A DOR E A DELÍCIA
DE SER O QUE É
A deputada Ana
Lúcia Menezes integra a elite branca de Sergipe. De família
abastada, descende da nobre estirpe política e feudalista do Estado,
com residência num antigo casarão da Praça Tobias Barreto, zona
chique de Aracaju. Integrante do magistério público estadual –
apesar de pessoalmente não conhecer um único ex-aluno dela –, a
professora e deputada é o que se pode definir por “ícone” do
esquerdismo.
Para quem ainda
não sabe, o esquerdismo é uma tendência política sedutora,
sobretudo para quem se sente culpado pelas mazelas do mundo por causa
da própria riqueza, mesmo que nada tenha feito para construí-la.
“Basta abraçar um conjunto de crenças para ser visto (na
'comunidade', em particular a acadêmica pública) como – e para se
sentir – uma boa pessoa”, alguém “útil” à sociedade e em
sua defesa.
Vive-se nos dias
atuais a “ditadura velada do politicamente correto, cujos adeptos
buscam monopolizar as boas intenções e os fins 'nobres', em
detrimento do debate sobre os melhores meios para (atingir) tais
metas”. As aspas aqui e no parágrafo anterior pertencem ao
jornalista Rodrigo Constantino, no impagável Esquerda Caviar: a
Hipocrisia dos Artistas e Intelectuais Progressistas no Brasil e no
Mundo, livro que recomendo, a fim de promover no debate o
contraditório.
Ana Lúcia Menezes
age na toada do esquerdismo, quase sempre reinventando a realidade.
Hoje pela manhã, no rádio, a nobre sindicalista fez uma “denúncia”
grave: as manifestações de 15 de março contra o Governo Federal
decorreram da união mancomunada entre a direita brasileira e o
governo dos EUA. A militante de elite disse ainda que a Rede Globo
tem ideologia nazista e responsabilizou a emissora pela violência no
Brasil. Teria também parte com o Diabo? Ela não disse.
Aliás, a mesma
interessante “suspeita” sobre o envolvimento dos EUA e sua
agência de espionagem nos protestos teve o líder do PT na Câmara
dos Deputados, Sibá Machado, de que a CIA estaria por trás do
movimento, “coordenando a campanha pelo enfraquecimento dos
governos sul-americanos não alinhados, tal qual fizeram para
instalar ditaduras militares nos anos 1960”, conforme escreveu no
Facebook semana passada.
Não foi a
incompetência de Dilma Rousseff ou muito menos a roubalheira do PT
que levaram milhões de brasileiros às ruas em pleno domingo. Foi a
turma da Central Intelligency Agency.
Percebam como
funciona a cabeça desses esquizofrênicos da esquerda: eles nunca
erram; a culpa é sempre de alguém. Pode ser “das elites”, “da
crise econômica mundial”, “de FHC”, “da Globo”, “da
Veja”, “da imprensa golpista”. E agora também da CIA, essa
tarefeira cheia de vagabundos que, além de nos espionar – a nós e
ao resto do mundo, e isto é uma verdade incontestável –, vem
organizar protestos em massa pelo país. Danou-se...
Na mesma
entrevista, como se a demonstrar completa desinformação ou mesmo
inocência, a deputada do PT reclamou do uso simbólico da mão com quatro dedos como marca da campanha “Basta”, pois ela representaria o
“preconceito contra os deficientes”. Suja de petróleo, a mão
foi usada por Mula da Silva como jogada de marketing no lançamento
do Pré-Sal. Agora, foi apenas replicada, pois nada havia de melhor
para representar a sujeira e a corrupção na Petrobras.
Como ladrão bom é
ladrão atrás das grades, Ana Lúcia Menezes reclamou do tratamento
dado pelo Ministério Público e pela Justiça aos petistas
malfeitores, e já devidamente punidos – referiu-se ao Mensalão,
aquele caso do qual Mula da Silva diz sempre não ter sabido de nada.
Enquanto, por exemplo, vagam soltos e sem punição os malandros
pegos com a mão na botija pela Operação Navalha: “Vai
prescrever, é?”
Ainda bem que nós
também temos nossa esquerda caviar, aqui tão bem representada, para
trazer essas “novidades”.
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Por David Leite
©2015 | 23/03 às 13h45 | Reprodução permitida, se citada a fonte
| Clique na foto para ampliar | Foto: Secom GF | Com informações da
imprensa e fontes de pesquisa.
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