:::: Quarta-feira, 17.10.2007 :::: Edição N171 ::::

SANGUE NA CONSCIÊNCIA
Em fins de agosto, o JORNAL NACIONAL e a FOLHA DE S. PAULO denunciaram a morte de 11 bebês na maternidade Hildete Falcão. A notícia causou comoção e revolta no País, especialmente quando se soube terem elas sido vítimas da falta de higiene na UTI neonatal. O detergente usado no ambiente era aplicado com água em demasia! A limpeza era apenas cosmética.
Como se fosse um filme, a história se repete com o mesmo grau de crueldade. Sete pacientes foram infectados por uma perigosa bactéria na UTI do Hospital João Alves Filho. Dois morreram. Os demais, mesmo isolados, correm riscos de também perder a vida. Motivo para a proliferação da endemia? O hospital não cumpre as normas básicas de higiene.
Não há sabão para limpeza das mãos, não há papel-toalha, faltam produtos de uso corriqueiro como álcool, água sanitária e detergente. Entre maio e setembro, muitos pacientes podem ter morrido pelo descaso com o asseio. As famílias provavelmente ignoram a verdadeira causa das mortes.
Silêncio - No ano passado, por várias vezes o Sindicatos dos Enfermeiros tentou interditar o pronto-socorro do João Alves Filho. Queria parar o atendimento por "não seguir certas normas". Agora, está caladinho! Por muito menos, os sindicalistas abriam o verbo no rádio e na TV, faziam piquetes, ameaçavam com paralisações. O que mudou de dezembro para cá?
Agindo mais das vezes orientado pelo hoje deputado-secretário de Saúde Rogério Carvalho, o sindicato fez o papel de ponta-de-lança dos interesses escusos do PT. Hoje, boa parte dos seus diretores exerce cargos de confiança na estrutura da SES. Inclusive no hospital que até dezembro era considerado por eles como "imprestável". Os pelegos estão de bolsos resolvidos. O povo que se dane.
Rogério Carvalho não está para brincadeira! Consegue, os Céus sabem como, manter-se nos cargos mesmo depois de comprovadas improbidades e da inapetência exposta. Contratou mais de 170 milhões de reais sem dar explicação a ninguém, beneficiando apenas certas empresas. Finge realizar concorrências públicas sem ser minimamente importunado pelo Ministério Público Estadual. Comprou o silêncio dos sindicalistas, empregando diretores de sindicatos e aparentados. Substituiu boa parte dos terceirizados do Hospital João Alves por cabos-eleitorais, gente que até o ano passado se ocupava de segurar bandeiras dele e do PT nas esquinas do estado. Sob seu comando, unidades de saúde se transformaram em pocilgas, onde pessoas pobres de todas as idades morrem como moscas! E ele impávido...
Solução - O Hospital Infantil José Machado de Souza foi inaugurado em dezembro. Nos cofres da SES ficou a grana para comprar os equipamentos necessários ao imediato funcionamento. A licitação estava encaminhada. Deveria ser concluída entre janeiro e fevereiro. Contudo, o governo do PT resolveu "agir".
Um dos mais modernos do gênero no País. Inspirado em exemplos funcionais como os hospitais da rede Sarah kubitschek, o novo hospital infantil teria 50 leitos normais, nove de UTI e oito de semi-UTI. Com ele funcionando, a atual pediatria do João Alves Filho seria transformada em UTI para adultos, acrescendo 52 novos leitos aos 12 em operação. Mas o governador Marcelo Déda inexplicavelmente preferiu deixa-lo sem uso, comprometendo ainda mais a exaurida estrutura do pronto-socorro.
Triste Sina - Não há desculpas plausíveis para as recorrentes tragédias na Saúde. Semana passada, o secretário Nilson Lima (Fazenda) disse guardar nos cofres estaduais quase 600 milhões de reais. Ou seja, a derrocada da saúde pública em Sergipe não é por falta de recursos financeiros. Dinheiro tem às pencas. No mesmo dia, diante dos deputados, Nilson também confessou corajosamente que o governo do PT investiu na Saúde apenas 9,3% dos 12% exigidos como piso pela Constituição federal. Haja cara de pau!
Somente um político extremamente insensível e devotado de corpo, mente e alma aos interesses comezinhos, visando manter-se no poder a qualquer custo, admitiria conviver com tão pesado fardo na consciência. Sua Alteza Real é sobejamente palavroso. A poesia encantadora se lhe aflora do calcanhar às madeixas grisalhas. Qual cantilena dirá às famílias cujos entes queridos morreram porque o governo do PT resolveu inovar, economizando o dinheiro público num dos estados mais pobres da Federação? Talvez o silêncio seja a saída mais eloqüente...
  • Mortes na Hildete Falcão - Lá se vão quase 60 dias e as famílias dos 11 bebês mortos na UTI da maternidade ainda não têm uma resposta conclusiva sobre "o que" causou as mortes. O Ministério Público Estadual interveio. Porém, numa atitude estranha resolveu esperar a realização de uma vistoria técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema de Saúde para, então, emitir um parecer a respeito. Parece piada, mas não é! Até a faxineira da Hildete Falcão sabe por que as crianças morreram... Como perguntar não ofende: será que os laudos chegam antes do fim do mandato do governador Marcelo Déda?

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