E.Zine 21/05 N67

ENFIM, AO PESCOÇO É possível ouvir a quilômetros de distância as frouxas gargalhadas matraqueadas no âmago do Adulatório Real. Nos antros mais abaixo, com suas bandeiras vermelhas desfraldadas, os lisonjeadores de Sua Majestade amolam a navalha da guilhotina para completar a destruição anunciada até em livro do maior dos desafetos do compadre-salvador da Pátria. Agora mesmo, discutem a madeira para o ataúde, a cor do esquife, o tecido da mortalha: -"Desta vez, tombará para sempre!", comentam. Na Basiléia, vinho, champanhe, uísque e canapés para a grande comemoração no Salão Nobre do Planalto Central. O poder maior, aquele que se julga supremo e invencível, aquele acostumado a cooptar por todos os meios possíveis, está à beira de um ataque de euforia etílica e gastronômica. O desejo geral na Corte é que o cortejo siga logo ao sepulcro, pois o insepulto ainda resiste na memória paroquial. Reações insurgentes, argumentam alguns dos nobres, não devem ser subestimadas! No principado, onde o maior requinte é o gosto pela cachaça branquinha, amplamente sorvida nas aglomerações recreativas em pés-inchados da vida, a galhofa alimenta os diálogos na bêbeda liturgia velatória. Os mais argutos questionam se seria o momento de aludir ao ponto final. Mas a plebe ignara, com a estrela medalhando o peito, esbalda-se gole após gole à espera do golpe fatal. Restaria doravante aos vencidos apenas contrição pela alma política daquele cujo espírito hoje se transmutará à História. Diante da prostração, são eles os que alimentam o riso venal dos autodenominados gloriosos, porquanto também envolvidos pelas imagens e versões impelidas pelo poder supremo às massas. Assim também estaria o grande público, imerso no rio da ignorância... Respeitável público, talvez ainda não fosse este o instante adequado para celebrar a cabeça no cesto do maior dos desafetos do compadre-salvador da Pátria, e único ante-ego de Sua Majestade. A percepção geral parece ser a de muita coisa ainda não devidamente explicada -de todos os lados, diga-se! Falta compreender as verdadeiras intenções para episódios de antes e de agora, que visam sepultar o malquerente. E não convém desprezar o poder das percepções em política. PS: Aos covardes anônimos e aos de pouca fé, um suspiro. Uns riem de si, outros riem de si e dos outros. Mas há aqueles que apenas tem senso de humor para as mazelas alheias. A estes, o ditado da vovozinha continua bem vívido. Ao seu tempo, a gargalhada que fecha a cortina sempre prevalece!

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