:::Quinta-feira, 29.11.2007 - Edição Número 199:::

UM INCÔMODO CADÁVER
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Em meados de 2004, o presidente Lula da Silva desengavetou a transposição das águas do S. Francisco. Quase um ano depois, em outubro de 2005, o bispo dom Luiz Flávio Cappio fez jejum contra o projeto em Cabrobó, sertão de Pernambuco. Pressionado pela opinião pública, o Grande Molusco designou o então ministro Jaques Wagner como mediador. Dom Cappio suspendeu a greve de fome depois da assinatura de um acordo que propunha a formação de uma comissão de negociação e debate entre o governo do PT e as organizações sociais, movimentos populares, povos indígenas e comunidades ribeirinhas. Em novembro daquele mesmo ano, o Ministério Público Federal, o MP da Bahia e o Fórum Permanente em Defesa do São Francisco na Bahia entraram com nova ação no Supremo Tribunal Federal na qual pediam a suspensão do processo de licenciamento ambiental em trâmite no Ibama. No dia 15 de dezembro ocorreu a primeira audiência do presidente Lula da Silva com a comissão de negociação, integrada também pelo bispo dom Cappio. De lá para cá, como havia muito papo e nenhuma ação, a comissão cobrou do Grande Molusco o prometido debate público sobre a obra (fevereiro de 2006). No final do ano passado (10.11), o Tribunal de Contas da União publicou o relatório de Auditoria Operacional do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional e fez recomendações ao Ministério da Integração, dentre as quais a revisão dos custos. Sem considerar o apelo da sociedade civil e o relatório do TCU, o então ministro do STF Sepúlveda Pertence derrubou as 11 liminares que impediam o início do projeto. Era a deixa que o governo do PT precisava para anunciar o lançamento do PAC, que destinava R$ 6,6 bilhões à transposição entre 2007 e 2010. Em março, o Ibama concedeu a licença ambiental e autorizou o início das obras. Enquanto isso, vários recursos chegavam ao STF contra a decisão do ministro Sepúlveda Pertence. Através da imprensa, dom Cappio apelou ao presidente Lula da Silva que retomasse o diálogo. Em reposta, o presidente mandou o Exército reforçar as equipes que trabalham na área da tomada de água dos eixos norte e leste. Como todas as ações –incluindo as jurídicas- contra a transposição de nada valeram, assim como não vale um vintém furado a palavra do Grande Molusco, anteontem dom Luiz Flávio Cappio retomou a greve de fome. Ele diz que só irá cessar o ato se o Exército for retirado da região e o projeto arquivado definitivamente. Pelo histórico aqui apresentado é possível concluir que de bravo lutador contra a morte do Velho Chico, dom Cappio talvez se transforme no cadáver mais incômodo do governo do presidente Lula da Silva...
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