Terça-feira, 12.02.2008 - Ano II - Edição Número 222

AS PERIPÉCIAS DE ELOÍSA GALDINO
Mês passado, para demonstrar com desconcertante categoria como emporcalhar o prato em que já aplacou a gula, o CORREIO DE SERGIPE publicou “entrevista” (20.01.07) com a secretária estadual de Comunicação Social, Eloísa Galdino, onde, sem ouvir o “outro lado”, o insosso jornal trazia na manchete de página: "Secom desperdiçava dinheiro público". Não é gozação, não! O bate-papo começou com a secretária expondo em detalhes como teria encontrado a Comunicação no início do governo de Marcelo Déda: “Por ali habitavam práticas administrativas precárias, o caos, os gastos sem planejamento, o desperdício de dinheiro público, a desordem. Muita gente nomeada e sem nenhuma função administrativa e assessorias de comunicação desarticuladas”. Inexplicavelmente, o CS perdeu uma imensa chance de questionar madame Galdino sobre quando ela pretende devolver aos cofres públicos o valor gasto com a viagem do carro oficial que foi apanhá-la e a acompanhantes no aeroporto de Salvador, no retorno das merecidas férias no início deste ano. Também não a questionou sobre a estranha reforma paga pela Secom no imóvel de número 05 da Rua José Oliveira Filho, conjunto Leite Neto, ao custo de R$ 206.980,01 – apesar de a casa em questão valer no mercado imobiliário no máximo R$ 200 mil. Segundo a desinibida jornalista Thaís Bezerra (JORNAL DA CIDADE, 27.01), especialista em mexericos, o imóvel teria sido alugado por R$ 1.300,00/mês – alugueis de construções similares na área custam no máximo R$ 800,00 – e serviria de abrigo para um certo “projeto Mídia Jovem”, sonho pessoal da secretária. Sem citar nomes, madame Galdino disse ainda na esquisita “entrevista” que a comunicação governamental agora é tratada como “um direito do cidadão e dever do Estado, e não para beneficiar esse ou aquele grupo”. Naturalmente, ela deveria estar falando sobre os cidadãos marcianos, já que recentemente o jornal O ESTADO DE S. PAULO lhe pediu informações quanto aos gastos com viagens internacionais feitos em 2006 pelo governo da mudança e madame Galdino ligou os ouvidos de mercador e deu de banda para a centenária publicação. Também sobre este tema, não foi questionada pelo desinteressado CORREIO DE SERGIPE. Depois de “arrumar a casa” e aplicar a marca petista na Secom, com direito a “mudanças simples” como realizar “uma licitação inédita no Brasil, sem a ocorrência de um ruído sobre a seriedade e a transparência do processo”, madame Galdino terá daqui em diante de refazer conceitos, “respeitando as idiossincrasias” das opiniões discordantes, para tentar manter de pé a tão decantada seriedade da licitação comandada por ela no ano passado, cujas irregularidades, para ficar numa palavra amena, foram desprezadas não apenas pelo CS, mas por todos os demais órgãos de imprensa sergipanos. Aos fatos: A carioca PPR – Profissionais de Publicidade Reunidos, primeira colocada na licitação da Secom, deixou de apresentar a Certidão Conjunta de Débitos Relativos a Tributos Federais e a Dívida Ativa da União (desacordo com o item 5.1.3 do edital). Foi inabilitada! No momento em que se deu o problema, um dos membros da comissão recebeu uma ligação no seu celular para tratar do assunto, fato confirmado por representantes de outras empresas presentes ao certame. Não se sabe quem teria sido o interlocutor, mas sem qualquer explicação plausível, a Comissão Especial de Licitação resolveu de pronto rever a inabilitação, antecipando uma justificativa pela manutenção da PPR na “concorrência”. Detalhe: sem que a própria empresa tivesse feito neste sentido um pedido formal por escrito à comissão, como obriga o edital. A seriedade da licitação de madame Galdino cai por terra quando se observa a falta de isonomia no tratamento das concorrentes. Por exemplo, a Comissão Especial de Licitação desclassificou a empresa CCA - Comunicação e Propaganda por chegar 10 minutos depois da hora marcada no edital para abertura das propostas. Mas permitiu à distinta e poderosa PPR, com os times já em campo, inserir um documento estranho – exatamente a certidão que havia motivado a inabilitação – ao envelope lacrado, entregue antecipadamente pela empresa. Somente a PPR teve tamanho prestígio. Em outra fase do processo (item Proposta Técnica, envelope “B”), as empresas Insight Propaganda e Marketing, SLA Propaganda e Daniel do Valle Assessoria e Publicidade foram desclassificadas. A Insight teria descumprido o edital ao não datar ou numerar as peças e ainda ter grampeado as folhas da proposta. A SLA caiu por não ter datado e numerado sequencialmente cada peça da proposta. Já a Daniel do Valle manteve a assinatura da empresa numa das tabelas de custos e também foi inabilitada. Depois, generosamente, a comissão voltou atrás e reconsiderou a desclassificação. Alegou que seria “melhor para o Estado selecionar a proposta mais vantajosa”, mesmo que esta decisão fosse frontalmente contra as regras do edital. Era mais uma permissividade a atentar contra a retidão da licitação. Tratou-se aqui, por enquanto, apenas sobre alguns dos muitos “furos” observados em uma licitação santificada pela obsequiosa Secretaria de Estado da Comunicação Social, sob a égide da bem intencionada Eloísa Galdino. Como, ao que parece, o propósito de escolher as empresas de propaganda que realmente interessavam ao governo do PT foi devidamente cumprido, o resto que se dane! Assim, a cada dia, a “seriedade”, a “transparência”, a “economia do dinheiro público”, o “zelo pela comunicação governamental” ensejados como fatos meritórios pelo governo da mudança no CORREIO DE SERGIPE parecem existir apenas nas palavras autocomemorativas de madame Galdino publicadas pelo risível jornal. E assim caminha a humanidade...

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