Quinta-feira, 28 de Outubro de 2009 – 20h25

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>> Marcelo Déda e o Sinal Vermelho

(Leia Também Curtas & Boas)

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Marcelo Déda e o Sinal Vermelho

Apesar da extremada recomendação médica de repouso absoluto e a necessidade de ainda realizar exames em São Paulo nas próximas semanas, dois imperiosos motivos fizeram o governador Marcelo Déda retornar ontem a Sergipe: boatos maledicentes quanto ao seu real estado de saúde e o desempenho do vice Belivaldo Chagas.

Com fotógrafo a tiracolo e redator de plantão, Marcelo Déda tratou a convalescença pós-operatória no Sírio Libanês com habilidosa comunicação. Contudo, a aparente “normalidade” –o governador recebeu visitantes ilustres e até exercitou a cantoria num duo com Alceu Valença– não impediu os fofoqueiros de espalhar terríveis “informações” nos quatro cantos do estado sobre a saúde do “Número Um”.

Auxiliares, políticos aliados mais próximos, o próprio vice-governador, amigos, parentes e até a esposa do governador foram obrigados quase diariamente ao desmentido de boatos insanos e estranhas teorias de conspiração. Após ouvir alguns altos conselheiros e pessoas da família, Marcelo Déda resolveu suspender a permanência em São Paulo e retornou ontem a Sergipe, acreditando que sua presença acalmará as línguas venenosas e tranquilizá o eleitorado. Agiu corretamente...

Por outro lado, Marcelo Déda ficou de couro coçando com a adulação dos comentaristas oficiais aboletados nos jornais e o carinho do público com o vice. Na imprensa, viu-se o “fabuloso desempenho de Belivaldo Chagas”, que além de “dar continuidade ao enorme desafio de administrar Sergipe com competência”, ainda “mostrou-se humilde no trato com auxiliares e correligionários, atendendo a todos”.

Políticos são ciumentos e narcisistas por natureza. Marcelo Déda trata a vaidade pessoal como item de primeira necessidade. A urgente operação o afastou do que mais gosta de fazer: política e politicagem. Belivaldo Chagas, neste tocante, deu um show de traquejo, emocionada paciência e, acima de tudo, sorridente cordialidade com secretários, prefeitos, deputados... O sinal vermelho acendeu em São Paulo!

Imprensa Dedista – A emoção de rever pessoalmente o querido chefe fez alguns membros da imprensa “oficial” simplesmente desabar em choro. Outros cuja alma é vermelha já não mais aguentam referir-se ao vice-governador Belivaldo Chagas como “governador em exercício”. Sim, fazem questão de acrescer o “em exercício” sempre que citam o “Numero Dois”, até para deixar claro quem realmente manda. Terão que esperar mais um pouco...

Coral Encomendado – Adolescentes do projeto social “Pouso Seguro da Criança”, que é mantido com dinheiro público através da Infraero, foram tirados do expediente estudantil para “recepcionar” Marcelo Déda no saguão do aeroporto. Ao lado dos alunos, com lágrimas nos olhos, o governador cantarolou a caralice preferida do radialista-deputado Gilmar Carvalho, a canção “Noites Traiçoeiras” do padre Marcelo Rossi (...“e ainda se vier noites traiçoeiras, se a cruz pesada for, Cristo estará contigo. O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer ver sorrindo”).

Alunos em atividade extra-classe: recepção ao compadre do presidente.

Como Collor, Ele também Usa Camisa com Mensagens – Ficaram eternizadas na memória coletiva as camisas com frases de efeito usadas pelo presidente cassado por corrupção Fernando Collor de Mello nos passeios e corridas que dava para manter a forma física. Inspirado no hoje senador e aliado ferrenho do compadre-presidente Lula da Silva, Marcelo Déda também exibiu uma mensagem, para afastar os agouros, impressa na camisa usada por ele ontem no aeroporto. Dizia a frase: “O Senhor fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome”.

De braços abertos como o Cristo Redentor: recado de fé e proteção.

Déda, um Anjo de/em Pessoa – Pelas lentes do dedicado fotógrafo Jorge Henrique, o respeitável público pode sentir o clima do aeroporto na chegada de Marcelo Déda. A foto inspirada, onde “nosso” governador é transfigurado num ser divino, foi publicada hoje pelo sisudo Jornal da Cidade.

O angelical Marcelo Déda, segundo o Jornal da Cidade: haverá razão!

Terça-feira, 27 de Outubro de 2009 – 11h55

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>> Rogério Carvalho se Acha... (E mais Curtas & Boas)

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Rogério Carvalho se Acha...

