MANIFESTAÇÕES GOVERNISTAS E AS INTENÇÕES VELADAS
Jair Bolsonaro apostou alto nas manifestações de domingo, inicialmente incitadas por ele próprio no Twitter com o objetivo de forçar a barra, ou seja, pressionar o Congresso a aprovar sem diálogo a agenda de reformas proposta pelo governo, e de lambujem solapar a já desgastada imagem pública do Supremo Tribunal Federal (STF). Eles são considerados “elementos impedidores”.
Diante da possibilidade de ser enquadrado em crime de responsabilidade, passo inicial para um processo de impeachment, Sua Excelência recuou, mas manteve-se ativo no contraponto e no encaminhamento de bastidores. Antes e depois dos eventos, que atingiram 156 cidades nos 26 estados e no Distrito Federal, ele fez quase uma dezena de postagens no Twitter.
As manifestações não foram desprezíveis, porém, em razão de mobilizar um número de eleitores aquém do almejado pelo presidente, não foram suficientes para realizar o sonho de consumo dele e de uma corriola cada vez mais arisca, de ter poderes acima de tudo e de todos! O Parlamento e a Justiça continuarão – como de resto, também a imprensa – a influir no jogo democrático.
Mas não se enganem: as ações do presidente em busca do poder hegemônico seguirão ativas.

Hegemonia – Desde sempre predominou no Brasil o “presidencialismo plebiscitário”, herança do caudilhismo latino-americano. Não à toa, Getúlio Vargas criou a “Voz do Brasil” e Lula da Silva vivia em cadeias – ops! – de rádio e televisão. Por sua vez, Jair Bolsonaro, graças às plataformas sociais da internet, elevou a conexão entre eleitor e presidente ao estado da arte.
Com esse suposto poder, ele tenta desconsiderar as instituições partidárias e faz do apoio popular objeto de pressão de partidos e líderes partidários. Tal estratégia geralmente traz resultados no curto prazo, tanto que deputados e senadores estão com as barbas de molho. Ao longo do tempo, no entanto, a tendência de desgaste intensifica-se, especialmente quando alguma vulnerabilidade política, na economia ou um caso de corrupção atinge o presidente.
Jair Bolsonaro arrisca demais e muito cedo na estratégia de confronto com os adversários e isso tende a criar animosidade. Como não é plenamente santo e purificado, e o apoio popular tem se esvaído, problemas também na relação truncada com o Legislativo podem descambar na perda da capacidade de estabelecer os termos de negociação, com o poder de barganha e os custos de governabilidade tornando-se muito elevados.
Segundo a colega Mônica Bergamo [Folha de S. Paulo, 28/05], o impedimento constitucional do presidente está fora da agenda de Rodrigo Maia [ao menos por ora, digo eu]. O vice Hamilton Mourão não inspira confiança e o presidente da Câmara dos Deputados também é contra as propostas de semipresidencialismo, que limitariam o poder presidencial, informa a repórter.
Jair Bolsonaro não é bobo, menos ainda um sem-noção amalucado como os petistas querem pintá-lo. As idas e vindas, o bate e afaga, o discurso oportunista – tudo tem motivação previamente pensada, repito, e mira no desgaste da classe política e das instituições da República. Mas será que ele aguenta esse cabo de guerra?
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Publicado originalmente em http://bit.ly/faxaju2805.


DISCURSO PETISTA SE RENOVA COM O MAIS DO MESMO
O intelectual e senador pelo Partido Democrata americano Daniel Patrick Moynihan disse certa feita que “qualquer um tem direito à própria opinião, mas não aos próprios fatos”. Isso me faz lembrar do tal #LulaLivre, que vem a parecer com aquilo que o genuinamente culto em termos de volume de conhecimento, mas desprovido de sabedoria e de inteligência emocional, Olavo de Carvalho, denominou de “paralaxe cognitiva”.
Quem, como eu, aprecia o estudo leigo da astrofísica, sabe que paralaxe é a diferença na posição aparente de um objeto visto por observadores em locais distintos. Na visão do filósofo e guru da família Bolsonaro, essa discrepância cognitiva refletiria “o afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real enunciado pelo indivíduo”.
Na era da pós-verdade, o racional perdeu força e a emoção passou a dominar a cena política, auxiliada luxuosamente pelo “viés confirmatório”, um tipo de orientação cognitiva – um erro de raciocínio indutivo, de fato! – que se traduz na tendência de buscar informações e reagir apenas a pensamentos confirmatórios das crenças ou hipóteses nas quais a pessoa acredita.
Resumindo, a narrativa petista tenta transformar um político preso num preso político, ignorando os fatos e a realidade jurídica plenamente referendada pelas instâncias superiores, mesmo que eu também ache que a condenação de Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá (SP) tenha sido feita com base no achismo, não em provas e evidências concretas. O antológico “Lula tá preso, babaca” segue sendo a verdade histórica, e ponto!
Enfim, esta é só outra das minhas divagações filosófico-etílicas, depois de uns goles de um tinto francês de boa cepa, para alertar que o discurso petista se “renova” com mais do mesmo. Vem aí a segunda edição do Festival Lula Livre, com atrações de peso do mundo musical – já devidamente alcunhado de “Lulapalooza”. Amarrado a essa agenda, o PT tem uma âncora que o impede de avançar. E olha que chances ele teve de reavaliar sua política e passar a fazer oposição inteligente e com responsabilidade.
O “Lulapalooza” é apenas mais um desses recorrentes eventos de e para socialistas de i-Phone, realizados com os únicos objetivos de reunir a turba a fim de manter a manada unida, fazer belas imagens para o Jornal Nacional e para a propaganda de internet – e, obviamente, turbinar a degustação de cerveja e pinga barata [agora sem o poder], afinal ninguém é de ferro, gente! É o fabulário geral do delírio cotidiano, como diria o impagável e genial Charles Bukowski.
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Publicado originalmente em http://bit.ly/jlpdmilk250519