Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009 – 23h35

O Discurso-Feito de Marcelo Déda

Como diria o admirador de Fidel Castro, Chico Buarque de Holanda, “de muito gorda, a porca já não anda”. Os argumentos do governador Marcelo Déda para justificar-se dos ilícitos dos quais é acusado no TSE (leia sobre no escrito anterior, logo abaixo) soam preguiçosos e patéticos.

Aliás, a incrível desfaçatez e a imensa cara-de-pau só são sobrepujadas pelos escritos dos que deveriam praticar o jornalismo com independência e imparcialidade.

Conforme disse anteriormente, caso seja cassado pelo TSE, Marcelo Deda já tem pronto o discurso do perseguido, do injustiçado; do coitadinho, vítima de um golpe rasteiro daqueles que não se conformaram com sua vitória...

Convenhamos, um homem do suposto calibre intelectual do governador das mudanças para pior, cujo poético vernáculo –dizem as más línguas– encanta até “serpentes”, bem que poderia se acercar de objeções mais modernosamente elaboradas.

A lorota da pobre vítima vilipendiada e atacada pela elite dominante, do sempre ético, do incorruptível e do divinamente honesto, é a mesmíssima usada pelo probo Jackson Barreto 20 anos atrás, quando foi desalojado da cadeira de prefeito de Aracaju (contando inclusive com o voto do então deputado estadual Marcelo Déda) sob a acusação de fazer contas à moda do cantor de forró: “Uma pra mim, uma pra tu, uma pra mim, outra pra mim!”.

Não que se possa comparar o governador a Jackson Barreto, cuja ficha corrida, se emendada folha após folha, somaria uns cinco quilômetros...

Vejam só o que disse Marcelo Déda na terça-feira 18/08, numa carta ao jornalista Luis Nassif*, proprietário de um blog mantido com recursos do BNDES:

Nassif:

Não pretendia me pronunciar, deixando aos meus advogados essa tarefa, mas, admirador do seu blog, fui lendo os comentários e julguei importante emitir algumas considerações e passar algumas informações que podem esclarecer melhor os fatos...

A acusação que me fazem decorre de atos de inauguração de obras e serviços da PREFEITURA (atente bem para o detalhe), durante o mês de MARÇO, aniversário da cidade (tradição antiga), quando eu AINDA ESTAVA NO EXERCÍCIO PLENO DO CARGO DE PREFEITO (guardem mais esse detalhe). Tudo aconteceu antes que eu fosse registrado candidato pelo PT e aceito pelos demais partidos da coligação.

Não sou acusado de compra de voto. Não me atribuem nenhum ato, durante o processo eleitoral propriamente dito, que só iniciou em JULHO. Não me acusam sequer de ter pregado um cartaz na parede de uma igreja!

Vejam bem: sou acusado de em MARÇO, quando era prefeito, de ter inaugurado obras e os atos de inaugurações terem influenciado o resultado do pleito em OUTUBRO. (...) Como poderiam festas cívicas do aniversário de Aracaju, ou inaugurações festivas, como tradicionalmente se faz aqui, realizadas em março terem tanta força, a ponto de, em outubro, configurarem abuso contra um candidato que disputou reeleição no cargo? (Marcelo Déda)

Vejam o que escreveu Diógenes Brayner em “Plenário” (Correio de Sergipe) na quinta-feira 20/08:

“(Marcelo) Déda não é acusado de compra de voto. Não é acusado de ter usado serviços públicos ou programas e projetos sociais para captar votos. Não é acusado de usar a máquina para constranger o eleitor. Não o acusam (no processo de cassação em curso no TSE) de ter cometido qualquer outro deslize eleitoral, durante a campanha! Ou seja, não lhe atribuem, enquanto candidato, nenhum ato supostamente desabonador, durante o processo eleitoral propriamente dito, que só se iniciou, como todos sabem, em julho de 2006. (...) O governador Marcelo Déda está sendo acusando pelo fato de, em março, quando era prefeito, ter cumprido com a tarefa de qualquer chefe de executivo municipal, estadual ou federal, ou seja, de ter inaugurado obras. Tudo isso baseado na tese de que os atos de inauguração realizados em março, na capital, teriam influenciado o resultado de um pleito acontecido em outubro, nos 75 municípios do estado.”

E agora o que disse o próprio Marcelo Déda em entrevista de página inteira publicada no Cinform de hoje:

“Não sou acusado de compra de voto. Não sou acusado de ter usado serviços públicos ou programas e projetos sociais para captar votos. Não sou acusado de usar a máquina para constranger o eleitor. Não me acusam sequer de ter pregado um cartaz na parede de uma igreja durante a campanha! Não me atribuem nenhum ato ilegal durante o processo eleitoral propriamente dito, que só se iniciou em julho de 2006. (...) Acusam-se de ter feito aquilo que é obrigação do todo prefeito: inaugura obras. Aqui em Sergipe e no Nordeste é uma tradição inaugurar obras festivamente.”

Incrível a semelhança entre discursos pronunciados em fóruns distintos e em dias alternados. Podemos assim supor, tratar-se da “comunicação política” urdida por Marcelo Déda para o gran finale: ser ovacionado em praça pública na hipótese de sua vitória no TSE, ou desagravado pela camarilha aboletada na imprensa se for cassado.

Notícia é notícia e a verdade, queira a imprensa petista ou não, acaba sempre por aparecer. A população aos poucos começa a sentir as manobras dos valhacoutos e a descreditar seus escritos.

E mais: já é notável o número de eleitores que se cansaram do “projeto de mudança”. Sinceramente, o melhor seria a disputa entre os próceres (Marcelo Déda e João Alves Filho) nas urnas. O voto a voto é sempre muito mais quente... Mas se for cassado, Marcelo Déda certamente posará de vítima. Contra esse tipo de argumento é que se deve manter os olhos e ouvidos bem abertos.

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(*) (texto completo em:

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/18/o-tapetao-eleitoral/)

2 comentários:

Lula disse...

Não poderia haver veículo mais adequado a este tipo de comunicação do que o Nassif. Se o governo quiser investir um pouco mais, ainda tem outros na mesma linha dando sopa.

Joran Leite disse...

Valeu Davi Leite..... Demorou, escancare as verdades e mostre de fato os tipos de estrategias usadas, por tais jornalistas e alguns meios de comunicação.
Parabens!