Deve ser um daqueles raros casos de megalomania residente crônica, agravada por osmose pela relação umbilical com o ego maior da nossa vasta galáxia. O secretário de Saúde Rogério Carvalho, o protegido do vaidoso governador Marcelo Déda, pede respeito. Afinal, sabem vocês com/de quem estão falando?

No Jornal da Cidade de domingo, o chefe da pocilga-modelo respondeu a umas perguntinhas do jornalista Eugênio Nascimento. O objetivo era contrapor as críticas da oposição (e até de aliados) quanto à gestão do Governo da Mudança para Pior na saúde pública sergipana.

O assunto não mereceria mais que duas ou três linhas de comentário, porquanto não ocorre ao acaso a presença do item “Saúde” no topo da lista das prioridades da população ainda não devidamente atendidas. Ou seja, a defesa de Rogério Carvalho depõe contra o próprio e contra o governo a que ele serve...

O fato a despertar minha atenção foi o principal argumento usado pelo secretário quanto às questões trazidas a público pelos deputados da oposição e, sobremodo, pelo ex-governador João Alves Filho. Disse Rogério Carvalho: “Ele (João Alves Filho) me desrespeita como pessoa, como médico, como mestre, doutor em saúde pública, professor universitário, médico fiscal do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, que passei por concurso em primeiro lugar em São Paulo, passei no concurso aqui na UFS. Talvez ele me desrespeite inclusive como profissional porque quando uma pessoa diz que o outro matou 100 pessoas ele, no mínimo, está me chamando de criminoso, ele está me desacatando, me desrespeitando”.

A Via Láctea inteira agora já sabe. Não se pode criticar o cósmico secretário estadual de Saúde, pois o danado é médico, mestre, doutor em saúde pública, professor universitário concursado, fiscal concursado do Conselho Regional de Medicina de São Paulo...

Rogério Carvalho somente esqueceu de explicar algumas coisinhas simples. Os mais de R$ 200 milhões sem licitação (apenas em 2007) devidamente pagos. O caos no Hospital João Alves Filho e a falta de assistência básica no interior. A morte das mais de 60 crianças na Maternidade Hildete Falcão e de dezenas de adultos pela falta de higiene e cuidados mínimos nas UTIs do “Huse mas Não Abuse Porque Não Aguenta”. Sem falar no incrível terreno comprado em Lagarto a peso de ouro para edificar um hospital.

Faltou também ao distinto secretário falar por que mandou derrubar o hospital de Ribeirópolis e em seu lugar construir um posto de saúde meia boca. Talvez até sobre um tempinho para o divino Rogério Carvalho contar os motivos que o levaram a optar pelo atendimento num hospital particular quando fraturou a perninha ao invés de usar o serviço público...

O renomado antropólogo Roberto da Matta –aliás, um esquerdista assumido, portanto insuspeito– resumiu bem esse tipo de gente aboletada nos títulos, na arrogância e no poder, à espera do respeito, do reconhecimento e do temor alheios: “Frase que marca nossa ausência de cidadania: sabe com quem está falando? Frase que marca a cidadania americana: quem você pensa que é?”

Para refrescar o acalorado dia, nada como música (e água geladinha). Veja o clipe de “Você sabe com quem está falando?”, composição de Claúdio Salles do movimento pop Goiaba de Niterói, do Rio de Janeiro. A letra é baseada em textos do acadêmico Roberto da Matta. O vídeo foi criado e dirigido por Marcelo Magoo.

Rota do Queijo Suíço – Numa entrevista a Ouro Negro FM de Carmópolis, o ex-prefeito de Siriri Valdomiro dos Santos sugeriu oportunamente a mudança do nome do recapeamento da rodovia festivamente batizada por Marcelo Déda de “Rota do Sertão”. Comentou ele: “Parece brincadeira, mas com apenas cinco meses de inaugurado, o trecho entre Nossa Senhora das Dores e Monte Alegre tem tanto buraco –eu contei uns 400!– que melhor seria chamar aquilo lá de ‘Rodovia do Queijo Suíço’. Foi dinheiro jogado fora”. Comento eu: Nos queijos finos, vinhos caros servidos por sommelier e buracos administrativos “nosso” governador é mestre-doutor...

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Cadeira Vermelha – Os “hospedes” do Hospital João Alves Filho têm agora à disposição no mobiliário novas cadeiras, para relaxar enquanto aguardam a chance de ser atendidos. Curiosamente, depois de abusar da cor vermelha até em escolas e repartições públicas, e mesmo depois de repreendido pelo Ministério Público Estadual ainda manter como símbolo do governo o mesmo coração com borda vermelha usado como marca da campanha eleitoral de Marcelo Déda, o governo estadual resolveu “inovar”. As cadeiras oferecidas no “Huse” são... advinha de que cor? Só pode ser fetiche...