Quinta-feira, 01 de Março de 2012 | 12h50 | Eleições 2012
Quem perde e quem ganha com a trairagem a Marcelo Déda

Como disse um certo twitteiro, “traição é igual a consórcio; um dia você acaba contemplado”. Quem acompanha a política de Sergipe tinha informação prévia sobre o rompimento da aliança entre o grupo comandado por Marcelo Déda e a penca de partidos sob a mão-de-ferro de Edvan Amorim. A questão é que não se esperava para tão cedo e de maneira abrupta...
A governabilidade, graças ao modelo político-partidário em uso no Brasil, obriga governantes a lidarem com parceiros nem sempre unidos por laços republicanos. Vejamos o caso do deputado Doutor (ele gosta de ser chamado assim) Rogério Carvalho, sem dúvida o candidato do PT à Prefeitura de Aracaju. Coronel em Sergipe do PHS, uma agremiação nanica, ele tem afilhados pendurados numa secretaria da gestão do jornalista Fábio Henrique, em Socorro. Será que o parlamentar romperá com o prefeito, hoje aliado incondicional do senador Antônio Carlos Valadares, acusado pelo PT de ser coadjuvante na rasteira dada pelos Amorim no governo?
Numa reunião realizada ontem, o grupo dos irmãos Amorim decidiu entregar todos os cargos do governo – nem precisava, pois o próprio Marcelo Déda já promove a limpeza geral. Decidiu também que “não irá radicalizar”. Trocando em miúdos: “pretende votar a favor de projetos do interesse público e contra aqueles que prejudiquem o povo e os servidores estaduais”. Decidiu ainda manter a “nova” bancada independente, inclusive elegendo um líder.
Com essa arrumação política inusitada, quem ganha e quem perde com a implosão da bancada governista, após a eleição extemporânea da mesa diretora da Assembleia Legislativa? A primeira grande vitoriosa é a deputada-presidente Angélica Guimarães, pois assegurou o cargo até 2014. Outro grande vencedor é Marcelo Deda... Por mais estapafúrdia que tal assertiva possa parecer, após o susto inicial, o governador deu graças aos Céus por ter recebido o tombo de segunda-feira.
Desde os primeiros momentos, a militância do PT não engoliu o acordo “pela governabilidade”, firmado entre os agora litigantes. Porém, como se sabe, seria por demais temeroso a Marcelo Déda tentar a reeleição sem ter o apoio dos irmãos Amorim – não se deve esquecer, o senador teve votação muito superior a do governador... Por outro lado, ninguém ignora a composição que vem sendo realizada por Edvan Amorim para eleger o maior número de prefeitos sob seu comando, visando a preparar o terreno para 2014, quando pretende fazer do irmão o próximo governador.
Ao antecipar uma jogada que teriam de fazer mais cedo ou mais tarde, os irmãos Amorim deram ao governador o “motivo” que este tanto almejava para voltar-se à militância do PT, dando ao seu partido um novo fôlego, essencial na busca de manter-se como força hegemônica em Sergipe. Portanto, ganha também o PT e seus prováveis candidatos a prefeito e vereador, agora livres da concorrência que lhes sangrava cargos e vantagens políticas e econômicas (a tal da “máquina pública”) dentro do seu próprio governo.
Obviamente, quem também ganha com o rompimento são os irmãos Amorim. Nas palavras do senador Eduardo Amorim – “É preciso haver o diálogo, pois amigo não é aquele que diz amem a tudo e sim aquele que aponta o problema e apresenta solução” – a comunicação (nas entrelinhas) sugere um recado claro: a partir de agora, como será cada um por si, as necessidades do governo terão pesos diferenciados... Sem compromissos formais prévios, de hoje em diante Marcelo Déda terá de ser bem mais humilde e generoso ao negociar com as muitas bancadas na Alese – a maioria controlada ou influenciada por Edvan Amorim –, se quiser manter-se politicamente vivo até 2014, como fez Albano Franco, ao passar por vexame semelhante em 1999.
Quem perde? Em parte, o próprio governador, pelo que se disse logo acima. Também perdem os irmãos Amorim, cuja vantagem auferida da máquina pública terá de ser agora garimpada etapa a etapa, via de regra em exaustivas negociações. Perde ainda o senador Antônio Carlos Valadares, mais uma vez publicamente exposto como inconfiável, vindo a confirmar a definição feita pelo deputado Almeida Lima no escrito “Os óio da cobra verde”, onde diz: “O senador Valadares, dono de uma ficha vastíssima de traições e de outras maldades políticas..., chega a ser um exemplar raríssimo da espécie. Uma peça difícil de ser vista, excêntrico por natureza! Quase uma figura sui generis...”
Quem nada perde, e talvez tenha até algum ganho político é o provável candidato do DEM a prefeito de Aracaju, o ex-governador João Alves Filho. Tido pela população, segundo pesquisas, como “tábua de salvação” ao engodo das gestões do PT e do PCdoB de Edvaldo Nogueira, ele segue em céu de brigadeiro, tocando em silêncio sua campanha – apesar de ter, com os votos da bancada da oposição, “ajudado” Marcelo Déda e Edvan Amorim a engendrar seus planos de livrar-se um do outro.
Longe, aos olhos do respeitável público, do picadeiro e das rasteiras que implodiram a base governista – e observando o império do PT tentando se reinventar, para ao menos chegar unido e eleitoralmente capacitado até outubro –, o Negão pode inclusive se dar ao luxo de, caso seja questionado sobre o tema, gargalhar homericamente – uma de suas inseparáveis características – e dizer, com certa irônica danação: “Nessa briga de brancos, eu não me meto.”

Nenhum comentário: