Quarta-feira, 26 de Agosto de 2009 – 16h15
O Que Tem a Ver o Respectivo Com as Calças?
A mais requentada discussão política dos últimos dias é quanto a quem chegou primeiro ao mundo, se o ovo ou a galinha. Importaria ao distinto público conhecer o “verdadeiro” autor da ação em tramitação no TSE, com a acusação de abuso da máquina pública e outros ilícitos, perpetrada contra o governador Marcelo Déda?
Sim! Importa, e muito. Pois sem um autor, ou mentor se preferirem, devidamente identificado, com peso político obviamente, a futura canonização de Marcelo Déda, condenado ou não na querela do TSE, ficaria sem a “agravante eleitoreira”, e daí não poderia ser usada com a mesma eficácia nos palanques.
Se a dita ação tivesse a autoria de Maria Candelária, a “puta velha cansada de guerra, mas que um dia foi uma formosura na flor nem sempre pura da idade”, conforme os vívidos versos de Armando Rafael*, não haveria qualquer mínimo reboliço. Seria apenas uma “mulher da vida” a conjurar fábulas. Mas...
Os fatos – Tudo começou com a cantilena de Marcelo Déda ao Cinform desta semana, na qual acusa João Alves Filho de ser “o sujeito oculto de um golpe que não terá o apoio do TSE”. Na mesma reportagem, o ex-governador negou qualquer envolvimento: “A cassação de Marcelo Déda não me interessa. Seja qual for a decisão, não quero assumir o governo. Eu quero ganhar do governador no voto”.
Ainda na segunda-feira, Marcelo Déda fez chegar ao Jornal do Dia “cópias de documentos com a comprovação da participação do ex-governador no processo”. Ontem pela manhã os tais “documentos” foram disponibilizados no e-Sergipe**, o blog da Secretaria Estadual de Comunicação.
De acordo com o texto de apresentação da papelada, “João Alves Filho pede para ingressar como assistente litisconsorcial na representação contra o governador. A assistência litisconsorcial é um meio legítimo de participação onde o assistente atua no processo por ter interesse em que a sentença lhe seja favorável, pois sua situação jurídica será diretamente atingida pelos efeitos da sentença proferida”.
Trocando em miúdos, conforme “explicou” o Diário Oficial do governo das mudanças para pior, o Jornal do Dia: “A petição obtida com exclusividade pelo Jornal do Dia joga por terra o discurso do ex-governador João Alves Filho de que não moveu ‘nenhuma palha sequer’ no processo que tramita no TSE pedindo a cassação do diploma do governador Marcelo Déda”.
O canto suave da “pobre vítima vilipendiada e atacada pela elite dominante, do sempre ético, do incorruptível e do divinamente honesto” estava então reabilitado. Mas...
A reação – Ontem à tarde a assessoria de João Alves Filho encaminhou à imprensa um comunicado de desmentido –pelo menos, um desmentido
“O recurso na justiça eleitoral contra a expedição do diploma de Marcelo Deda e Belivaldo Chagas foi protocolado em dezembro de 2006 e tramitou até fevereiro de 2009 sob a responsabilidade do Partido dos Aposentados da Nação – PAN, sem qualquer interferência do Partido Democratas.
Somente em fevereiro de 2009 –ou seja, quase três anos após o início do processo referido– o Democratas se limitou a pedir o seu ingresso na condição de assistente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), atual autor da ação por ter sucedido o PAN. Tal decisão foi motivada pelo fato do PTB ter solicitado a extinção do feito, em 28 de janeiro de 2009, ocasião em que a Executiva Nacional do Democratas concluiu que essa desistência poderia fomentar grande injustiça.
Ocorre que a petição na qual requeri o ingresso no feito sequer foi apreciada, pois face à manifestação do Ministério Público Federal no dia 17 de agosto de 2009, emitindo o parecer de que ‘a desistência manifestada pelo recorrente não implicaria a extinção do feito sem resolução do mérito, tendo em vista a natureza eminentemente pública da matéria’, a denotar a gravidade das denúncias, solicitei já no dia 19 de agosto de 2009, antes mesmo da avaliação da referida petição, a sua desconsideração.”
(João Alves Filho)
Lá se foi para o brejo, de novo, o discurso-feito, a cantilena monótona e insossa do governador Marcelo Déda...
Mas afinal, o que tem a ver o respectivo com as calças? Diante da gravidade das denúncias (vide escritos anteriores, logo abaixo), não importa conhecer o verdadeiro autor por trás da ação nem sua motivação. O que realmente pesa é como o TSE vai se pronunciar, pois os flagrantes ilícitos ainda não foram esquecidos, como pretende o governador ao promover toda essa cortina de fumaça.
Já comentei a respeito antes e repito. O ideal para o processo político e democrático seria a disputa no voto a voto, com o governador enfrentando João Alves Filho em 2010. Todavia, no meio do caminho há um imenso pedregulho que não pode ser simplesmente ignorado.
Marcelo Déda tem uma forma, digamos, peculiar de usar a máquina na autopromoção para lucrar eleitoralmente. O megacomício de 15 dias atrás, conforme denunciei em escritos anteriores (que podem ser acessados logo abaixo), leva a crer que Ele sempre teve pia certeza da impunidade. Diante do nefasto passado de ilicitudes, agora questionado na justiça eleitoral, o governador anda muito nervoso, porquanto, esperto como é, sabe do imenso risco que corre de perder o suado mandato de forma pateticamente inusitada. Isso de um lado...
Já pelo outro, toda essa balbúrdia em torno do autor da contenda jurídica agita os partidários e admiradores sem vínculo político de João Alves Filho, que cada vez mais o enxergam como a melhor alternativa –talvez a única– de derrotar fragorosamente o saturado projeto de mudança no voto a voto. Isso sim deveria ser motivo para Marcelo Déda pensar duas vezes antes de polemizar com o ex-governador...
Mas ainda é cedo para falar em eleição.
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(*) Texto completo em http://cariricult.blogspot.com/2009/03/maria-candelaria.html.
(**) Texto completo em http://esergipe.wordpress.com/2009/08/25/documentos-comprovam-participacao-de-joao-alves-no-processo-contra-deda.
(***) Texto complexo em http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=40589#T+.
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