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Domingo, 04 de Março de 2012 | 18h00 | Livros
Privataria Tucana”, mais um livro-panfleto
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Palavras de Oscar Wilde: “As boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma.” Parcela expressiva da imprensa brasileira está contaminada por gente de “boas intenções”, uma cambada nutrida pelo poder de plantão, a serviço de conglomerados econômicos, governos e partidos...
A imprensa é um fenômeno recente. São mais ou menos 300 anos de história – e no início, já havia o propósito de servir à sociedade burguesa e suas atividades lucrativas. Esta primeira fase, entre os séculos XV e XVI, foi marcada principalmente por dois fatores decisivos para sua evolução: a escolaridade (grande parte da população era analfabeta) e o poder aquisitivo (o papel impresso era muito caro).
O acesso à informação de qualidade, mesmo nesta Era da Informação” gratuita – e havendo uma maioria absoluta de pessoas letradas, apesar de isso não significar que pensem de modo independente –, exige do cidadão comum atenção redobrada com as letras impressas em papel ou postadas em sites e blogs. Saber separar o “joio” do “trigo” tem sido uma tarefa cada vez mais complexa...
Lançado ao final de 2011, sucesso na lista dos “Mais Vendidos” da revista Veja, “Privataria Tucana” (343 páginas, Geração Editorial), do jornalista Amaury Ribeiro Jr., deveria ser um livro-bomba, com “segredos e verdades sobre o maior assalto ao patrimônio público brasileiro”. Mas é apenas um livro-panfleto, dedicado a provar a tese (furada) dos petistas, segundo a qual o único (e “maior”) benefício das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso foi enriquecer os barões do tucanato.
Muita sujeira, de fato, ocorreu no âmbito das privatizações, podendo ser resumidas no diálogo de Ricardo Sérgio de Oliveira, controlador das finanças nas campanhas de FHC e José Serra, com o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, tratando sobre a privatização das operadoras de telefonia: RSO - “Nós estamos no limite da irresponsabilidade.” LCMB - “É isso aí, estamos juntos.”
Mas, afinal, qual seria a “novidade”, os tais “segredos e verdades” de “Privataria Tucana”? Uma penca de documentos a unir familiares e amigos do então ministro da Saúde de FCH, José Serra, cujos laços com empresas de fachada – provavelmente usadas para lavagem de dinheiro – o deixam numa situação bastante desconfortável. Por que, então, lançar o livro exatamente às véspertas do pleito eleitoral de outubro? Pimba! Lula da Silva tem um candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Hadad, um sujeito sem votos, mas com um grande cabo eleitoral...
O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. presta-se ao valoroso serviço de espalhar inúmeras cascas de banana no caminho de José Serra, de quem se pode dizer tudo, menos alegar “santa inocência”, sobretudo diante de tantos documentos – alguns, diga-se, foram contestados por familiares do ex-governador e o jornalista defendeu-se dizendo serem todos cópias de material oficial colhido em fóruns, cartórios, juízos... Ponto para Lula da Silva.
Assim, recomendo cautela a quem decidir ler o bólido. Ao centrar toda a patifaria supostamente ocorrida no período das privatizações de FHC apenas na figura do ex-ministro José Serra, seus familiares e amigos, como se o hoje candidato tucano fosse o grande “mafioso” do pedaço – o que se sabe, é uma deslavada mentira –, “Privataria Tucana” expõe sem meios termos a missão a que se devota!
Mais uma danação sem estofo político factual de um membro da turma aloprada  da  grande imprensa nacional  muito bem sevado, aliás – a serviço do poder da hora...

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