Quinta-feira, 27.03.2008 - Ano II - Edição Número 242

NOTA DO EDITOR
Peço desculpa aos leitores pelo espaçamento na publicação de textos. Tenho estado envolvido com tarefas que me tomam parte expressiva do tempo. Nesta quarta estive em Brasília, neste momento estou em São Paulo e por vezes é impossível manter o nível de observação necessário a continuar realizando um trabalho baseado apenas em fatos comprovadamente reais. Aliás, motivo pelo qual temos a cada dia crescido nosso índice de leitura. Grato pela compreensão, desejo um bom dia a todos. . PERIGO REAL E IMEDIATO
A política exige estômago de aço e muita, muita fleuma. Os inimigos do PT, então, devem acrescer as estas exigências a capacidade de defesa contra golpes abaixo da linha da cintura. Na semana passada, circulou entre os jornalistas que cobrem o Congresso e parlamentares da base aliada do governo federal um dossiê contento informações sigilosas sobre as despesas do gabinete do ex-presidente FHC. A documentação tinha por objetivo inibir a ação da oposição – especialmente os tucanos – na CPI dos Cartões. A revista Veja desta semana expôs parte do dossiê, elaborado dentro do Palácio do Planalto com informações consideradas sigilosas pelo próprio governo. A intenção era mostrar que o governo do Grande Molusco não inovou ao usar cartões corporativos para quitar despesas com bebidas, aluguel de carros, hotéis de luxo, perfumes importados, beiju de tapioca... Numa conversa com Veja, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou que já sabia que o PT bisbilhotava as contas do governo dele e comentou: “É um absurdo. É uma chantagem do Palácio do Planalto. Uma tentativa de intimidar e desmoralizar nunca vista antes num regime democrático”. Na terça, FHC mostrou que é macho. O senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, leu uma carta do ex-presidente liberando a abertura dos gastos privados durante o período em que ocupou o cargo. Nela, FHC disse ainda que nunca houve sigilo nos gastos – “mesmo porque não há amparo legal para tal procedimento” – e desafiou o presidente Lula da Silva a fazer o mesmo: “ No meu caso, as suspeitas (de irregularidades) são infundadas e espero que também o seja o caso do atual governo”. O PT não dá sorte nessa seara de dossiês. Durante a campanha de 2006, um grupo de petistas “aloprados” tentou comprar um lote de documentos com acusações falsas ao então candidato ao governo de São Paulo, José Serra. A Polícia Federal prendeu alguns deles com uma mala recheada de reais e denunciou que a trama foi planejada e executada com o conhecimento, participação e o aval da cúpula de campanha do Grande Molusco. A lógica dos petistas é estranha. Divulgar os gatos de FHC naturalmente abriria um flanco para ocorrer o mesmo com os de Lula da Silva. Agora mesmo, tramita uma representação apresentada pelo PSDB e pelos Demos pedindo à Procuradoria-Geral a abertura de todos os gastos, desde 1998 até ontem. O tiro saiu pela culatra. E mais: para quem está no poder, especialmente para um governo marcado por graves denúncias de corrupção, usar da tática sórdida da intimidação pode provocar a ira dos adversários. O perigo é real e imediato...

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