Terça-feira, 10 de Novembro de 2009 – 00h25

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>> Jackson Barreto é Vaiado por Mais de 600 Vereadores

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Jackson Barreto é Vaiado

por Mais de 600 Vereadores

O nobre deputado Jackson Barreto é conhecido no Brasil inteiro pela voz rouca, pela quilométrica ficha corrida e por ter desde muito jovem sabido enfrentar com galhardia situações bastante duras de sua vida. Mas nem mesmo o experimentado JB estaria plenamente preparado para receber “sem vaselina” a vaia mais original jamais dirigida a um político sergipano.

Na sexta-feira, algo como 680 vereadores de todo o estado reuniram-se na Fazenda e Haras Boa Luz. Discutiram sobre a “PEC dos vereadores”, a redução da receita das prefeituras e do orçamento das câmaras municipais para 2010, além da criação da Federação dos Vereadores de Sergipe. Não era o ambiente adequado para Jackson Barreto desfilar a tez ensolarada e a gravata cor de rosa-bebê...

Explico: os deputados federais de Sergipe –a exceção de Albano Franco, que espertamente fugiu do plenário antes do pleito– votaram a favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que aumenta em cerca de sete mil o número de vereadores em todo o país. A PEC desagradou sobremaneira os atuais parlamentares, pois ao ampliar as vagas de edis e reduzir o valor do duodécimo, atingirá já a partir de 2012 o ponto mais atraente na carreira de vereador: as verbas de gabinete.

Além de Albano Franco, presente por razões óbvias, o único outro deputado a dar o ar da graça na Boa Luz foi Jackson Barreto. Chegou de surpresa e logo foi convidado pelo dirigente do evento, vereador Emanuel Nascimento, para fazer uma saudação aos presentes. O nobre deputado, contudo, conseguiu apenas balbuciar umas poucas e rápidas palavras. Foi interrompido por uma dilacerante vaia, engrossada pelo coro de quase 700 personalidades.

Visivelmente abalado, e aparentando não ter entendido o motivo para tão avantajada paulada, o outrora sorridente Jackson Barreto fechou a cara, amarrou o rabo entre as pernas e saiu pela culatra do palco, indo refugiar-se bem longe dos olhares da enervada plateia, enquanto Emanuel Nascimento tentava conter os fogosos colegas. Minutos depois, Jackson Barreto sumiu da Fazenda Boa Luz sem deixar rastro...

A questão incômoda é a seguinte: como alguém com o cabedal político de Jackson Barreto, especialmente ele tão calejado no maltrato aos adversários e nas ações de bastidores, permitiu-se ficar frente a frente com uma audiência declaradamente hostil? Como já mencionado, apenas o dúbio Albano Franco, eternamente em cima do muro, poderia enaltecer os vereadores sem risco de levar tomate. Tanto é que nenhum outro deputado federal compareceu ao evento.

Agora, além da cassação do mandato de prefeito de Aracaju acusado de corrupção, da quilométrica ficha corrida que o faz o segundo parlamentar brasileiro no ranking dos fichas sujas no Congresso nacional, da voz rouca e do conhecido gosto por remexer panelas, Jackson Barreto adenda à sua biografia o ignóbil feito de ser o político sergipano que recebeu a maior vaia, não de uma plateia qualquer, mas dos próprios colegas políticos. Essa vai entrar para a História...

Após o evento, Emanuel Nascimento comentou que não havia convidado Jackson Barreto para comparecer a Fazenda Boa Luz por saber da contrariedade dos vereadores com os deputados. Ele foi na cara dura e se ferrou... Tomara que tenha aprendido a lição.

Anjo da Guarda – Pode-se dizer sem medo de errar que o ex-governador e atual deputado federal Albano Franco é um homem de corpo fechado. Minutos antes da votação da “PEC dos vereadores”, o parlamentar foi avisado pela vereadora Mirian Ribeiro que o projeto desagradava 100% dos hoje vereadores e, portanto, Albano Franco deveria dar um jeito de votar contra. Mas se tem o corpo fechado, outra característica inerente ao ex-governador é a dúbia dissimulação. Para evitar dizer “sim” ou “não”, Albano Franco preferiu abster-se. Ficou bem com gregos, troianos e baianos. Ele não é bobo.

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600 Podem ser 300 Mil – Fazendo uma média, ou seja, somando a votação de um pela do outro, cada vereador de Sergipe recebeu algo como 500 votos para eleger-se. Se multiplicarmos o número de votos dessa minha média pelo número de parlamentares que vaiaram Jackson Barreto na Boa Luz (uns 600, digamos), temos aí o surpreendente saldo de 300 mil eleitores. Traduzindo: como cada vereador representa um número “x” de cidadãos, a vaia recebida pelo probo deputado equivaleria ao repúdio de 1/5 da população eleitoralmente ativa de Sergipe. Que coisa...

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Quem Seria o Maestro? – A vaia aplicada em Jackson Barreto soou tão uníssona que mais parecia algo ensaiado. Surgiu sem pressa, foi ganhando corpo e contaminou toda a plateia em questão de segundos. Quem teria sido o articulador do repúdio? Melhor ainda, quem teria sido o competente maestro do afinado coral? Sem dúvida, o cara é bom.

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