho dos anos 1970, começo da década de 1980, chamada “Perdidos no Espaço”? Um casal e seus três filhos, um ex-piloto de guerra americano, um médico e um robô rodavam pelo universo em busca da Terra, que havia sumido do mapa. Os sergipanos vivem hoje situação semelhante àquela do intrépido grupo aventureiro. Em busca de um estado modernoso, descobriram-se completamente perdidos no imenso vazio da administração Marcelo Déda. Dezembro chegou e com ele o Ano Novo. Passaram-se quase 12 meses e tudo no governo da mudança cabe perfeito no buraco negro das promessas de palanque até hoje não cumpridas. Falta disposição para o trabalho, mas os salários de marajá pagos aos secretários são os melhores do Brasil. O retrato da Saúde é patético: hospitais fechados, falta de remédios e o povo morrendo como pulga; já os apadrinhados se lambuzam no mel da enxurrada de contratos sem licitação. Dias desses, um pobre coitado passou por todo o pré-operatório e já na mesa de cirurgia tentaram cortar a área da intervenção com uma “faca” (bisturi) cega; o cidadão foi mandado de volta à enfermaria até que o material cirúrgico fosse comprado. Os programas sociais de combate à pobreza se resumem a ajudar carentes filiados ao PT. Ações respaldadas pelo povo verdadeiramente necessitado, como o “Banco do Povo”, “Sergipe Alfabetizado”, “Pró-Mulher/Pró-Família” e o “Sergipe Minha Casa”, de erradicação de casas de taipa, foram parar na lata do lixo. A falta de segurança pode ser ilustrada pelos casos da delegada assaltada, da polícia de carona no carro de uma emissora de TV para chegar a um seqüestro em Monte Alegre, das fugas em demasia dos presídios, da superlotação nas delegacias. Num estado onde uma cidadã entra em um distrito policial armada e consegue resgatar o esposo que estava detido, a segurança vai muito mal. Marcelo Déda, por seu turno, está bem “achado”. Ganhou até uns quilinhos a mais. A pança é visível. O governador da mudança usa o poder obtido pelo voto para perseguir adversários e nutrir a trupe que lhe afaga o ego. Cercado de puxa-sacos dispostos a decantar-lhe as próprias virtudes, finge desconhecer a triste realidade do cotidiano. Focado apenas em interesses comezinhos e no aproveitamento rasteiro e mundano da estrutura a que todo governante tem direito, dos vinhos caros aos charutos cubanos legítimos, a grande estrela do PT sergipano age como se fosse um “novo rico”! É esperar que em algum ponto do espaço siderado desta rotina encontre ele a Terra da razão, capaz de fazê-lo deixar de lado a vida mansa e finalmente dar início ao tal governo que tiraria Sergipe do vácuo do atraso! É o que se espera para 2008...

::: Quarta-feira, 12.12.2007 - Edição Número 207 :::

SEM VASELINA
Dias atrás, o líder da oposição na Assembléia, Venâncio Fonseca, alertou sobre o comportamento do governador da mudança no trato com o Legislativo. Após denunciar que Marcelo Déda estaria governando por decreto, o deputado desnuda agora a manobra na reta final do ano para a votação de 10 projetos, polêmicos na maioria e que requerem grande discussão antes de ser votados. Reduzida a seis parlamentares, a oposição não pretende aceitar em silêncio as imposições do governo do PT. A atual legislatura se encerra amanhã e os parlamentares teriam teoricamente somente dois dias para apreciar as propostas em tramitação na Casa. Para Venâncio, trata-se de um grande absurdo, pois o governo não teve pressa de votar as proposituras durante os últimos 10 meses: “Por que a Assembléia vai ter pressa para votar tanta coisa sem discussão?”. Para os capangas infiltrados na mídia que já preparam a defesa prévia do governador Marcelo Déda, apontando a má vontade da oposição, surge o contraponto: muitos dos projetos praticamente dão carta branca ao Executivo para fazer o que bem quiser em setores estratégicos. Delegar tanto poder a um governo que flerta com o autoritarismo, o revanchismo e a esperteza não é de bom alvitre. Aproveitar-se das horas finais de um ano legislativo completinho para empurrar apressadamente nos deputados, sem nenhuma conversa, as tais propostas de mudança é mais um dos inúmeros oportunismos descarados do governo do PT. Debater é preciso! Se os deputados estaduais liberarem a prerrogativa, a próxima incursão do poderoso governador num legislativo passivamente ajoelhado poderá ocorrer sem a esperada e providencial “vaselina”...

::: Terça-feira, 11.12.2007 - Edição Número 206 :::

