E.Zine 09/07 N101

DESVIRTUDES REAIS Fazia mais de mês, Sua Alteza Real fora alertado pelos companheiros de Brasília quanto à iminente autorização da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para a instalação em Sergipe da Refinaria Atlântico Sul. Finalmente, em 22 de junho, foi publicada no DOU (Diário Oficial da União) a autorização. O soberano príncipe decidiu manter a informação em sigilo absoluto, enquanto negociava com representantes dos investidores internacionais responsáveis pelo financiamento da indústria. Essa história, porém, não começa agora. Tem como pano de fundo a refinaria da Petrobrás designada por Sua Inocência o compadre-salvador da Pátria para ser instalada em Pernambuco, cuja obra, depois de 15 meses de lançada, se resume à pedra fundamental, inaugurada com pompa e circunstância dias antes da campanha eleitoral. Sergipe entrou na competição pela refinaria da estatal brasileira. Mas como era um jogo de cartas marcadas, acabou de fora. O estado dispunha de um projeto, da área devidamente licenciada (ambiental) pelo Ibama e dos investidores -à época, até o presidente da empresa era sergipano (José Eduardo Dutra). Inconformado com o resultado, ex-mandatário saiu em busca de alternativas. Queria uma indústria de ponta no estado, independente da Petrobrás. Convenceu investidores, consultou especialistas nacionais e a própria ANP. Diante da obtenção do aval de todos os interessados, resolveu anunciar nos estertores da campanha eleitoral que faria uma refinaria em Sergipe. Resultado: sua candidatura à reeleição perdeu dezenas de milhares de votos quando a oposição o acusou de mentiroso e farsante. Agora, a verdade vem à tona. Após cumprir todas as exigências da ANP, os investidores estrangeiros foram autorizados a dar início à construção e operação da Refinaria Atlântico Sul na Barra dos Coqueiros. Alguns detalhes importantes: a refinaria independe do fornecimento do óleo bruto pela Petrobrás, pois a matéria-prima vem do Caribe e da África; os primeiros mercados-alvo serão a Europa e os Estados Unidos; vai produzir diesel, gás-óleo, nafta e GLP; será auto-suficiente em todos os insumos, exceto água; o pequeno excesso de eletricidade e de asfalto resultante do processo de refino será vendido como combustível para as indústrias de cimento do estado; na fase de construção serão gerados dois mil empregos diretos; em franca operação, serão 600 empregos diretos e mais de dois mil indiretos. Que fique o alerta! Usando do mesmo critério mesquinho para tentar apagar do imaginário popular um grande feito do ex-mandatário, como ocorre despudoradamente com a maternidade Nossa Senhora de Lourdes, Sua Alteza Real se prepara para engavetar a refinaria, apesar de o estado não precisar gastar um único tostão pela implantação. O silêncio dele após ter sido informado da decisão da ANP antes mesmo da publicação no DOU, mostra claramente suas intenções. Lamentavelmente, para desespero geral, a cada dia se constata que o espírito público (acima da politicagem, de partidos e questões menores) não faz parte das virtudes do soberano príncipe. Quem sabe, contaminado por aliados de reputação duvidosa, o homem tenha sido instado a ter outras preocupações, outras prioridades...

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