OURO DOS TOLOS Operações clandestinas realizadas na calada da noite na nova maternidade de alto risco de Aracaju, mantida fechada desde janeiro, apesar de ter sido inaugurada em dezembro de 2006 totalmente concluída e apta a operar, comprovam a falta de escrúpulos do novo governo. No final de semana passado, um caminhão retirou da Nossa Senhora de Lourdes 16 incubadoras, condicionadores de ar e vasto material cirúrgico e hospitalar. O carregamento foi despejado ainda às escuras na combalida Hildete falcão. Quando os equipamentos novinhos em folha chegaram, funcionários questionaram a origem deles. Foi-lhes dito terem sido emprestados de um hospital particular para aumentar a capacidade de atendimento da Hildete Falcão, onde uma ala está sendo reformada para receber uma nova UTI neonatal. Sem acreditar na história do empréstimo, os funcionários passaram a investigar de onde a tralha realmente teria vindo. A verdade cristalizou-se na quarta-feira, quando o deputado Augusto Bezerra denunciou a estratégia do novo governo para tentar minimizar a situação calamitosa da Hildete Falcão. Com o Ministério Público Estadual na cola e depois do estardalhaço do oposicionista, parte do material surrupiado acabou devolvida à nova maternidade durante a madrugada de ontem. A Nossa Senhora de Lourdes está fechada porque os vermelhos alegam problemas estruturais. O estranho é que, enquanto a solução não chega, seus equipamentos de última geração sejam usados numa outra maternidade, onde as condições sanitárias são precárias e crianças morrem como moscas. É a típica esperteza de quem acha que só há otários no mundo... REAÇÕES ADVERSAS Rogério Carvalho luta para encobrir a enxurrada de desmandos praticados por ele quando foi secretário de Saúde de Aracaju e na atual gestão da Secretaria Estadual de Saúde (SES). A nova cortina de fumaça surge em meio às mortes de 11 bebês na Hildete Falcão e dos mais de 170 milhões de reais comprados sem concorrência, além da suspeita de falseamento em licitações. O estoque de remédios sem validade é na verdade um fóssil. Há nele medicamentos cuja compra remonta ao século passado. Alguns datam de 1985. Resultam de mais de 20 anos de inspeções da Vigilância Sanitária Estadual nas unidades de saúde do governo, hospitais e postos de saúde conveniados, e farmácias privadas. Rogério Carvalho tentou inicialmente quantificá-los em 10 toneladas. Não colou! Agora, tudo cabe num caminhão baú. Pressionado pela oposição a explicar a razão de ter ficado todos esses meses de bico calado, o rapaz brilhante contra-atacou acusando o ex-governo de irresponsável. O tiro, contudo, acertou em cheio o deputado Eduardo Amorim, secretário de Saúde à época e hoje aliado do governador Marcelo Déda. Segundo reportagem do CINFORM (04.06.07), a empresa fantasma Milena Santos de Andrade, de Alagoas, teria recebido 3,3 milhões de reais por remédios jamais entregues a SES. Noutros contratos, medicamentos comprados por Eduardo Amorim estariam além das reais necessidades ou tinham preços superfaturados. A tenebrosa gestão do deputado se encerrou com a demissão dele em fins de 2004. A Polícia Federal e o Ministério Público começaram a investigar o caso. As conclusões ainda são aguardadas. Outras vítimas da verborragia incontida de Rogério Carvalho são colegas dele no novo governo. Como no estoque dos imprestáveis há medicamentos adquiridos há mais de 20 anos, o deputado-secretário também culpou antigos gestores do Hospital João Alves Filho pela negligência e falta de planejamento. As pedradas ferem diretamente Roberto Gurgel, hoje no Hemolacem, e George Caldas, diretor da Hildete Falcão. Ambos dirigiram o HJAF entre 1995 e 2002, durante os governos de Albano Franco. Ontem, Rogério Carvalho disse que não pretende alimentar o bate-boca sobre os medicamentos sem validade. Para evitar leviandades, não vai responsabilizar ninguém até as investigações estarem concluídas. Porém, ao dizer tantas asneiras e mentir descaradamente sobre quantidades e conteúdo do estoque apenas para sujar a imagem dos adversários, o deputado-secretário acabou por criar uma situação constrangedora: pôs os próprios aliados e auxiliares na defensiva. É no que dá falar sem pensar...
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