ANA ALVES ESTÁ LIVRE; USARÁ TORNOZELEIRA
Como opinei num escrito anterior, a prisão da Ana Alves teve “cheiro estranho”. Hoje, após duas tentativas fracassadas da defesa da jornalista, a Justiça a liberou. Deverá usar tornozeleira, teve limitada a área de circulação ao bairro de residência e não poderá manter contato de qualquer natureza com outros investigados ou testemunhas do processo.
Após uma semana em cana, a jornalista deixará o Presídio Feminino. Todavia, ainda perduram dúvidas quanto às razões para a reclusão. Nos autos, deu-se por “obstrução de Justiça”, ancorada em depoimentos, anotações encontradas com uma testemunha numa pasta, durante audiência no Ministério Público, e documentos pessoais de uma investigada e de uma testemunha apreendidos sobre a mesa de Ana Alves na sede do DEM.
A justificativa do magistrado, o mesmo que a deteve, para libertar Ana Alves diz: “A custódia cautelar foi decretada unicamente para preservar a colheita de provas”. Ué, enquanto Ana Alves depunha no Ministério Público (e de lá saiu presa), não estava em curso a tal “busca e apreensão”
Ainda na justificativa para o relaxamento da prisão, o magistrado comenta algo muito interessante, uma pérola a demonstrar a total “cegueira” (comento adiante) da Justiça sergipana. “Embora seja exageradamente precipitado falar na existência de crime […] há suspeita fundada de que houve dezenas de nomeações de servidores ‘fantasmas’ como forma de obtenção de apoio político, o que pode configurar, além do crime de peculato, o delito de organização criminosa”.
Santa danação! Por acaso Ana Alves ordenou despesas na Prefeitura de Aracaju? É investigada no caso dos supostos servidores “fantasmas”? Nomeou algum cargo comissionado? Recebeu comprovadamente recursos de corrupção? Nada disso consta dos autos e não está entre os motivos para a prisão, considerada “desproporcional” pela defesa, mas integra a justificativa de soltura. É fogo…
A “cegueira” coletiva foi alvo de ensaio do brilhante cafajeste português, o comunista prêmio Nobel José Saramago. Mesmo estando diante dos olhos, por vezes não se enxerga o que outro prolífico canalha, Nélson Rodrigues, denominou de “o óbvio ululante”. Nomeações de servidores “fantasmas” como forma de obtenção de apoio político, naturalmente um crime de peculato e delito de organização criminosa, fazem parte do cotidiano de Sergipe (e do Brasil) desde o Império.
Ora, ora, batam-me um abacate!
Será que se forem convocados os titulares dos mais de 1000 cargos comissionados à disposição da Governadoria, Vice-Governadoria e Casa Civil de Sergipe, haveria espaço no Palácio de Despachos para toda esse turba? Vão prender os responsáveis pelas nomeações desses cargos, também? Onde peste trabalham essas almas puras e santas, nomeadas no Diário Oficial do Estado de Sergipe, que recebem todos os meses os “(in)devidos” proventos? Quem são esses “filhos e filhas” do Poder
Melhor deixar quieto ou a vida de muita gente “boa” seria revirada pelo avesso. O exemplo está aí…
Ana Alves pode ter sido presa para atender a vaidade ferida de alguns promotores de Justiça, por comentários feitos ao telefone por alguém [ela] sem papas na língua? Não consta dos autos, mas a jornalista prometeu processar membros do Ministério Público, tidos por ela como “petistas de carteirinha, perseguidores”. Creiam, um dia a verdade aparecerá…
Um juiz a princípio duro na manutenção da prisão, reconhece agora haver “notícia de que a investigada passa por problemas de saúde, comprovados por relatórios médicos” e que “a situação deve ser objeto de ponderação”. Vou conter o choro!
Debilitada também está a saúde dos pais de Ana Alves, mas isso não importa mais. Aliás, se não se levou em conta antes, até por questões históricas – não me refiro à vida política e às realizações de João Alves Filho, mas ao que ele fez por tantos hoje “ex-amigos” dentro e fora do Poder –, seja por açodamento de uns ou pela vaidade de outros, agora nem caberia mencionar, se o faço é por entender que o prejuízo causado não terá reparação por qualquer remédio.
Enfim, libertaram Ana Alves, após uma semana detida. Uma prisão com “cheiro estranho”, muito “estranho”! Sigamos…



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