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Domingo, 15 de janeiro de 2006 | 18h35 | Política

Após uns dias longe da refrega, entre bons vinhos e muita leitura, estou de volta ao mundo fantástico da Internet, hoje a comentar sobre a contenda do CNJ...
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Judiciário sério não deve temer a transparência
Oportuna, por deveras apropriada, a entrevista do presidente da OAB/SE ao Jornal da Cidade deste domingo. Carlos Augusto Monteiro, jurista equilibrado, resumiu o “porém” a permear o imbróglio contra o Conselho Nacional de Justiça, razão para a discórdia (entre si) de magistrados de alto coturno: “Juiz é servidor público e, portanto, deve ter conduta austera, honesta, exemplar – e o contribuinte, o cidadão, tem o direito de saber como é aplicado o dinheiro fruto do pagamento de impostos...”
Para Carlos Augusto Monteiro, “o CNJ vem demonstrando ser a transparência, a lisura, a retidão de caráter requisito fundamental àqueles que prestam juramento e compromisso de bem julgar os destinos de todos os cidadãos (...) Não há dúvida de que o enxugamento, o engessamento, a restrição da suas atribuições redundaria no seu fim, no seu esvaziamento. Os efeitos até aqui, das decisões do CNJ, merecem aplausos de toda a sociedade.”
Comento: a corregedora nacional de Justiça, a ministra do STJ Eliane Calmon, conhecida dos sergipanos por ter autorizado a “Operação Navalha” da Polícia Federal – aquela que evitou a prisão de peixes graúdos ligados ao PT e corriola –, em defesa encaminhada ao STF, disse não ter havido quebra de sigilo bancário de magistrados e servidores de tribunais, mas apenas a divulgação de relatório com a “visão geral de movimentações financeiras atípicas – não necessariamente ilegais – em contas bancárias de membros do Judiciário”.
Surge, então, a dúvida: se apenas a divulgação da “visão geral” das tais “movimentações financeiras atípicas”, sem que nelas houvesse um único nome de figurões da magistratura ou de servidores de tribunais, causou tamanho reboliço, o que aconteceria com a corajosa Eliane Calmon – que já teve a vida devassada a esta altura do campeonato, não tenham dúvida – caso fossem tipificadas, com os devidos autores, as estranhezas verificadas pelo órgão de prevenção à lavagem de dinheiro (Conselho de Controle da Atividade Financeira) da Receita Federal?
Neste tocante, soam como boa música para os ouvidos as palavras do presidente da OAB/SE em defesa não apenas da preservação dos poderes do CNJ, como instituídos pela Emenda Constitucional 45, como da necessidade de conscientização de certa parcela arredia do Judiciário Brasileiro ainda afeita, ao que tudo indica, em perpetuar a fama de “poder indevassável”.
Que sejam tomadas como elevadamente devidas as assertivas de Carlos Augusto Monteiro...
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Nem tudo são flores
Se age com rigorosa contribuição democrática ao exortar qualidades do CNJ, o presidente da OAB/SE escorrega na casca de banana ao defender a criação da nefanda “Comissão da Verdade” em Sergipe. Minha posição diverge da “intelligentsia” petista, aqui representada pelo advogado Cezar Britto, signatário da comissão nacional quando esteve presidente da OAB (2007/2010), pois creio ser necessário, sim, recuperar a História, mas o passado passou – é uma página virada.
As forças derrotadas – ou seja, a turma da “luta armada” – querem reabrir a discussão sobre a “Lei da Anistia”, como se fosse possível apagar a realidade do passado: enquanto os vencedores, aqueles que derrotaram a ditadura militar, lutaram no plano institucional para reaver a democracia brasileira, a esquerda radical tinha outros planos para o Brasil – sim, instituir a ditadura comunista! Nos momentos capitais, a turma da “luta armada” estava ocupada demais para pensar em política, em eleições livres, em Constituinte – enfim, o projeto era outro; uma política anacrônica.
Por que, diante dos tantos desafios da atualidade, trazer ao debate nacional um tema já cicatrizado? O mérito de conduzir-nos sem grandes traumas ao país de hoje, aliás, jamais poderá ser creditado a turma da “luta armada”, que agora desfruta o poder, apesar das muitas pedras que jogou pelo caminho. O Brasil precisa olhar para frente, com os erros do passado (torturas e mortes) a servir de motivo de desonra, sim. Porém, o retorno a querelas infrutíferas assemelha-se mais a vingança de derrotados (oportunistas) que a justiça dos vencedores. É o que penso...

PSAguardo com ansiedade quando, após a queda do regime comunista de Cuba, abrir-se o debate sobre a cadavérica ditadura dos irmãos Castro. Defenderia a esquerda brasileira a institucionalização de uma “Comissão da Verdade” na paradisíaca ilha? Tenho minhas dúvidas...

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