E.Zine 10/05 N60

ESTÔMAGO DE AÇO A sorte parece ter abandonado Sua Majestade. São tantos os problemas mostrados dia após dia que só com reza forte, banho de arruda e uns incensos para acabar a fase do desassossego real. Dia desses, deputados resolvem visitar o Hospital João Alves Filho “para conhecer os problemas” e se deparam com uma funcionária desesperada pelas péssimas condições de trabalho e os serviços oferecidos na Pediatria. Depois vem a tragédia de Monte Alegre, com as incríveis imagens exibidas pelo Jornal Nacional para o todo o Brasil. E com os desdobramentos já amplamente conhecidos. Ontem, por pouco não ocorreu uma nova tragédia. Tudo começou logo cedo, quando foram entregues lotes de carnes à cozinha do Centro de Excelência do Atheneu Sergipense. Sem se aperceber que os pacotes traziam um produto com validade vencida, as cozinheiras prepararam normalmente o prato. Por volta das 10h00, quando o preparo do almoço já estava quase concluído, o chefe da cozinha resolveu conferir o cardápio e constatou “um cheiro estranho” na panela industrial onde estavam sendo cozidos 90 kg de músculo bovino. Imediatamente, cancelou a distribuição e passou a preparar emergencialmente um substituto para a carne. Quando o almoço passou a ser servido, os alunos armaram o maior barraco. Os protestos começaram na cantina e se estenderam pelos corredores, até que todo o colégio – um contingente de quase mil alunos – fosse tomado pela gritaria e balbúrdia típica de manifestações envolvendo jovens. Ninguém queria comer ovo – apelidado pelo alunado de Bife do “Oião” – com macarrão ou arroz, salada e suco. Discursos dos líderes estudantis forçaram o encerramento da refeição. Os alunos foram para casa. Mas antes de deixar a escola, trataram de avisar a imprensa, a Vigilância Sanitária e até a diretoria responsável pela coordenação, distribuição e qualidade das refeições servidas nas escolas estaduais. Não é a primeira vez na vigência do novo governo que os alunos do Atheneu reclamam da qualidade da comida servida. Há dias em que o cardápio é tão precário que muitos alunos preferem almoçar em casa, arriscando perder as aulas complementares realizadas no turno vespertino. Tudo se deve ao fato de até dezembro do ano passado a comida servida no Centro de Excelência ser a mesma oferecida pela Petrobrás em suas plataformas, como estímulo para que os alunos se dedicassem integralmente aos estudos. A gota que fez o copo transbordar ontem respinga diretamente em Sua Majestade. A política vermelha de economizar em tudo está atingindo níveis preocupantes, especialmente quando se sabe que mês a mês os cofres estaduais estão inflando – são quase R$ 40 milhões/mês livres – com a crescente economia de recursos, não se sabe exatamente para quê. O triste disso tudo, no entanto, é constatar que além de sovinas e inapetentes os vermelhos também são vulgarmente mesquinhos: músculo bovino com macarrão? Sim, porque esse seria o menu oficial não fosse o fato de a carne está estragada. Ninguém agüenta! Enquanto isso, na Cozinha Real: 50 toneladas de camarão, 25 toneladas de amendoim cozido, 4,8 milhões de saquinhos de chá, vinhos importados...

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