Quarta-feira, 10 de Outubro de 2012 | 17h05 | Eleições 2012
Ao velar oposição cerrada, Valadares pode sentenciar: “João 2014”

Há textos que gostaria de ter eu os escrito, pela ordenação estilística, justeza na argumentação e abordagem baseada nos fatos – e apenas neles! –, não obstante o “tempero” aprumado pelo escriba. Eis, então, pela primeira vez na história deste canal, um texto que não vem de minha pena, mas que apresento aos diletos leitores sem pejo. Apreciem sem parcimônia...

Por Joedson Telles
O senador Antônio Carlos Valadares disse ao UniversoPolitico.com que João Alves à frente da Prefeitura de Aracaju será um atraso. “Duras penas porque nós já sabemos como será o governo. E eu não me engano. Será o atraso”, assegurou. Nada de novo. Seu candidato e filho tratou de passar toda a campanha massificando a tese. Impossível foi persuadir a maioria do eleitorado. Todavia, gostei do “eu não me engano”, lembro até um antigo café. Mas gostei mais ainda da extensão da pérola do senador. Lá vai, depois volto ao gramado:
Primeiro que, ao invés de procurar um bom entrosamento entre governo estadual e federal seria um enfrentamento constante. Por exemplo, João pede uma verba, e se o governo logo não liberar ele vai começar a alarmar que está sendo perseguido, supostamente, e que não consegue recursos. Com isso a cidade, certamente, ficará estagnada e, isso vai acontecer independente do apoio ou não do governo federal. Esse grupo que governou 12 anos sem promover melhorias governando de novo agora, a gente sabe bem o que vai acontecer”.
No gramado, outra vez. É visível: a ficha ainda não caiu. O senador continua no palanque, batendo de frente contra a vontade da população. Aliás, até setor isolado da imprensa já começou, cinicamente, a admitir a força de João. Depois de fazer campanha contra, agredir, criticar, mentir... durante todo o processo, tenta, agora, fazer a média. Típico do caráter conhecido. Mas, plagiando o próprio Valadares: “eu não me engano”: de uma forma mais educada e bem menos voraz, o senador pensa igualzinho ao desafeto Almeida Lima: ‘o povo está errado em eleger João prefeito de sua capital, e o fez por falta de percepção do equívoco. Não sabe votar’. Ou seja, os adversários estão juntos na contrariedade com a democracia, com a vontade soberana das urnas. Em outras palavras, o povo não pode ter vontade própria. É para jogar João no ostracismo e ponto final. Curioso: o povo até jogou, mas os próprios adversários lhe deram sopro de vida.
O que também não parece muito claro na cabeça do competente e atuante senador Valadares é que definir João como o atraso e ser surrado por ele nas urnas de Aracaju em duas eleições seguidas, é algo passível de uma reflexão. Das duas uma: ou essa de atraso não existe. Trata-se de pura retórica derrotada nas urnas. Ou o eleitorado carece de inteligência para enxergar a verdade, o que colocaria Valadares e aliados no papel de esmurrar a ponta da faca. Se a segunda opção for a correta, Valadares e o eleitor duelam para ver quem vence pelo cansaço. Domingo o eleitor venceu mais uma.
A entrevista de Valadares no UniversoPolitico.com está ainda a revelar que João terá ele e o filho na marcação. Note-se que nem começou ainda o governo, mas Valadares já fala em cidade estagnada. Não creio que essa oposição cerrada seja, exclusivamente, para cumprir o caminho traçado pelas urnas, ao dar 37% dos votos a Valadares Filho, legitimando-o na oposição.
Salta aos olhos dos mais atentos a necessidade de deixar Valadares Filho na mídia. Perpassando o duelo da campanha, a ideia é mantê-lo vivo como o principal opositor ao governo João Alves por interesses bem mais eleitorais que sociais. Tudo sonhando com um voo mais alto, que tentar a reeleição na Câmara Federal, em 2014.
Valadares sabe que não apenas Jackson Barreto, mas também Eduardo Amorim são fortes nomes para a disputa do governo do Estado. Como, em 2014, ele ainda terá mais quatro anos de Senado, nada mais cômodo que tentar emplacar Valadares Filho como vice em uma das chapas. Evidente que como JB em sendo eleito só terá quatro anos de mandato, não tem direito a reeleição, seria o parceiro ideal para alimentar o sonho de alçar Tonhão de vice a governador em 2018. Bem mais maduro que o candidato que jogou tempo de TV fora pessimamente aconselhado, estimulado a agredir, bater na tecla do VLT, e até falar sobre o que não conhece a fundo – como aquela história da Coroa do Meio, que acabou mandando o próprio pai à guilhotina, pensando atingir o adversário... Um jovem político bom e inteligente, mas mal assessorado. Se aprender com os erros, Sergipe ganha. Valadares Filho é um excelente quadro. Um dos raros exemplos de renovação de uma liderança na política sergipana– no caso o senador Valadares...
... Em optando por JB, além de evitar o desgaste do rompimento, o sonho poderia ainda ter o apoio do governador Marcelo Déda, que é sempre lembrado quando o assunto é Senado, em 2014. Déda, porém, terá muito trabalho para concretizar isso, já que o desafeto Amorim fez vários prefeitos, que podem apoiar uma possível candidatura do deputado André Moura para concorrer com ele. Isso vingando, e, óbvio, Maria não indo à reeleição, até João pode estar com André. Com a caneta na mão, entretanto, Déda tem como avançar na base inimiga e lançar a sorte.
O que talvez não tenha passado pela cabeça de Valadares é que, ao atear gasolina no fogo aceso entre seu filho e João Alves nestas eleições, para estender as chamas ao mandato, ele manterá viva a ideia que o maior adversário do grupo continuará sendo João Alves, que, por sua vez, terá mais um motivo para fazer o que Valadares Filho desenhou durante a campanha: deixar a PMA nas mãos de Machado, e se lançar em 2014. No mínimo, o incêndio estaria a fortalecer ainda mais João Alves para apoiar uma candidatura de Eduardo Amorim ao governo do Estado. Sobretudo se o desgaste dedista persistir. Como disse o Senhor Jesus, “sim sim, não não. O que passar, vem do maligno”.

...

Nenhum comentário: