:: Quinta-feira, 01.11.2007 :: Edição N182 ::

À ESPERA DA ESPERANÇA
A Caravana em Defesa do S. Francisco e do Semi-Árido - Contra a Transposição percorreu doze capitais do país no finalzinho de agosto. Foram 13 dias de discussões quanto às incongruências do projeto do governo federal. O grupo buscou o apoio de lideranças políticas para pressionar o presidente Lula da Silva a parar a obra e discutir ações de preservação do rio. Os caravaneiros encerraram o périplo dia 1º de setembro em Maceió. Formado por professores universitários, líderes de povos indígenas, movimentos da Igreja Católica, representantes de comunidades do semi-árido e pescadores do "Velho Chico", o grupo esteve em Sergipe um dia antes de seguir para Alagoas.
Após um evento ecumênico no Ministério Público Estadual em Aracaju, o governador Marcelo Déda "aceitou" receber os viajantes. Na verdade, pressionado pelas recorrentes críticas de manter-se oportunamente omisso à causa, Sua Alteza Real viu na ocasião a "deixa" para tentar faturar alguns pontos positivos diante da enxurrada de tragédias preconizadas desde janeiro pelo governo que dirige. Ouviu pedido dos caravaneiros e prometeu intermediar uma reunião do grupo com o Grande Molusco, em Brasília.
Ontem, o idealizador da caravana, o médico e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Apolo Heringer Lisboa, conversou conosco sobre as ações pós-viagem: "No final de setembro, enviamos carta aos governadores que nos receberam. Nela, reforçamos o pedido feito pessoalmente para que eles atuem junto ao presidente, solicitando a realização de uma audiência com os membros da caravana. Temos propostas alternativas*. Nosso pedido é para que Lula nos escute e possamos encontrar um caminho para o impasse da transposição".
Questionado se já havia recebido alguma posição do mandatário sergipano, o também professor da UFMG Thomaz Mata Machado, presidente do Comitê de Bacia do Rio S. Francisco, disse: "Sei que a carta foi entregue ao governador Marcelo Déda, através do chefe de Gabinete. Até o momento não obtivemos qualquer resposta. A única informação positiva veio do governador da Bahia Jaques Wagner, que publicou no Diário Oficial do Estado o protocolo de entrega da carta ao Gabinete Civil da Presidência da República. Mas ninguém de Brasília entrou em contato até o momento. Continuamos a aguardar".
. Histórico - O tema "transposição do S. Francisco" somente se inseriu na agenda do governador Marcelo Déda às vésperas da eleição de outubro de 2006. Até então, como prefeito de Aracaju -65% do abastecimento da cidade vem do "Velho Chico"-, ele mantinha asséptica distância de qualquer discussão sobre a obra para não contrariar o compadre-presidente. Diante da desconfiança do povo, "olhos nos olhos" do Grande Molusco, Sua Alteza Real disse num palanque em Aracaju ser desde pequenininho contrário ao projeto do governo federal. Até Lula da Silva embarcou na piada e saiu-se com a ontológica frase "Não se tira água de onde não se tem". Mesmo havendo dito horas antes, em Natal (RGN), haver "gente no Nordeste contra a transposição porque bebia água mineral Perrier".
Na edição número 159**, (A ESPERANÇA AINDA ESPERA, 28.09), noticiávamos que, "pelo histórico de promessas não cumpridas. E também em função da extremada ligação pessoal e política com o presidente, não se deve esperar do governador Marcelo Déda qualquer atitude que implique em mínimo prejuízo aos planos do governo petista. Inclusive (e especialmente) quanto à transposição. Aos que ainda crêem no contrário, recomenda-se o deleite de generosas poltronas!". As ditas cujas ainda permanecem à disposição...

Nenhum comentário: