Quinta-feira, 12 de Novembro de 2009 – 21h35

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>> Quero Morar na Propaganda do Governo de Sergipe II

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Quero Morar na Propaganda

do Governo de Sergipe II

Deputado Rogério Carvalho: médico, mestre, doutor em Saúde Pública, professor da UFS, fiscal do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Importado de Ribeirão Preto (SP) para “atuar” em Sergipe, o secretário estadual de Saúde tem desamor pela crítica. O “companheiro” sofre horrores, bate na mesa, fica nervosinho, incontrolável, quando dele alguém discorda ou se lhe divulgam as inúmeras peripécias.

Rogério Carvalho fez publicar no Jornal da Cidade (01/11) um anúncio disfarçado de matéria jornalística no qual sofismava: “Sergipe é o que mais investe em saúde. Proporcionalmente, o Estado está à frente de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais em recursos destinados ao setor”. Diz a “propaganda”, são R$ 300 milhões investidos em 17 novos hospitais, num número inédito de clínicas da família, no aumento do número de ambulâncias do Samu estadual –28 para 59– e na reforma completa do Huse (Mas Não Abuse Porque Não Aguenta).

O Cinform (09/11) resolveu averiguar esse tal “mundo maravilho da saúde pública estadual”, pregado por Rogério Carvalho. Deparou com a calamitosa realidade de sempre. O semanário constatou a flagrante falta de condições de trabalho para os profissionais de saúde. Como atender a população com mínima dignidade se falta até material ambulatorial?

Quero morar na propaganda do Governo de Sergipe. Lá é tudo maravilha. Tão diferente do dia a dia...

Vem de longe o pendor de Rogério Carvalho pela embromação. Basta lembrar dos hospitais construídos por ele quando Marcelo Déda era prefeito de Aracaju. Uma semana depois de inaugurados com shows superfaturados (“Micareta Picareta”, revista Veja de 10/05/2006), foram rebaixados pelo Conselho Regional de Medicina para a categoria “posto de saúde”. Neles faltavam equipamentos básicos para o funcionamento rotineiro de verdadeiros hospitais, como aparelhos de Raio “X”.

Rogério Carvalho adora fachadas pintadas de vermelho e prédios decorados com recepções semelhantes às de hospitais e clínicas privadas. Mas é sovinamente muquirana com o básico: sem estrutura material (equipamentos e medicamentos) e recursos humanos devidamente preparados e dispostos, não se faz saúde de qualidade. Nem aqui nem em Marte –e nem em Ribeirão Preto!

Rogério Carvalho é o fracasso persistente, dotado de impenetrável coro grosso. As mortes de mais de 60 crianças em decorrência da sujeira da Maternidade Hildete Falcão, num período de 60 dias em 2007, caíram no completo esquecimento. Outras dezenas de adultos sucumbiram nas UTI do Hospital João Alves pelo mesmo motivo e ninguém foi punido.

No seu blog (09/11), o jornalista Ricardo Marques*, editor e âncora do SETV, o telejornal da TV Sergipe/Rede Globo, relatou o fato cruel denunciado por uma médica do Huse na semana passada. Dezessete (17) crianças morreram nas últimas três semanas no setor pediátrico do Hospital João Alves Filho, transferido para a antiga Hildete Falcão. Isso mesmo, 17 crianças mortas em apenas três semanas na mesma famigerada, imunda, hedionda Maternidade Hildete Falcão.

A diretora da unidade, Eda Machado, confirmou as mortes e as justificou com singela frieza: “Os óbitos estão um pouco acima da média porque a unidade atende muitas crianças”. Diante de tão macabra imoralidade, Ricardo Marques resolveu procurar a promotora Miriam Tereza no MPE (Ministério Público Estadual), repartição supostamente responsável por fiscalizar os serviços de saúde pública, obrigando-os a funcionar num nível mínimo de civilidade.

Conta o jornalista: “Não sei se foi impressão minha, mas percebi um ar de frustração nas palavras dela. Disse que não poderia ir a todos os hospitais, que era sozinha e pediu para que a população denuncie. Fiquei surpreso com a resposta, afinal é o que a população mais tem feito (...) não dá mais para fazer reuniões e ouvir o mesmo discurso: ‘em 60 dias resolveremos a questão’. É hora de ações mais efetivas, independentemente se vai causar estrago para o governo”.

Eis a questão: enquanto a população pobre experimenta o “projeto de mudança”, emprestando vez por outra até a própria vida, para não lhe estragar o dia, o secretário Rogério Carvalho, que detesta crítica e abomina o contraditório, tem sido poupado de incômodas perturbações.

A saúde pública em Sergipe sempre foi alvo de rotineiras manchetes, fosse quem fosse o governador. Porém, nunca a situação foi tão medonha nem aviltante como na gestão de Marcelo Déda. Na edição de ontem, o Jornal da Cidade** apresenta um resumo das mortes ocorridas na Urgência Pediátrica do Huse entre junho e outubro deste ano: 102 no total. Para o Sindicato dos Médicos de Sergipe, “por ser uma unidade de alta complexidade, o Hospital João Alves Filho deve oferecer recursos e serviços compatíveis à gravidade das patologias dos pacientes”. Traduzindo: se não o faz é por mera incompetência e ponto final.

Diante de quadro tão dolorosamente dantesco, o mundo real ficou insustentável para quem é pobre e depende exclusivamente dos serviços médicos e hospitalares do Governo da Mudança para Pior. A única saída viável é morar na propaganda do Governo de Sergipe. Lá é tudo maravilha. Tão diferente do dia a dia...

Refrescando a Memória – Marcelo Déda recebeu do ex-governo um prédio zero quilômetro onde deveria funcionar o Hospital Pediátrico Dr. José Machado. Rogério Carvalho simplesmente derrubou paredes, modificou a estrutura e transformou o edifício numa nova ala do Hospital João Alves Filho, mandando às privadas o projeto inicialmente concebido. O MPE entrou com ação na Justiça para tentar conter a insanidade, mas acabou “convencido” de que usar a Maternidade Hildete Falcão como unidade pediátrica de urgência seria a solução ideal...

(*) Veja o texto completo de Ricardo Marques e o vídeo com a denúncia da médica em http://ricardomarques.blog.emsergipe.com.

(**) Veja o texto completo do Jornal da Cidade em http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=47422#T+.

Veja ainda num escrito logo abaixo, sob o título “Quero Morar na Propaganda do Governo de Sergipe”, o vídeo “Quero Morar na Propaganda do Governo da Bahia”, que ilustra com fidelidade como a população daquele querido estado, numa similitude desconcertante com o caos vivido em Sergipe, foi enganada pelo PT de Jaques Wagner.

Um comentário:

Juvenal disse...

O Cinform quer é dinheiro do governo. Se o governo estivesse pagando o que eles devem estar querendo, não haveria crítica nenhuma. Eu conheço aquele esquema.