Quarta-feira, 21.05.08 - Ano II - Edição Número 266
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PARA QUAL LADO DÉDA PENDE?
O “autismo seletivo” proporciona ao governador Marcelo Déda traduzir a realidade como ele a deseja. Para tanto, conta com a lisonja do bando esquerdista infiltrado no rádio, TV e jornais, ávido por coadunar e difundir o anseio palaciano. Esta trupe tratou de evocar a esdrúxula sugestão de Marcelo Déda ao prefeito Edvaldo Nogueira de pedir na Justiça punição aos assessores do senador Almeida Lima, acusados de pichar a cidade com a hilária frase “Fora dengue, fora Edvaldo”. Pichação, não obstante o reflexo negativo desta conduta, especialmente do ponto de vista do prejuízo patrimonial e ambiental, constitui “apenas” um delito. Não tem potencial para aumentar a sensação de insegurança nem perpetra ato de violência. Mas há um crime ignorado tanto pelo governador das mudanças para pior quanto pela “turma do amém”, lotada nas redações e microfones: o de espionagem! A nova lei da escuta transforma em crime até mesmo a gravação de conversa própria, feita sem o conhecimento do interlocutor. A regra vale para gravações de diálogos telefônicos e para as chamadas escutas ambientais. Quem grava ou divulga conversas próprias ou alheias está sujeito à pena de prisão de um a três anos, mais multa. As “interceptações ambientais”, ainda não regulamentadas na legislação em vigor, foram incluídas na nova lei e seguem o mesmo rito legal das execuções e do sigilo de escuta telefônica convencional. Na semana passada, o radialista-deputado Gilmar Carvalho (Ilha FM) e o radialista-vereador Fábio Henrique (Liberdade FM) fizeram um carnaval com a gravação dos assessores de Almeida Lima. Divulgaram uma gravação feita clandestinamente por espião infiltrado na reunião de um partido político. Ninguém questionou quem gravou as conversas, com autorização de quem ou a pedido de quem e se rolou grana para a execução do serviço... Se a espionagem é crime passível de cadeia. A omissão de homens públicos ante um crime também merece séria reprimenda. O primeiro a ser ouvido pela Polícia deveria ser o deputado federal Jackson Barreto. De quem ele recebeu a fita? Como ficou sabendo do conteúdo? Por que resolveu divulga-la? Por seu turno, ao invés de pedir a punição de quem pichou ou tramou a pichação, o governador Marcelo Déda deveria por a SSP a vasculhar o submundo político de Sergipe para descobrir quem é o canalha que grava reuniões políticas alheias e se ele (ou ela) agiu por conta própria ou a mando de outrem. A história não perdoará o governador Marcelo Déda se cometer mais este ato de omissão. O governo dele já entrou para a literatura como “o das mudanças para pior”, “o das promessas ao vento”. Não seria de bom alvitre juntar a este desastroso cabedal o título de “o governo que acoberta espiões e permite o violento crime da espionagem dos adversários políticos”. Afinal, ficará o governador com a legalidade?
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VERGONHAS SELETIVAS
(Com informações de http://www.pensandoassim.com/) O deputado Augusto Bezerra estranhou o repentino acesso de rubor e vergonha da deputada comunista Tânia Soares, externado no plenário da Assembléia Legislativa depois da divulgação do indiciamento de 11 pessoas de Sergipe na Operação “Navalha” da Polícia Federal. Segundo a deputada, sergipanos residentes em outras paragens se sentiram constrangidos por ver na mídia conterrâneos em situação de desagravo moral, prejudicando a imagem do estado. Em boa hora, Augusto Bezerra questionou se o fato de Aracaju ser, proporcionalmente, a capital nacional da dengue também não envergonharia a nobre deputada e os sergipanos lá de fora. Considerando como verdadeiro o choroso pejo da deputada Tânia Soares, imagino como ela e os sergipanos de dentro e de fora do estado não se sentiram com a divulgação pelo Jornal Nacional da morte de 21 crianças decorrentes da imundície da maternidade pública estadual comandada pelo governo a que ela serve. Da mesma forma, deve ter doído muito quando a revista Veja gastou duas páginas inteiras da edição 1.955 de 10/05/2006, mostrando ao planeta Terra a famosa “Micareta Picareta”, com a farra do dinheiro público gasto nas homéricas festas de despedida do então prefeito Marcelo Déda para concorrer ao governo que ela serve. A deputada comunista Tânia Soares, como se vê, tem motivos de sobra para se envergonhar...
