...
Domingo, 20 de Maio de 2012 | 17h00 | Polícia
Quem são os terroristas da Polícia Militar – a banda podre da corporação?

Trecho de “No caminho com Maiakóvski”, do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, recita o velho adágio. Apesar da truculenta arbitrariedade, o caso a envolver o conselheiro e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/Sergipe, o cantor e compositor Cláudio Miguel Menezes de Oliveira, sugeriu-me excesso descabido dos policiais militares, alto despreparo profissional e, talvez, até uma ponta de ressentimento – pensava eu, contudo, tratar-se de fato isolado, passível de severa punição, certamente; mas apenas isso: “um fato isolado!”
Na sequência, o episódio coator contra o jornalista César Gama... Apesar de também eivado de descabida prepotência e ressentimentos confessos – ainda no bojo das denúncias feitas por ele há quase 20 anos, expondo a comprovada existência na Polícia Militar do esquadrão da morte denominado “A Missão”, responsável por inúmeras mortes de bandidos e inocentes –, de forma idêntica, achei que seria mais “um fato isolado”, sem maiores consequências para a categoria profissional.
Ocorre que hoje, ao acompanhar a repercussão desses terríveis fatos nas redes sociais e sítios noticiosos – aliás, de forma geral, a vilania dos policiais em ambos os casos foi veementemente condenada pela maioria da sociedade em vários comentários –, deparo-me com a mais intrigante “informação”, publicada em meio ao comentário de alguém supostamente denominado “Soldado Oliveira”, em alusão ao ocorrido com César Gama.
Antes de tomar o texto (http://www.infonet.com.br/cidade/ler.asp?id=128412&pagina=1reprodução abaixo; clique na imagem para ampliar) como verdade verdadeira, convém relembrar as palavras no início deste escrito...
À parte o virulento ataque do tal “Soldado Oliveira” à língua portuguesa, a solidariedade com os “companheiros, em especial cabo Correia, por ter prendido o marginal da imprensa”, merece considerações, por conter inverdade caluniosa. César Gama tem, todos sabemos, uma corajosa história de combate ao autoritarismo, ao banditismo e ao maucaratismo, motivo pelo qual angariou inimigos nefandos, sobretudo no âmbito das Polícias Civil e Militar, razão pela qual foi autorizado a portar arma, a fim de defender-se – direito assegurado pela Constituição.

O jornalista possui ainda um currículo invejável, com sólida formação em biologia e filosofia, além de militar como psicanalista terapeuta e ser um pesquisador respeitado. Não é, portanto, um “marginal da imprensa”. Ao contrário, é caçador de marginais, inclusive – e talvez daí a má querência – de bandidos fardados. César Gama, contudo, foi definido pelo cabo Correia, em tom acusatório e sem o mínimo constrangimento, de ser “inimigo da Polícia Militar”.
Somos todos, então, aqueles que se ressentem das evidentes e abusivas arbitrariedades, inimigos da Polícia Militar. Mas de qual Polícia Militar? Da que não se respeita e não respeita, da que espanca e mata, da que sugere “prender autoridades todo dia, para forçar o governo da tranca do Marcelo HITLER Chagas a nos dar tíquete alimentação, carga horária de 30 horas, terço aos 25 anos, adicional noturno, adicional de qualificação, isonomia com a Polícia Civil.”
Quem será na verdade o tal “Soldado Oliveira”, esse terrorista? Será mesmo um policial ou apenas mais um outro marginal disfarçado de policial, pronto a radicalizar? Alguém que diz “Temos que atingir a jugular do ditador (Marcelo Déda) com essas prisões de VIPs” precisa ser seriamente investigado. Os bons policiais militares de Sergipe, certamente, não concordam com os “companheiros das associações unidas por mais essa brilhante ideia”. Que ideia...
Sendo verdade o que disse esse fundamentalista nominado “Soldado Oliveira”, a coisa toda muda de figura. Haveria de fato uma ação terrorista orquestrada para desestabilizar a cadeia de comando e forçar o governo a atender a agenda de reivindicações das “associações unidas” da Polícia Militar? Quem comandaria esse núcleo? De onde realiza suas operações e sob que circunstâncias? O comandante da PM, coronel Maurício Iunes, pretende se pronunciar? O governador Marcelo Déda vai reagir?
Por tantas demandas, decidi que ficar calado seria cooptar – algo que não é do meu feitio. Até porque, pelo que sugere o “Soldado Oliveira”, podemos nós, também, ser desafetos passíveis de detenção arbitrária (ou coisa pior), bastando ter à frente um policial militar aloprado. 

Nenhum comentário: