:: Segunda-feira, 05.11.2007 :: Edição N183 ::

LADEIRA ABAIXO A semana passada foi péssima para o governador Marcelo Déda. A tropa de elite da Polícia Militar desceu o sarrafo em estudantes que protestavam contra as péssimas condições físicas do Colégio Dom Luciano. Também recebeu ele a inquietante notícia de haver entre assessores do governo gente pedindo gorda propina para “liberar processos de compra” na Secretaria Estadual de Saúde. No caso dos estudantes, seria cômico não fosse trágica a reação da turba governista, incluindo o bando esquerdista que insiste em defender o chefe na imprensa –veja comentário sobre artigo do jornalista César Gama tratando do assunto logo abaixo. Enquanto desfalece o tal Plano Estratégico de Segurança, lançado com pompa e circunstância faz quatro meses, o expressivo aumento da violência contrasta com o uso da tropa de elite da PM para reprimir manifestação contrária ao governo do PT. A marginalidade agradece festivamente, afinal, a polícia está “ocupada”! Já sobre a suposta ingerência de petistas aloprados no âmbito da SES, onde parece estar em curso sistemática cobrança de pesados “pedágios”, o governador das mudanças não titubeou: “O audacioso que cometer tal crime será demitido e encaminhado à polícia”. Pois, então, esteja preparado o sapiente Marcelo Déda: setores da SSP, mantidos aqui sob sigilo por razões óbvias, dizem ser para muito breve o estouro desta inominável boiada, que promete solapar ainda mais a já combalida gestão do garoto-prodígio Rogério Carvalho. Porém, se a semana findada foi ruim, a que inicia promete ser bem mais “interessante”. Para a oposição! Num espantoso e inusitado arroubo de incontinência verbal, a jornalista Cássia Santana contou ter o governo do PT gasto uma grana gorda na Fazenda Boa Luz ao realizar a Conferência Estadual de Saúde no exato momento em que internos do Hospital João Alves Filho morriam, porque havia dinheiro à vontade para locar todos os apartamentos do hotel, pagar a farra da alimentação e bebidas, mas nem um tostão para o sabão, álcool e até o papel-toalha indispensáveis à limpeza da UTI do maior hospital público do estado (JORNAL DO DIA, 04.11). Resumo da ópera: Rogério Carvalho fazia política e politicagem usando verbas do SUS; mimou de bons repastos a companheirada da Capital e do interior, devidamente alojada sob o conforto do enorme cobertor do dinheiro do povo, enquanto as vias respiratórias de pacientes pobres eram entupidas por bactérias ultraresistentes surgidas graças à imundice da UTI do HJAF. Diante de fato tão deploravelmente mesquinho, que fará o Ministério Público Estadual? No governo das mudanças, as reais mutações ocorreram ladeira abaixo. Piorou a segurança, piorou a saúde, piorou a educação! Tudo porque o governador Marcelo Déda faz política com setores onde pessoal qualificado faz enorme diferença. No momento, o que importa não é a competência, mas a estrelinha no peito... .
. :: CALEIDOSCÓPIO ::
. MAIS SAFADEZAS As ilicitudes na Secretaria Estadual de Saúde parecem não ter fim. Segundo o jornalista Douglas Magalhães, grampos telefônicos flagraram dois assessores do deputado-secretário Rogério Carvalho negociando propina de 30%, referente a uma dispensa de licitação para compra de medicamentos: “O negócio é tão escabroso que a turma tratou de inflacionar. É a chamada operação ou tudo ou nada. Sujou! Todos serão denunciados”. . ANO PERDIDO Sobre os excessos (sic) da tropa de elite da Polícia Militar contra estudantes do Dom Luciano, o jornalista César Gama, em artigo no portal INFONET, discute a reação dos governistas e de asseclas infiltrados na imprensa: “Da boca de um deputado Francisco Gualberto, um ex-sindicalista outrora suposto combativo defensor das manifestações populares, saiu quase uma tentativa para justificar as agressões, alegando que era preciso ver se aquele movimento não tinha alguma motivação política”. Já a deputada Tânia Soares, que teve o próprio filho surrado pela tropa de elite da PM, “acusou o governo João Alves Filho como co-responsável pelos ataques da polícia de Déda a manifestação estudantil, alegando que foi o abandono a que chegou o Colégio Dom Luciano no governo anterior, que teria levado os estudantes a se manifestarem”. E os jornalistas-petistas: “...um dos tantos bajuladores de Marcelo Déda (...) chegou ao extremo de criar o primoroso e não menos estapafúrdio argumento de que os estudantes foram agredidos pela polícia porque, entre os PMs que foram à operação, existiam policiais egressos do governo João Alves Filho. Ora minha nossa, essa gente consegue mesmo se superar em sandices quando se trata de defender o chefe supremo”.

.

ARTIMANHA O jornalista, professor da USP e consultor político Gaudêncio Torquato analisou ontem (O ESTADO DE S. PAULO) a hipótese de um terceiro mandato para Lula da Silva. Começa pelo que chama de “o estado da arte da política no Brasil, onde toma ênfase (...) a sobreposição da agenda eleitoral à pauta governamental (...) a demonstrar que a conquista do poder, a qualquer preço, suplanta qualquer tentativa de se organizar uma disputa em torno de um programa estratégico para o País”. Questiona o emérito: “É viável um terceiro mandato?” Ele responde: “Mudar a Constituição para permanecer 12 anos no centro do poder é factível sob o prisma aritmético (no Congresso), mas os custos institucionais, de tão altos, deixariam o País longe dos horizontes democráticos mundiais. (...) Lula não está muito distante da verdade quando garante ser contrário a três mandatos, e até defende a idéia de um único período de cinco anos sem reeleição. Mas incentiva amigos a inflar o balão-de-ensaio para tirar proveito do escarcéu gerado pela tática”.

.

Nenhum comentário: