A PROPÓSITO DO ACORDO DE LENIÊNCIA
Quem lê “Lava Jato”, do jornalista Vladimir Neto, obtém uma gama imensa de informação sobre as ações ilícitas praticadas por empreiteiros, servidores públicos e políticos, cuja sangria dos cofres públicos [ainda incalculável] resultou na prisão de nomes estrelados, algo jamais visto no Brasil, que passa atualmente por uma hecatombe nos setores político e empresarial.
No entanto, uma coisa são os proprietários e dirigentes de corporações e empresas. Outra é a estrutura produtiva, empregadora e, por conseguinte, geradora de renda e impostos – ou seja as corporações e empresas! A Lava Jato fez o favor de encarcerar bandidos versados na arte de subtrair o Erário e corromper agentes públicos. A operação, por sua vez, tem efeito colateral violento.
Grandes corporações nacionais – empreiteiras com atividades dentro e fora do Brasil em diversos ramos e faturamento geral superior a R$ 250 bilhões anuais – passam por verdadeira devassa, em decorrência de delações premiadas, cuja profundidade ainda é desconhecida. O momento, todavia, exige frieza: punir os malandros é essencial; preservar corporações e empresas, idem.
Vejamos o escândalo da Siemens, que quase a levou à falência. Em 2006, a companhia alemã protagonizou um dos maiores escândalos corporativos da história mundial, com práticas semelhantes às flagradas pela Lava Jato no Brasil. Uma investigação nos EUA revelou o pagamento de US$ 1,4 bilhão em propinas a autoridades de mais de 20 países, em troca de contratos públicos.
Devido ao escândalo, a Siemens amargou uma das maiores multas da história do mundo corporativo: total de US$ 1,6 bilhão, pagos nos Estados Unidos e na Alemanha. Diversos dos seus dirigentes estão até hoje na cadeia e, quando deixarem a prisão, não mais poderão gerir empresas. Puniram-se os bandidos, e salvaram-se os empregos e o capital investido na empresa.
A legislação brasileira tenta adequar-se aos padrões internacionais anticorrupção e anticoncorrência. A prática de cartel leva inevitavelmente à corrupção, conforme verificado pela Lava Jato nas operações das grandes empreiteiras na Petrobras e Eletrobras. Daí a necessidade de um mecanismo de defesa da ordem econômica, para combate o crime de formação de cartel, punir eventuais praticas delituosas e promover a proteção do mercado. O acordo de leniência serve a este propósito, conforme explicou em discurso o líder do Governo na Câmara dos Deputados, André Moura.
Em aperte ao discurso de André Moura, o deputado Miro Teixeira, além de elogiar a iniciativa do líder, apoiou a proposta encaminhada pela Presidência da República, cujo grande mérito é garantir às empresas manterem-se no mercado, sem com isso deixar de punir dirigentes aloprados. No vídeo abaixo, o parlamentar do Partido Rede do Rio de Janeiro, que é jornalista e advogado, faz um resumo muito interessante do que os brasileiros esperam com os acordos de leniência.

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