E.Zine 02/05 N54

ANJOS E DEMÔNIOS O crime de Monte Alegre elevou Sergipe a destaque nacional. Matérias no Fantástico, Jornal Hoje, Jornal Nacional, Jornal da Record, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil... Foram tantas, ilustrando não propriamente o assassinato de duas meninas no alto-sertão, mas a indignação de uma população atormentada pela violência extrema, fora do eixo Rio-Sampa. O Brasil real existe fora do Sudeste, afinal! O autor dos disparos fatais, um garoto de 17 anos, já havia sido preso pela polícia por porte ilegal de arma, por furto e também por envolvimento com brigas. Em todas as situações foi liberado, sem nunca, no entanto, passar pelo crivo dos especialistas em menores conflitados com a lei. Para ele não existiu tentativa de socialização ou punição. Seguiu livre seu próprio arbítrio. Os sergipanos estão indignados não apenas pela violência do ato em si, ainda mais quando praticado por um menor infrator com largo prontuário. Menos ainda pela ineficiência e descaso da polícia, do mediador ou do serviço médico de emergência. Nada disso! Os sergipanos estão muito tristes e indignados, pois agora o País inteiro acha que aqui salva-se primeiro o demônio, depois os anjos. Ao exigir uma ambulância para si, após ter atirado para matar em três pessoas, ferindo mortalmente duas, o menor-demônio ratifica o quanto a vida (alheia) vale para quem nada tem a perder. Ele seguiu na ambulância do Samu escoltado pelos policiais. As vítimas contaram com o beneplácito do povão. E o debate sobre a maioridade penal se acirra: a humanidade historicamente sempre se mostrou mais inclinada a punir com a morte, cadeia ou a simples exclusão do que a educar. Agora, recebe o troco! Somos culpados pelos eventos de Monte Alegre. O novo governo porque ainda não se tocou que é governo e se debate para equacionar a matemática de lidar com a máquina pública no dia a dia. A Justiça porque não promove o resgate social esperado e não pune com o rigor devido quem se contrapõe à lei. A sociedade porque se indigna quando fatos assim ocorrem, mas daqui a pouco esquece tudo, deixando de cobrar e de trazer para si a responsabilidade pelo seu destino (futuro). A lembrança pela dor da tragédia perdura para sempre apenas nas entranhas das famílias vitimadas. As verdadeiras e únicas punidas. É o sinal dos tempos...

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