DO MESTRE TÃO GOMES PINTO, DUAS CERTEZAS:
COM ELE, ALÉM DE APRENDER, VAI SE RIR MUITO
Dizem que recordar é viver... Eis pois, em setembro de 2011 recebo em minha casa em Aracaju um colega a quem há muito admirava e jamais pensei um dia conhecê-lo pessoalmente – até então, ele também nem sonhava com a minha pacata existência internética, diga-se! Meu primeiro ofício na Comunicação Social foi no rádio FM. Naquele 1987, com Ronaldo Moreira, Beto Moreno e companhia, já era eu um leitor contumaz de livros e revistas. As combativas semanais IstoÉ e Veja estavam entre as minhas preferidas, pela ousadia, dinamismo, modernidade...
O editor de Política da IstoÉ de então era reconhecidamente um jornalista talentoso, com passagens honradas em publicações como Notícias Populares, a Edição de Esportes d'O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e na própria Veja, da qual é fundador. Com aquele mestre das palavras me era possível aprender (à distância) muitos dos vários ofícios possíveis ao jornalista, fosse como repórter, cronista ou analista da cena política – Tão Gomes Pinto!
Tenho de confessar, minha admiração dobrou ao ler o excepcional O Elefante é um Animal Político (Geração Editorial), com a reunião das mais interessantes crônicas escritas por Tão Gomes Pinto numa fase romântica do Brasil, “livro que pode funcionar como um relato de um período ainda sem leitura consistente da história política brasileira, a denominada 'fase de transição', que pelo jeito continua transitando por aí, sem chegar a lugar algum”, conforme relato do próprio autor, um mamute do jornalismo...
A memória paquidérmica, adentrada aos mínimos detalhes de cada evento, faz antes de tudo rir... rir muito com histórias entrelaçadas por comentários... elefanticamente enfáticos! O livro de Tão Gomes Pinto fala sobre quem estava no poder ou gravitava em seu entorno. Sugere proibir, por decreto, a circulação de peruas Kombi em todo o território nacional – no que haverei de... concordar! Lembra ser Brasília, até dia desses uma pacata área deserta, a cidade dos “doutores” – alcunha até para quem mal completou o curso primário. Trata a Rússia revolucionária como uma “entidade social e politicamente reacionária”... Ufa.
Mais adiante, é impossível não gargalhar com os intrépidos périplos sexuais na Casa Branca dos Kennedy ou com a concepção do velho Vladimir Ilitch Lênin (ou Lenine) sobre “a liberdade do amor” num copo d'água; ou ainda sobre a escolha (fatal!) dos candidatos a vice-presidente, mesmo depois de José Sarney e Itamar Franco – e agora, do profilático Michel Temer. Santo azar, diria Hardy, aquela hiena que possui a estranha característica de ser altamente pessimista... E claro, sem “fundos” não se pode fazer campanha eleitoral, e eles jamais poderão ser rotulados simplesmente como “não-contabilizados”, todos sabemos!
Tão Gomes Pinto é de um o tempo em que a devolução do imposto de renda era feita por meio de cheque e possuir um doutorado não era sinônimo de “saber” – que o diga Mangabeira Unger ou Tancredo Neves, escalando seu ministério a beira-mar. “Saber” aqui tem o tom hilário de um engasgo com mamão papaia, algo complicado até prus mais espertos. Aliás, o relato sobre a posse de Tancredo Neves, a posse que não houve!, deve ser lido várias vezes, muitas vezes, sempre, porquanto é mais do que memorável.
O danado jornalista ainda envereda pelas “forças conhecidas” que atormentaram Jânio Quadros, pelo Dragão da Inflação – assim, com maiúsculas –, e pela linguagem dos sinais de Paulo Coelho que, “com a exceção da jabuticaba, é episódio rigorosamente verdadeiro”. Tão Gomes Pinto, sabe-se lá a razão, achou que Leonel Brizola foi “o último dos estadistas, no sentido amplo da palavra”, mas nem por isso deixou de receber do caudilho um “fuzilamento com aquele olhar emoldurado por grossas sobrancelhas”, como diria o roqueiro Lobão.
O Elefante é um Animal Político também trata de um vampiro do Planalto que nem o mais ardiloso espião da Abin poderia localizar e se encerra, sem pretenso narcisismo, comentando a fogueira das (nossas) vaidades e o tal do cui prodest, pois alguém se aproveita de tantas e ardilosas patifarias cometidas no Brasil em nome do povo e da... Bem, melhor ler o maravilhoso livro de Tão Gomes Pinto, um observador completo! Detalhe: as ilustrações em cada crônica ou “evento” são um show à parte... almas do além!
Lemos O Elefante é um Animal Político, eu e a doce Charlene Santos, minha amada Chachá, numa tarde... num só fôlego, entre uma bicada e outra num tinto chileno! Bons momentos...
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Por David Leite | 12/07 às 11h05