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ATÉ UM POSTE
A sorte da candidatura de Edvaldo Nogueira pode ser decidida nas próximas semanas. Pesquisas para consumo interno encomendadas pelo governador Marcelo Déda apontam resultados sofríveis para o candidato governista. Quando a eleição se polariza entre o prefeito-candidato Edvaldo Nogueira e o ex-governador João Alves Filho, o Negão dá uma surra de dá dó. O mesmo ocorre quando Edvaldo Nogueira é confrontado com o ex-deputado Fabiano Oliveira. Até o empate técnico com o senador Almeida Lima soa como derrota antecipada do candidato sem carisma ou apelo eleitoral. A piada dentro das hostes governistas é que Edvaldo Nogueira perde até se concorrer com um poste. Quanta maldade...

Terça-feira, 20.05.08 - Ano II - Edição Número 265
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FALTOU ÓLEO DE PEROBA
A sexta-feira foi movimentada no Calçadão da Rua João Pessoa. A CUT fez manifestação de protesto pela passagem do primeiro aniversário da Operação “Navalha”, da Polícia Federal. A CUT está de bolsos cheios. Ganhou do governo Lula da Silva a parte de um quinhão de mais de R$ 100 milhões distribuídos de mão beijada às centrais sindicais somente neste ano. Dinheiro do vergonhoso Imposto Sindical, tributo descontado de todo trabalhador com carteira assinada, que deixou de ser “empecilho ao livre exercício da representação sindical”. Nascida das entranhas do PT no histórico Primeiro Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (28/08/1983, São Bernardo do Campo, SP), a CUT não tem moral para cobrar decência de ninguém. A CUT está embaraçada demais para poder pedir a punição dos responsáveis pelo “mensalão”, “dólares na cueca”, “dólares na mala”, “máfia dos Correios”, “quebra do sigilo do caseiro”, “máfia dos cartões corporativos”, “capina em terreno cimentado de postos de saúde”, “micareta picareta”, “mortes da Hildete Falcão”, “milhões em compras sem licitação”, “CPI da Deso”, “escândalo da merenda escolar”, “o descalabro da epidemia de dengue”... A Central Única dos Trabalhadores, na falta do que fazer depois de admitida no paraíso da finança fácil bancada com o suado dinheiro dos operários brasileiros, sai às ruas a cobrar do alheio o que não pode cobrar de si mesma nem dos companheiros do PT. Durante o ato de sexta-feira, a CUT distribuiu pizza, doce de leite e vinho (vagabundo). Faltou distribuir óleo de peroba... .
FALTA NOTÁVEL
Observou-se a ausência de algumas estrelas na manifestação de protesto da CUT na sexta-feira. O governador Marcelo Déda, por exemplo, deveria estar lá. Outro que não poderia ter faltado é o “número 02”, Belivaldo Chagas. Nem tampouco o presidente da Deso, Max Montalvão. Em 14/03/2007, conforme escuta telefônica gravada pela PF com autorização da Justiça, Belivaldo Chagas teria acertado o pagamento de duas faturas, cuja soma chegava a R$ 1,1 milhão, com o conselheiro-lobista do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Flávio Conceição. Em abril, uma repentina viagem do “número 01” pôs o comando do governo das mudanças para pior sob a tutela do vice-governador. Foi quando Max Montalvão teve a brilhante idéia de pagar, naturalmente por conta própria, R$ 600 mil reais à Construtora Gautama. Dias depois, a casa caiu. A Operação “Navalha” pegou todos de surpresa – ou quase todos! Marcelo Déda, para lavar as mãos, disse que Max Montalvão pagou “porque estava tudo correto”. Vem a oposição e sugere a CPI da Deso. A bancada comandada pelo líder governista Francisco Gualberto – outro eminente grupo ausente à manifestação da CUT – tem trabalhado contra a proposta. Na semana passada, o MPF (Ministério Público Federal) encaminhou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) denúncia contra 61 almas, acusadas de abusar do dinheiro público. Assim como esteve ausente na manifestação da CUT, o vice-governador sergipano também, inusitadamente, não estava entre os indiciados pelo MPF. Certamente os diálogos gravados pela PF, onde Belivaldo Chagas diz que já “conversou com o número 01!” e “está tudo ok!”, nem a consolidação posterior dos acertos através do pagamento à Gautama foram “evidências” relevantes para fazê-lo incluso. Homem de sorte o governador Marcelo Déda...

Segunda-feira, 19.05.08 - Ano II - Edição Número 264

Mais uma vez peço desculpas ao estimado público leitor pelo espaçamento na publicação de novas edições. Afazeres profissionais limitam o exíguo tempo. Bem, mas voltamos à trincheira...
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QUEM GRAVOU?
