OPOSIÇÃO, CADÊ TU?
A eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) é sempre o acontecimento político que marca o início do ano, sobretudo após a posse de um novo governo – não que a gestão de Jackson Barreto seja uma novidade para os sergipanos, mas pelo caráter de agora começar um período novo, como disse o próprio governador, “pós Marcelo Déda, pós PT”.
Não se estranha que o modelo republicano adotado no Brasil privilegia, desde sua fundação, o Poder Executivo em detrimento dos demais poderes, sobretudo o Poder Legislativo, tratado como subalterno. Vimos no plano nacional o Mensalão ser desvendado pela coragem de uns pouco homens públicos como o fio de um novelo gigante fabricado pelo PT, engrossado neste momento pelo Petrolão, com métodos ilegais de fomento e manutenção de uma bancada governista cativa a soldos generosos.
Em Brasília, três candidatos concorrem pela presidência da Câmara Federal, havendo um quase eleito (Eduardo Cunha, PMDB-RJ), que promete não fazer oposição ao Governo Federal, mas que diz, também, não será submisso à gestão Dilma Rousseff. Ele esclarece: “Estamos tentando construir uma candidatura partidária, uma candidatura da Casa, que busca o equilíbrio entre os Poderes”. Outro candidato, o governista Arlindo Chinaglia (PT-SP), luta com as armas terríveis que tem, ao que parece, sem chance de vitória. Enquanto um terceiro (Júlio Delgado, PSB-MG) marca presença, mostrando que existe um núcleo divergente do tal “consenso”.
Já em Sergipe, não por acaso, apenas o Poder Executivo apresentou candidato à Alese, o ex-prefeito de Itabaiana Luciano Bispo (PMDB), cujo grande mérito é ter com Jackson Barreto uma relação antiga e simbiótica, a ponto de, ainda como governador em exercício, JB ter nomeado para a Codise o irmão dele, Roberto Bispo, um cabra cheio de problemas com a Justiça, fato que desagradou sumamente a Marcelo Déda – dizem que até acelerou seu declínio, com o agravamento do estado de saúde.
Diz o bem informado jornalista Diógenes Bryner que “a chapa (governista) foi formada com o objetivo de desconstruir qualquer outra candidatura. Dela também participam dois deputados do PSD – Jéferson Andrade e Luiz Mitidieri –, o que isola o persistente Gustinho Ribeiro (do mesmo partido deles), que ainda mantém a candidatura e hoje terá encontro com o governador Jackson Barreto para uma decisão final. Se a própria legenda (PSD) não apoia o candidato, fica muito difícil.”
Trocando em miúdos: como até governistas muito ligados ao governador e apoiados pelos colegas deputados, caso de Gustinho Ribeiro e Garibalde Mendonça, enfrentam dificuldades para se firmar, a oposição, por seu turno, optou por não peitar o governador, talvez ainda aturdida com a fragorosa derrota de outubro, que deixou muita gente sem norte, como se ganhar ou perder não fizesse parte do jogo. O “luto” psicanalítico pode ajudar...
Convenhamos, quase nenhum político quer brigar com um governador em início de mandato, especialmente com um trator como Jackson Barreto, disposto a impor novas regras de gestão e um estilo político próprio de administrar. Como trabalha feito um jegue, por certo o novo mandatário não dará trégua a uma oposição cada vez mais minguada e vacilante. Talvez venhamos a ter uma oposição muito fraca, talvez a mais fraca dos últimos 30 anos, posto que poucos oposicionistas – diria até, raros oposicionistas! – aguentam ficar mais quatro anos longe das tetas do poder.
Em resumo: a oposição perde muito com a saída de Venâncio Fonseca da liderança e com sua indicação à Mesa Diretora  3ª secretaria. Perde mais ainda por não lançar candidato próprio e disputar com os governistas, uma ação política que teria o condão de mostrar as fragilidades do candidato danado que o governador JB escolheu para comandar o Legislativo estadual.
A oposição calou, ninguém teve coragem de dizer que Luciano Bispo, mesmo sendo gente boa e um cabra de fino trato, está melado dos pés à cabeça de malfeitos praticados durante suas gestões em Itabaiana. Improbidades que lhe serão cobradas pela Justiça mais adiante e poderão até custar seu próprio mandato – e isso é algo que não se pode desprezar numa “guerra”...
Por fim, lançar candidato próprio seria mais uma oportunidade para desgastar um governo que começa mal e tende a piorar, com o tempo. Ao mesmo tempo, parafraseando Eduardo Cunha, ajudaria a construir uma candidatura partidária (PSC e agregados), uma candidatura da Casa, que buscasse o equilíbrio entre os Poderes. Isso é óbvio, como as estrelas que despontam no céu no ocaso.
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Por David Leite ©2014 | 28/01 às 10h50 | Reprodução permitida, se citada a fonte | Com informações da imprensa e fontes de pesquisa | Clique na imagem para ampliar. #Curta #Comente #Compartilhe