INFERNOS DO RETROCESSO
Os capangas midiáticos infiltrados na imprensa sergipana tentam a todo custo minimizar o desastroso primeiro ano do governo do PT. Sem poder apresentar nada de concretamente novo ao ludibriado eleitorado, a cafajestada tapa os buracos das colunas “jornalísticas” falando até da relação de Marcelo Déda com o espelho. O governador da mudança estaria esgotado fisicamente por conta do exercício mental diário, que faz tão logo acorda, para conter o excesso de otimismo. A dificuldade no controle da empolgação advém do fato de o príncipe petista enxergar um excelente futuro para Sergipe. A conversão de Marcelo Déda à futurologia é pertinente e pelo visto bastante necessária. Como seu governo não deu conta dos inúmeros problemas administrativos do presente, acreditar piamente em dias mais auspiciosos, conforme imaginado quando conversa com o próprio espelho, além da sensação de alívio pelo desapontamento causado nos que nele confiaram, dá ao governador da mudança a chance de pensar em algo positivo. Atarefadíssimo na perseguição mesquinha aos adversários e no desmonte do programa de gestão deixado pelo ex-governo, Marcelo Déda teve tempo nos últimos 11 meses apenas para guardar quase R$ 800 milhões e assinar os financiamentos dos projetos negociados pelo ex-mandatário, cuja soma prevista chega a R$ 500 milhões. As notícias alvissareiras do crescimento do PIB, melhor qualidade de vida do Nordeste (IBGE/Censo 2006), obras do PAC, conclusão de rodovias, início da ponte Mosqueiro/Caueira, entrega da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes e até empreendimentos industriais e turísticos resultam na verdade das intervenções da administração anterior. Assim dito, o “céu de brigadeiro” sonhado pelo governador da mudança para 2008 nada tem a ver com um provável golpe militar aplicado desta feita pela Aeronáutica ou com alucinações provocadas pelos efeitos colaterais de medicamentosos indicados a combater o estresse. A futurologia só comprova que nem Marcelo Déda agüenta mais tanta notícia desagradável: descontrole total na Segurança, mortes por causa da imundície dos nosocômios, esperteza nas licitações da Saúde, paulada nos estudantes que protestam, desprezo pelos servidores, salários de marajás dos secretários... Lamentável perder um ano inteiro. Comemorar o quê? Para 2008, as esperanças se renovam. Dinheiro tem de sobra, projetos existem, promessas do presidente Lula da Silva de ajuda não faltam. A escassez de pessoal abalizado no Partido dos Trabalhadores é um problemão. Não se acha na esquina gestores probos e competentes, dispostos a pegar duro no batente. Estes são os grandes desafios de Marcelo Déda no ano vindouro. O PT também precisa descer do palanque e permitir a construção do almejado novo modelo de gestão, declamado em verso e prosa pelo governador eleito em outubro de 2006. Desapegar-se da Mãe-estado já seria um bom começo. Afinal, Sergipe não merece permanecer bancando os prazeres de quem nunca provou do mel nem tacanhamente focado no retrovisor, à mercê de quimeras e sempre a esperar por dias melhores! 2008 deve ser o ano da ação...

::: Segunda-feira, 10.12.2007 - Edição Número 205 :::

TRANSPOSIÇÃO DO BANESE
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Altos empresários sergipanos estão preocupados com o destino do Banco do Estado de Sergipe (Banese). Com receio das represálias, comentam a boca miúda sobre certa operação ultra-secreta, engendrada entre o governo federal e o governo da mudança, visando adequar a instituição financeira à cartilha dos privatizáveis, seguindo o receituário do Banco Central para operações do gênero. Ao lidar com o mercado financeiro no Sudeste, a elite dos empresários sergipanos é sempre questionada sobre os procedimentos adotados pelo governador Marcelo Déda, especialmente na gestão estratégica do Banese. Além de administrar a folha de pagamento do Estado e da maioria das prefeituras e grandes empresas sergipanas, o Banese é responsável por fomentar o desenvolvimento do estado emprestando a juros baixos. Segundo a mais conceituada agência internacional de avaliação de risco com atuação no Brasil, a Austin Rating (05.01.2007), o banco se destaca pela “elevada solidez, tanto no âmbito financeiro como corporativo/institucional, com efeitos positivos no crescimento e sustentabilidade do banco, refletindo no desempenho fiscal do seu controlador, o Estado de Sergipe”. Por estas razões, os grandes financistas brasileiros e internacionais flertam com a privatização do banco sergipano, mas sabem que há um concorrente extremamente forte na jogada. O Banco do Brasil. O mais forte banco do País tem interesse especial pelo mercado onde o Banese é hegemônico. Para atender ao interesse do compadre-presidente Lula da Silva de aumentar ainda mais o raio de atuação do Banco do Brasil, o governador da mudança chega ao ponto de sangrar o banco sergipano, transferindo para o Banco do Brasil parte da receita do estado. No embate com o deputado Mendonça Prado duas semanas atrás, o secretário Nilson Lima (Fazenda) confessou que parte dos mais de R$ 800 milhões economizados desde janeiro pelo governo do PT estavam depositados no banco federal. Em abril de 2004, o então vereador Antônio Gois denunciou a “intenção” do governador João Alves Filho de privatizar o Banco do Estado de Sergipe. Goisinho chegou a detalhou na tribuna da Câmara como a operação era feita. As “visões” do atual presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) podem agora se concretizar, justamente pelas mãos de quem ele ajudou a eleger. O governo do PT nega a intenção de privatizar o Banese. Por mais de uma vez, o líder petista na Assembléia, Francisco Gualberto, rechaçou a possibilidade e disse que quem pretendia vender o banco era João Alves Filho. Diante de tanto alvoroço do mercado financeiro, das várias inquirições de agentes dos grandes bancos aos empresários locais e as ações sorrateiras de sabotagem do Banese realizadas pelo PT, incluindo o assassinato do Banco do Povo, só resta mesmo esperar para ver onde a novela da privatização vai acabar. Mas, como diz o ditado, onde há fumaça...