A semana encerrou com a enigmática sugestão do governador Marcelo Déda a Edvaldo Nogueira para processar judicialmente aliados do senador Almeida Lima, acusados pelo deputado federal Jackson Barreto de pichar muros e paredes em Aracaju com “frases desabonadoras à imagem” do prefeito comunista. Tudo começou terça-feira, no programa do radialista-deputado tampão Gilmar Carvalho. Jackson Barreto disse ter em mãos gravação com o ex-vereador Marcélio Bomfim, assessor de Almeida Lima, comandando pichadores e alertando para não falarem no nome do senador, caso fossem pegos em flagrante. As pichações com a frase “Fora dengue, fora Edvaldo” apareceram na semana retrasada, na madrugada da quinta-feira. Para Jackson Barreto, “a campanha nem começou e a baixaria já corre solta”. Sobre baixarias em campanhas eleitorais – e também, antes e depois delas –, o nobre deputado, cujo histórico judicial tem quase cinco quilômetros de extensão, é catedrático. O hoje sexagenário Jackson Barreto, talvez em respeito às madeixas brancas tingidas de acaju, não negou as delinqüências da juventude. Ele contou a Gilmar Carvalho, vertendo as homéricas e onipresentes lágrimas de crocodilo, sua epopéia como pichador. Àquela época, pichava-se por uma causa justa: derrubar a ditadura! Jackson Barreto, contudo, não encerrou a carreira de pichador com o fim da ditadura, como fez crer no programa do Cão-Cão. Preceptor de toda uma geração de grandes pichadores de esquerda, o deputado deu continuidade ao uso indiscriminado da pichação como instrumento covarde para achincalhes virulentos contra a honra e a moral dos adversários também no período democrático. Jackson Barreto, inclusive, tinha cuidados especiais com sua trupe de elite de pichadores de alta confiança. Batizou um deles, o ex-vereador Luis Carlos dos Santos, com a sugestiva alcunha de Branca de Neve, para despistar a Polícia. Negro, forte e alto, Branca de Neve passava incólume pelos policiais, que procuravam “o cara branco e franzino”. Marcélio Bomfim foi colega de pichação de Jackson Barreto, Marcelo Déda, Edvaldo Nogueira e de uma centena de outros vanguardistas da esquerda sergipana, especialistas em borrar muros e paredes. Um dos mais lendários causos, sempre rememorado quando os mestres da pichação têm encontros etílicos para enaltecer o passado glorioso, conta da “timidez” de Marcelo Déda. Na hora de pegar na brocha para pichar a antológica frase “Abaixo a ditadura!”, o esgalgado estudante de Direito sempre dava um jeitinho de escapar de fininho – quem era preso, invariavelmente tomava uns tabefes. A obscura atitude de Marcelo Déda de induzir o prefeito comunista a pedir ao Judiciário para punir os pichadores de hoje revela um interessante sintoma de “autismo seletivo”. Para ele, a percepção da (real) realidade é apenas a que lhe convém. Marcelo Déda, de fato, deveria mandar descobrir o verdadeiro criminoso de toda essa pendenga. Afinal, quem invadiu a reunião do PMDB e gravou clandestinamente todas as conversas tratadas e em seguida repassou a fita gravada – graciosamente ou recebendo algum provento – a um político adversário do grupo pichador? O precedente é perigoso! A SSP precisa urgentemente investigar – e descobrir, claro! – quem é o autor das gravações, quem mandou gravar e se houve transação comercial das informações (a fita em si), cujo teor, apesar de risível, expõe as entranhas do modus operandi de uma entidade de direito público supostamente inviolável. Estaríamos diante de um PMDBgate? Jackson Barreto e Marcélio Bomfim tiveram a vida esmiuçada pela ditadura. Ambos sofreram o horror do confronto direto com um regime de exceção arbitrário. O deputado diz que parou de pichar. O assessor foi flagrado ordenando pichações. A grande diferença é que a bisbilhotice de agora acontece num ambiente de suposta democracia! Lamentável, porém, é que um chefe de Governo esteja mais preocupado em garantir punição a quem pichou a hilária “Fora dengue, Fora Edvaldo” do que por investigar quem é o canalha que anda gravando as reuniões políticas alheias. Mesmo sendo um “advogado chumbrega” (conforme foi definido pelo compadre-presidente Lula da Silva), Marcelo Déda deve conhecer minimamente de leis. Sabe não ter havido crime na pichação. Mas há um crime que Marcelo Déda pode contribuir para elucidar, por ter o instrumental necessário. Daria, por conseguinte, grande contribuição à manutenção do Estado de Direito e à prerrogativa constitucional da privacidade. Afinal governador, dá para mandar saber quem gravou a reunião?