Caso “Urubus” da Imprensa
PARA SINDICATOS, SÍLVIO SANTOS
GENERALIZOU O XINGAMENTO
De volta com o tema da agressão do secretário-chefe da Casa Civil do governo sergipano Sílvio Santos (leia textos anteriores), para quem seriam “urubus” os responsáveis pela divulgação no sábado de informações sobre a suposta piora do estado de saúde do governador Marcelo Déda. Havia eu estranhado e reclamei do silêncio dos Sindicatos dos Radialistas e Jornalistas.
Conversei na terça-feira com Fernando Cabral, presidente do Sindicato dos Radialistas e Caroline Rejane, presidente do Sindicato dos Jornalistas. Ambos “ignoravam” a agressão de Sílvio Santos à categoria. Chiei... Era para mim absurda tamanha “ignorância”, diante da repercussão do fato – comentários entre colegas, textos (meus e de outros) publicados em sites e blogs, e as inúmeras manifestações através do Twitter e Facebook.
Hoje voltei a falar com os caros Fernando Cabral e Caroline Rejane, a fim de tornar do conhecimento público o entendimento das representações sindicais ante a agressão.
Fernando Cabral, a quem conheço por mais de 20 anos – e sem dúvida, tem sido o mais atuante de todos os presidentes já empossados no Sindicato dos Radialistas –, resumiu assim o seu pensar: “Sílvio Santos não citou a categoria de forma direta. Entendo ter havido uma generalização, envolvendo toda a sociedade. Já pensou se a gente protestar sempre que surgirem demandas por hipótese? Quem se sentiu ofendido, que proteste diretamente.”
Para Fernando Cabral, o caso se assemelha ao do jornalista Cristian Góes, processado pelo desembargador Edson Ulisses por um texto onde sequer lhe citou. “Trata-se de um exemplo de carapuça que serviu, com todo o respeito que tenho por sua excelência. O texto de Cristian Góes é uma obra ficcional, cujo personagem poderia ser qualquer um. Mas Edson Ulisses achou que se encaixava no seu perfil. Não há como concordar com algo assim...”
Caroline Rejane trilhou por caminho semelhante. Para ela, não houve ofensa direta a nenhum associado ou mesmo à imprensa: “Trata-se de uma generalização, até porque havia muita gente falando sobre a saúde do governador, não apenas os comunicadores”. A jornalista também se disse “intrigada” com o meu escrito: “Informei-lhe que não sabia da suposta agressão, o que mantenho. Meia hora depois, você publica um texto no qual passa a impressão de que, mesmo anteriormente conhecendo o fato, optamos por ignorá-lo. Não somos oniscientes nem onipotentes para monitorar as redes sociais 24 horas ao dia, sete dias por semana. Somente após você entrar em contato, é que tomei conhecimento.”
A presidente também observou um outro ponto do meu texto: “Você citou como se fosse estranha a nossa reação no caso do senhor Edivan Amorim (presidente do PTB). A situação é diferente. Ele citou a imprensa, de modo direto. Agrediu a categoria. Agimos de modo semelhante contra o ex-prefeito de Capela Sukita na agressão a Jozailto Lima e, mais recentemente, na ofensa ao profissional e a pessoa do jornalista Ivan Valença, tratado pelo vereador de Aracaju Agamenon Sobral como incapaz, por ser ele um idoso. Tivesse Sílvio Santos chamado a imprensa de urubu diretamente, a reação seria idêntica, pode ter certeza.”
As ponderações de Fernando Cabral e Caroline Rejane estão baseadas numa premissa verdadeira: Sílvio Santos tomou o cuidado de não atacar qualquer comunicador de forma direta. Também não citou a imprensa. Pior para ele, se “generalizou” – atacou desta forma toda a sociedade sergipana! Ocorre que o secretário-chefe da Casa Civil do governo do PT falava, sim, da imprensa. Isso está na cara. Não há qualquer dúvida, por causa do contexto. Os sindicatos não quererem comprar essa briga, não isenta Sílvio Santos da agressão ou mesmo da cara de pau de fazê-la de forma velada. Mas é isso... mesmo que eu não concorde com a posição de Fernando Cabral e Caroline Rejane, não me resta alternativa senão aceitá-la. Vivemos numa democracia e estamos todos desobrigados de submeter-nos a pressões.
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Por David Leite | 21/06 às 12h00

PS – Este texto foi escrito tendo como fundo musical Jair Rodrigues cantando Bésame Mucho, na audiência da rádio Eldorado FM (São Paulo), para mim a melhor do Brasil.


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