Quinta-feira, 5/05/2011 | 22h35
O Brasil e suas excentricidades...
O Brasil já cansou de saber que é o único país no mundo a produzir a jabuticaba  (ou jabuticabeira), árvore frutífera nativa da Mata Atlântica – relembro bem, no sítio da minha família, desde muito cedo, ainda um guri danado, esbaldava-me nas doces e maduras jabuticabas, colhidas em pequenos gomos nos galhos frondosos de uma centenária jabuticabeira...
Em “O Dia em que Getúlio Matou Allende”, emocionante novela política totalmente baseada em fatos reais, livro que recomendo, o jornalista Flávio Tavares descreve sobre o excêntrico “golpe militar no golpe militar” aplicado pelo general Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra de Café Filho, vice-presidente que assumiu o poder com o suicídio de Getúlio Vargas – neste ínterim, Juscelino Kubitschek e João Goulart foram eleitos presidente e vice, em votação muito apertada.
O ano é 1955, mês de novembro. O presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, assume a Presidência da República em substituição constitucional a Café Filho, morto em 2/11/1955 de um ACV. Tocado pela “mosca azul”, Carlos Luz resolve aderir ao golpe em andamento para impedir a posse dos eleitos, sob alegação – ilegal, pois a nem a Constituição nem a Lei Eleitoral discorriam sobre o assunto – de que estes não haviam alcançado a “maioria absoluta” dos votos.
Para assegurar a posse dos mais votados pelos eleitores, num gesto de fervoroso apego à legalidade e ao ritos constitucionais, o general Henrique Teixeira Lott mobilizou o Exército e aplicou um golpe “preventivo” nos empanados golpistas – os líderes militares da Marinha e Aeronáutica, e setores da imprensa ligados ao inescrupuloso jornalista Carlos Lacerda. O resto é História...
O Brasil segue produzindo excentricidades...
Em Sergipe comanda a prefeitura de Aracaju um antigo militante comunista. Membro do politburo do PcdoB, Edvaldo Nogueira foi reeleito para o cargo em 2008, após tê-lo recebido de bandeja de Marcelo Déda, e hoje enfrenta queixas e mais queixas pela insossa administração que pratica.
O elemento mais notável da gestão de Edvaldo Nogueira, em voga por aí, tem sido o próprio prefeito. Filho de pessoas humildes de Alagoas, ex-estudante de Medicina que resolveu abdicar dos estudos para viver da política profissional, um sujeito que até então nada possuía de requintado, caiu no gosto burguês, aderindo às roupas e perfumes de grife, aos restaurantes e vinhos caros.
Encarnação esnobe do “comunismo de boutique”, Edvaldo Nogueira suscita certo cabuloso destino galgado pelos políticos que, como ele, assumiram postos-chave sem qualquer cabedal eleitoral. Wellington da Mota Paixão, por exemplo, nem vereador conseguiu se eleger. João Augusto Gama, mais sensato, sequer tentou. Edvaldo Nogueira conseguirá, ao deixar o cargo em 2012, eleger-se para alguma função pública, após não conseguir eleger a ex-mulher como deputada, tendo às mãos o aparato do poder?
Eis aqui, quem sabe, mais uma dessas jocosas excentricidades nacionais: ao contrário dos demais ex-prefeitos, o pomposo prefeito Edvaldo Nogueira “se fez”! Hoje, casado com a herdeira de um dos maiores impérios empresariais e reverenciado como “nobre” pelos cartéis do lixo e transporte – sem esquecer os generosos industriais das multas –, talvez possa ele contar com este repastado conjunto de forças para, quem sabe, eleger-se, ao menos, vereador! Afinal, eleição é coisa cara...
Edvaldo Nogueira poderia, assim, passar à História como o menino pobre alagoano que sonhou com um mundo onde “todos fossem igual, vivendo cada um segundo suas necessidades”; mas que deu a volta por cima, elegendo-se prefeito com apoio indispensável do padrinho Marcelo Déda; casou-se com o capitalismo de direita; aliou-se ao mais comezinho dos poderes, o econômico-financeiro; aderiu ao modus vivendi dos ricos (e famosos), vindo a tornar-se expressão máxima de elegância e sofisticação do proletariado burguês, ainda que declarado comunista.
Uma história bem brasileira, convenhamos! Como a jabuticaba...

Edvaldo Nogueira com o chefe do PCdoB nacional João Amazonas,
nos tempos idos em que o prefeito comunista
ainda era grande apreciador de pinga e cerveja Brahma.

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